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Crítica | Capitão América: Branco

por Kevin Rick
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Capitão América: Branco

Um dos maiores problemas da Nona Arte em relação às histórias de super-heróis da Marvel e da DC encontra-se na falta de urgência, de risco e de consequências. Isso se dá muito pela banalização da morte nesses Universos, que assumiram uma identidade, até comumente ironizada por fãs, de nunca matar suas criações, e quando o fazem, é bastante raro que o personagem passe muito tempo sem retornar de uma forma milagrosa. Dessa forma, um dos maiores e mais fortes elementos de uma narrativa se torna piada ou simplesmente causa indiferença ao leitor. Assim sendo, sempre que um autor de quadrinhos das duas grandes editoras consegue conceber uma obra que toca em morte, luto e o impacto da perda nos heróis de modo original e sentimental, eu sinto uma pontinha de curiosidade e apreço pela proposta que, infelizmente, se tornou atípica na Marvel e na DC.

É partindo dessa ideia que a dupla Jeph Loeb e Tim Sale criaram a “quadrologia das cores”, uma série de obras que partem da premissa de grandes perdas para personagens famosos da Marvel, em Homem-Aranha: Azul, Demolidor: Amarelo, Hulk: Cinza e, no caso da presente crítica, Capitão América: Branco. A HQ acompanha Steve Rogers falando “com” e sobre Bucky Barnes, seu antigo sidekick que morreu em ação, deixando o Capitão para sempre marcado com a culpa e o remorso. A concepção das minisséries escritas por Loeb se baseiam no arrependimento e no efeito das escolhas erradas de heróis, humanizando e expressando a parte da trágica da profissão. E o Steve encapsula isso com mais fervor que muitos super-heróis sendo o epítome dos princípios corretos, a simbologia americana da perfeição e a personificação da virtude. Daí a “cor” do quadrinho, branco, utilizada dentro do conceito de preto no branco para trabalhar a narrativa em torno  de um Steve Rogers bem longe de ser tão simples.

Capitão América: Branco

A grande força do roteiro está na construção da amizade, com um quê de paternidade, entre Steve e Bucky, no qual Loeb tem êxito em transpor o espírito quebrado e a dor do protagonista. A história em si, uma série de aventuras da dupla junto de Nick Fury e o Comando selvagem, é previsível e simples, mas ela nunca verdadeiramente importa, pois o argumento principal acontece na composição do relacionamento de Steve e seu protegido. O modo como Rogers enxerga o garoto, e suas próprias escolhas em treiná-lo e deixá-lo participar da Guerra, são entregues em ótimos diálogos, narração e visuais estonteantes na arte cartunesca de Sale, entregando o clima de nostalgia, pesar e sentimentalismo, que é até um pouquinho forçado, mas tem sucesso em apresentar a importância de Bucky para Steve.

Contudo, a minissérie tem uma série de problemas, deixando-a bem aquém de Homem-Aranha: Azul Demolidor: Amarelo. Primeiro que o fato de Bucky ter sido revivido na run de Brubaker tira um pouco da força do quadrinho, apesar do contexto ser a dor do personagem antes desse conhecimento. Mas a grande dificuldade da narrativa é o próprio Bucky, pois nós ouvimos muito dele, vemos muito ele, mas nunca aprendemos sobre ele em si. A caracterização do personagem é extremamente simbólica do ponto de vista incólume do Capitão, o que termina por nos distanciar do ajudante, diminuindo o impacto geral da obra, já somando-se àquele fato do Bucky não estar mais morto. E a estrutura da história, focada em monólogos, não ajuda no ritmo e imersão da leitura.

Capitão América: Branco é uma HQ redondinha, bem na fórmula sentimental por assim dizer, mas que acaba sendo um refresco nestes universos que continuamente banalizam a morte e a perda. A escrita de Loeb segue todas as “regras” esperadas de uma história de luto, mas os diálogos, o ótimo protagonista, o contexto histórico bem trabalhado e nostálgico na bela arte de Sale, preenchem a falta de impacto e originalidade da obra. Uma HQ sobre essa bela amizade, e a importância/culpa dela pelos olhos de um melancólico Steve Rogers.

Capitão América: Branco (Captain America: White | EUA, 2008)
Roteiro: Jeph Loeb
Arte: Tim Sale
Cores: Dave Stewart
Letras: Richard Alan Starkings
Capa: 
Tim Sale
No Brasil: Panini; 1ª edição (30 setembro 2019)
Páginas: 160

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