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Crítica | Capitão Feio – Identidade

por Luiz Santiago
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Em seu projeto mais diferente lançado até agora, o selo Graphic MSP chega à 16ª one-shot com a reapresentação do Capitão Feio, vilão que estreou na peça A Turma da Mônica Contra o Capitão Feio, no Teatro Aquarius (há inclusive uma boa referência a isso, na placa de destino de um ônibus, marcando “T. Aquarius”) em outubro de 1972  e, no mês seguinte, nos quadrinhos, na revista Mônica #31, da editora Abril. Sem memória e sem saber muito bem como utilizar seus poderes, Feio é representado nessa história como alguém solitário, rejeitado e, como o título nos indica, à procura de sua identidade.

Os gêmeos Magno e Marcelo Costa (roteiro e arte, respectivamente) encenam um pouco a problemática de “história de origem”, mas sem fazer realmente uma história de origem. E talvez este seja o ponto onde muitos leitores de Identidade irão se distanciar da obra. Quem espera justificativas anteriores para o que o Capitão Feio faz; como ele conseguiu seus poderes e como desapareceu do lar e acabou no lixo, certamente ficará insatisfeito, já que a trama não oferece nada disso. Mas não quer dizer que esta é uma história ruim. Pelo contrário. Seguindo a proposta de descoberta de identidade, o roteiro aborda como o Capitão Feio, que não sabia exatamente quem era, acaba ganhando o status e a motivação para ser um vilão, tendo aí referências conceituais do “dia ruim” vindas de A Piada Mortal. Inicialmente ele só queria ajudar. Mas não deu.

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Aquela referência ao filme Poder Sem Limites que você respeita.

A graça de Identidade é justamente essa deixa narrativa para ser completada por histórias posteriores do personagem. E quanto à construção do enredo, é como se estivéssemos vendo um desenho animado a partir do ponto onde a população conhece o vilão e chama-o de vilão pela primeira vez, mas não pela forma simples da “jornada” que normalmente marca essas histórias, sendo o indivíduo mostrado em seu estágio normal (e talvez “feliz” de vida), marcando-se por um determinado evento e mudando completamente de figura e ações.

Somemos a isto o fato de o Capitão Feio não ser exatamente o tipo de vilão “detentor de todo o mal” mesta aventura. Ele sabe que tem poderes, mas não entende o tamanho deles ou o que mais pode fazer além de voar e lançar poeira/sujeira nas pessoas, carros, aviões e helicópteros. Ao longo da trama, vemos o personagem descobrindo novas maneiras de manipular o lixo e, infelizmente, aprendendo que não é nem um pouco recebido na cidade, pois é maltrapilho e fede bastante, além de sujar todo o lugar. Ele descobre também que quanto mais sujo o espaço, mais poderoso ele fica. Todas as cartas para um bom vilão e a dinâmica de seus poderes estão na mesa.

Nessa caminhada de solidão e entendimento do protagonista, vemos a arte e as cores de Marcelo Costa acompanharem com bastante competência o Capitão, enchendo os quadros de referências cênicas (Action Comics #1, Watchmen), temáticas (Homem-Aranha, Akira, Maus) e easter-eggs como Dalek, Darth VaderGodzilla e até personagens do próprio Universo dos quadrinhos do Mauricio de Souza, como os cameos do Astronauta, Jotalhão, Capitão Pitoco e Cascão, isso só para citar alguns. Há um realismo claustrofóbico nos desenhos de Marcelo Costa que cabe perfeitamente nesta temática, situação ressaltada pelas cores opressivas aplicadas à cidade (ressaltadas pela presença do lixo espalhado pelo Capitão Feio e contrastadas pela a presença do Doutor Olimpo, seu ambiente de trabalho e as ordens recebidas diretamente do prefeito para dar prioridade máxima ao caso). A linha de ação que atravessa os quadros é outra ótima execução do artista, que equilibra bem os momentos de grande movimentação junto aos de reflexão, onde o cenário é retirado dos quadros, ficando apenas o personagem em um momento decisivo.

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Um rejeitado a caminho da vilania…

Com boa inserção da mídia televisiva e reação quase bovina das pessoas diante de qualquer bizarrice que acontece, procurando tirar fotos, filmar e colocar em redes sociais, Identidade é a história de como alguém com um poder estranho é rejeitado e, sem memória ou maior suporte que lhe ajude a mudar de caminho, perde-se por completo ao ser enquadrado pelos outros em uma condição “X”. O enredo perde um pouco justamente pelo isolamento narrativo em situações que, se vistas pontualmente, são ótimas, mas não conseguem segurar uma ampla trama sem nos fazer perguntar muito mais do que deveríamos, dada a pequena quantidade de informações.

Embora ainda preferisse uma história mais fechada, posso dizer que Identidade não decepcionou. E, pela primeira vez nas publicações dos encadernados das Graphic MSP, eu me vi diante de um cliffhanger no melhor estilo “novelão” (sentido positivo da palavra), onde informações essenciais do caso ou dos personagens são deixadas propositalmente para o futuro. Que venham as continuações!

Capitão Feio – Identidade – Brasil, 2017
Graphic MSP #16

Roteiro: Magno Costa
Arte: Marcelo Costa
Cores: Marcelo Costa
Editora: Panini Comics, Graphic MSP, Mauricio de Souza Editora
Páginas: 98

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