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Crítica | Capsized – Sangue na Água

por Leonardo Campos
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Um filme sobre resiliência e luta pela sobrevivência. Capsized – Sangue na Água não é propriamente um filme de tubarões assassinos, mas um filme sobre a busca de um grupo pela manutenção de suas próprias vidas depois de um naufrágio, tema já explorado exaustivamente pelo cinema de aventura e terror. Diferente do que imaginamos previamente, a produção está longe de ser tediosa. O elenco envolve, o ritmo é dinâmico, mesmo diante do espaço cênico limitado, e os tubarões, sem CGI comprometedor, fazem o banquete dentro das possibilidades de sua estrutura natural, sem mutações genéticas ou liberdades ficcionais diversas. A espécie em cena é o tubarão-tigre, conhecido por comer de tudo que encontra pela frente, desde os animais prediletos de sua dieta ao lixo expelido por humanos inconsequentes no oceano. Eles patrulham o bote do grupo durante todo o filme, mas não protagonizam o drama, também voltado aos relacionamentos humanos em situações de forte pressão, dentre outros temas gravitacionais.

Não protagonizar não significa que a sensação de perigo seja menos relevante. Eles são o principal obstáculo para os sobreviventes, desafio somado ao longo tempo à deriva, bem como a ausência de alimento e água potável para consumo. Inspirado numa história verídica, revisada pelo olhar de uma das testemunhas dos momentos desesperadores, Capsized – Sangue na Água estreou na Semana dos Tubarões do Discovery Channel, evento anual que se preocupou em não transformar os animais em questões em monstros estereotipados do cinema, colocados aqui como criaturas em seu devido espaço natural, agindo conforme os instintos. Quem dirige esse espetáculo de tensão sobre uma tempestade que vira um iate pelo avesso é Roel Reiné, o responsável por orquestrar a ação durante seus 86 minutos, realizador inspirado no roteiro assinado por Tim W. Kelly e Stephen David, dupla que se baseou no argumento de Jonathan Soule. A iniciativa do canal, diferente do que se faz constantemente no campo documental, evitou demonizar os bichos.

Com dupla função, Roel Reiné também assume a direção de fotografia repleta de cenas subaquáticas, todas filmadas em estúdio, com os tubarões em CGI, perfeitamente realistas, sem os excessos já esperados deste segmento ficcional. Ele capta as imagens do elenco inicialmente com muitos planos abertos, numa exaltação do mar, para depois investir em muitos pontos de vista, closes, dentre outros quadros que delineiam a sensação de pavor dos personagens colocados diante de uma situação imensamente desafiadora, momento que para alguns, foi derradeiro na condução de suas jovens vidas. A base da história original foi modificada para fins narrativos, mas Capsized – Sangue na Água manteve-se constantemente associado ao conteúdo biográfico já transformado em telefilme em 1997, além de ter sido episódio da série Shark Survivor. Deborah Kelly é a testemunha ocular, uma das sobreviventes, autora de Albatroz – A Verdadeira História de Sobrevivência de Uma Mulher ao Mar, publicação que inspirou as produções mencionadas.

Acompanhamos, ao longo da narrativa, um grupo ao mar em outubro de 1982. O iate Trashman navegava do Maine para a Flórida quando foi acometido por uma tempestade gigantesca no período noturno, espetáculo da natureza com ondas altíssimas que sacolejou a embarcação o máximo que podia, até fazê-la sucumbir, junto com sua tripulação. Jogados ao mar infestado de tubarões, com um dos sobreviventes feridos a derramar sangue e promover o frenesi dos seres aquáticos, o grupo precisou lidar com a desidratação, o cansaço e a falta de esperança quando o tempo na água ultrapassa qualquer limite suportável e a falta de esperança num desfecho feliz é cada vez maior. A partitura da trilha foi produzida pelo Extreme Music Studio, eficiente e sem muita intrusão. Os efeitos visuais, supervisionados por Laurens Bekaert, dão conta dos tubarões, do horizonte e da tempestade, sem excessos, com tudo muito equilibrado, tal como a dosagem de sangue na água, econômica, tendo em vista fugir do convencional. Ah, Josh Duhamel interpreta o capitão da embarcação, numa participação carismática e atraente, como sempre.

Capsized – Sangue na Água — (Capsized – Blood In The Water – Estados Unidos, 2019)
Direção: Roel Reiné
Roteiro: Stephen David
Elenco: Tyler Blackburn, Beau Garrett, Josh Close,  Rebekah Graf,  Josh Duhamel
Duração: 93 min.

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