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Crítica | Cascão – Temporal

A tempestade, o relógio e a imaginação.

por Luiz Santiago
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Temporal é um título muito propício àquilo que Camilo Solano faz com o seu personagem favorito, dentre os criados por Maurício de Sousa, neste volume. O próprio “pai” do Cascão fala sobre isso no texto de introdução de mais esta Graphic MSP, aludindo ao fato de que o “temporal” do título pode referir-se à grande chuva que cai na cidade, no momento em que o sujinho da Turma precisa ficar na casa do tio Gérson, enquanto seus pais fazem uma viagem de cruzeiro por três dias; mas também pode referir-se ao tempo cronológico, à sensação incômoda de que o tempo passa rápido demais quando a gente está se divertindo, ou lento demais quando a gente está entediado ou sofrendo, de alguma forma.

Solano faz uma porção de referências narrativas e visuais ao longo de toda a saga (como é muito frequente nos volumes da MSP), começando com uma conversa simpática entre Cascão e Cebolinha, citando o Hotelzinho Para Cachorros criado pelo troca-letras em Recuperação, e seguindo com desenhos que mostram personagens do Universo de Mauricio de Sousa ou mesmo heróis desse Universo, como o Capitão Pitoco. Dos personagens “reais”, temos um bonequinho do Penadinho em cima de um relógio; um fliperama do Astronauta; um painel e uma foto do Louco (que foi colega de classe do tio Gérson); um cameo meio surrealista do Jotalhão; um bonequinho do Papa Capim; um abajur do Sansão e um “avistamento”, em outro planeta, do Horácio e da Jumenta Voadora. Já do nosso Universo, há referências visuais aos Beatles; uns óculos com bigode do Groucho Marx; um bonequinho do Tintim e o carro de Speed Racer.

A dinâmica entre tio e sobrinho que se constrói ao longo dessa aventura passa por algumas fases e transformações. Cascão não é muito próximo do tio Gérson, principalmente porque acha que o tio “dá muitos presentes estranhos“, uma piscadela do autor para a trama de Cascão #414: O Presente do Tio Gérson (2002), história escrita por Paulo Back, ilustrada por Sidnei Lozano e finalizada por Wagner Bonilla. Como não quer ir para o cruzeiro com os pais, sobra para o menino ficar com o mau presenteador. O fato de estar chovendo piora tudo, e o roteiro usa esse pleno isolamento da criança (vale deixar registrado o timing curioso: essa aventura foi lançada em abril de 2020, em pleno início das medidas de distanciamento social em muitas cidades do Brasil, por conta da COVID) para fazer com que descubra muitas coisas novas.

O estreitamento dos laços entre tio Gérson e Cascão acaba sendo o ponto central do enredo. Apesar de ser muito simples e até bobinho, é o ingrediente humano, fortemente ancorado na criação de boas memórias e de um grande sentimento entre esses dois personagens que faz com que o leitor acabe gostando bastante de Temporal, mesmo que não seja, de fato, um grandioso exemplar dentre as Graphic MSP. Uma relação que mescla Rick e Morty e Doc Brown e Marty McFly é bem empregada nas viagens imaginárias dessa dupla, que depois de viverem tantas coisas juntos, dentro e fora da Terra, dentro e fora da imaginação, ganham um presente ainda maior: o fortalecimento de um laço e o nascimento de uma proximidade que é algo lindo de se ver. Aliás, é difícil não se emocionar um pouco com o encerramento dessa história, mostrando como as coisas inesperadas da vida, em um tempo que a gente não controla, pode se tornar uma das mais doces e divertidas.

Cascão – Temporal – Brasil, abril de 2020
Graphic MSP #26

Roteiro: Camilo Solano
Arte: Camilo Solano
Cores: Camilo Solano
Assistente de cor: Tasso Micchetti
Editora: Panini Comics, Graphic MSP, Mauricio de Souza Editora
Páginas: 98

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