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Crítica | Catfish (2010)

por Leonardo Campos
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A relação dos seres humanos com o ciberespaço é tema de um amplo feixe de produções documentais, algumas que exaltam as possibilidades oriundas das tecnologias na era da informação contemporânea e outras, a refletir os temores sociais oriundos desta fase da humanidade sem precedentes, período das incertezas e da falta de equilíbrio de pessoas emocionalmente instáveis, expostas aos perigos ofertados pelas figuras que teclam do outro lado da tela, seja de um celular ou computador. Em Catfish, documentário lançado em 2010, dirigido por Henry Joost e Ariel Schulman, também responsáveis pelo roteiro, acompanhamos a trajetória do fotógrafo Nev Schulman, numa narrativa que parte dos primeiros papos on-line com a pequena Abbey Pierce, talento infantil com apenas oito anos de idade.

Ela lhe envia quadros, supostamente por intermédio dos responsáveis, conversa com Schulman por telefone, por e-mail e redes sociais, em contatos exclusivos na internet. Por meio da garota, ele conhece Megan Pierce, a sedutora irmã mais velha, além de ter acesso aos demais membros da família que logo adiante, vai lhe despertar o interesse de conhecer pessoalmente. Será a fase que nos questionaremos sobre com quem de fato conversamos do outro lado da linha ou da citada tela. A pessoa que se desnuda, com detalhes da intimidade, é realmente quem diz ser? Como ter certeza? Essas são algumas das questões que em 2010, ainda não eram ultrapassadas ou talvez batidas. Aliás, dez anos depois, Catfish aborda tópicos caros ao âmbito dos relacionamentos humanos em nossa sociedade.

Surge, então, a oportunidade de conhecer a menina e a sua família. Ao passo que a comunicação vai se tornando mais vaga, Schulman começa a investigar. As esfuziantes conversas de antes tornam-se superficiais demais. Há uma aparente fuga quando a palavra-chave “encontro presencial” é mencionada. Como espectadores, acompanharemos essa jornada em busca da realidade por detrás destes supostos personagens investigados por Schulman, ele e os companheiros de viagem, igualmente em estado de representação, mas dentro da dinâmica documental sem ferir aspectos estruturais deste tipo de narrativa. É uma saga de breves 87 minutos sem nenhum cuidado com a estética. A abordagem está mesmo preocupada com a sua temática polêmica e contemporânea.

Ele adentra com mais vigor nessa na vida de Abbey Pierce e começa a esmiuçar pormenores. Parte rumo à residência destas pessoas. Ele quer conferir o que está por detrás de tanto mistério. Mapeamentos virtuais e uso de imagens de satélites conferem ao visual as metáforas necessárias para o tema debatido pelo roteiro. Há discussões, risos, até mesmo desentendimento, tudo em prol da encenação. Não estamos longe da proposta documental, mas é fato que os personagens representam em cena, pois como bem sabemos, as fronteiras deste gênero audiovisual já estão mais dissolvidas há eras, principalmente agora, na atual fase da tecnologia e da comunicação humana. A história que se revela em sua chegada à fazenda é assustadora, mas não tem nada de absurda. É bastante crível em no contemporâneo. É com muita insistência que as verdades são reveladas e conheceremos a trama por detrás de perfis falsos, vida sofrida, encenação nas redes e outros tópicos abordados antes do desfecho.

Eles, juntamente com o usuário de internet radiografado, isto é, Nev Schulman, assumem a direção de fotografia. Andrew Zuchero traz alguns efeitos visuais para a animação, mas nada que empolgue. O som de Mark Mothersbaugh também não se faz atraente, tendo como função básica acompanhar as imagens sem vigor sonoro ou qualquer diálogo com o contexto narrativo. Não são aspectos que atrapalham a experiência, apenas detalhes estéticos que comprometem o documentário enquanto estrutura audiovisual. Ao conferir Catfish além da proposta de entretenimento,  a reflexão nos serve de espelho porque até mesmo as pessoas mais cuidadosas as vezes se deixam levar pela emoção e se expõem de tal forma sem sequer perceber, pois a exploração de nossos dados pessoais e a maneira como nos relacionamos se tornou algo horizontalizado no bojo dos comportamentos sociais, tendo raríssimas exceções.

Catfish, ao pé da letra, é uma pessoa que cria perfis falsos em redes sociais para enganar pessoas. É uma gíria para pessoas enganadas por outras na internet. Os quinze perfis que tornaram Schulman “o catfish” em questão não chegam a ser maldosos ou interessados em aplicar golpes malignos, mas são a projeção de tudo de ruim que há na rede. A nossa personagem é uma pessoa com um perfil de vida que utiliza a internet para projetar ao público uma coisa que não é nem de longe. É o que acontece muitas vezes nas redes mais badaladas, tais como Instagram, por exemplo. São sinais dos nossos tempos, a zona ideal para a criação de simulacros, falsas verdades e outros problemas que tornam tudo confuso e complexo até mesmo de se teorizar. O ciberespaço como um espaço dúbio, maravilho e mortal, a depender do ponto de vista. É o que aprendemos ao final do didático e esteticamente estéril Catfish.

Catfish – EUA, 2010
Direção:
 Henry Joost, Ariel Schulman
Roteiro: Lawrence Lasker, Walter F. Parkes
Elenco: Nev Schulman, Ariel Schulman, Henry Joost, Angela Wesselman-Pierce, Melody C. Roscher, Wendy Whelan, Craig Hall, Drew Jacoby, Rubi Pronk, Adrian Danchig-Waring
Duração: 87 min.

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