Home TVEpisódio Crítica | Cavaleiro da Lua – 1X01: The Goldfish Problem

Crítica | Cavaleiro da Lua – 1X01: The Goldfish Problem

O problema de Steven Grant.

por Ritter Fan
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Como burro velho que ainda não perdeu completamente a memória, lembro-me com clareza quando peguei nas mãos a primeira “revistinha” em quadrinhos com uma história do Cavaleiro da Lua – originalmente batizado por aqui de Lunar, o Cavaleiro de Prata – publicada pela finada RGE e ele imediatamente se tornou meu “personagem novo” favorito, algo que se manteve durante bastante tempo. Era raro – ainda é raro – um super-herói ou mesmo anti-herói mainstream com uma abordagem psicológica do nível que vemos nas HQs dele, com grande destaque dado, dependendo do roteirista, claro, para o transtorno dissociativo de identidade que o caracteriza (mas que nem sempre o caracterizou, leiam aqui) e isso capturou minha imaginação.

Essa lembrança boa de infância aliado à promessa de que Cavaleiro da Lua seria a primeira série da Fase 4 do Universo Cinematográfico Marvel a introduzir um novo super-herói no audiovisual sem as amarras da estrita continuidade, deixaram-me esperançosos e o primeiro episódio, The Goldfish Problem, é uma interessante e surpreendentemente divertida introdução a… Steven Grant… um sujeito pacato, que gosta de mitologia egípcia e que trabalha na lojinha de um museu de arte egípcia em Londres. Apesar de Ethan Hawke ser o primeiro ator a aparecer, em um preâmbulo incômodo e doloroso, mas completamente sem sangue (nem uma gotinha, Dona Marvel?), que introduz o antagonista Arthur Harrow, o palco do episódio é quase que integralmente de Oscar Isaac e ele faz um show.

Com seu ritual diário, que inclui retirar as amarras que o prendem à cama, a areia que cerca seu leito e a fita adesiva da porta, além de alimentar seu peixe dourado com uma – não, peraí, duas, ou seria uma? – barbatana, já percebemos que “algo” não está certo com Grant e ele sabe disso. Não demora e ele é “teletransportado” para alguma cidade germânica sem fazer ideia do que faz lá e porque raios ele tem um escaravelho de ouro na mão e, pior ainda, com uma voz incorpórea consideravelmente sem paciência reclamando dele (F. Murray Abraham excelente como um Konshu debochado). Os espectadores, então, são levados em uma literalmente insana sequência de ação que simplesmente não tem ação alguma, em um momento genial do roteiro de Jeremy Slater que, em uma tacada só, usa naturalmente a combinação de humor e drama psicológico para marcar bem o tamanho dos problemas mentais de Steven Grant que também é Marc Spector, claro, mas isso será visto adiante. Isaac tira de letra essa abordagem perturbada e ao mesmo tempo cômica, deixando qualquer um curioso pelo que ele será capaz de fazer com as outras personalidades que viverá.

O Cavaleiro da Lua em si, portanto, fica apenas como o cliffhanger do final, em uma sequência em que ele soca um chacal-monstro de computação gráfica ininteligível que eu não particularmente gostei muito, mas que entendo como “necessária”. Afinal, não existia a hipótese de o primeiro episódio de uma série tão curta deixar de introduzir a versão fardada do personagem, com um visual muito bom de “múmia bombada de capa” que ao mesmo tempo se aproxima e se afasta de suas versões clássicas nos quadrinhos. A escolha estética, mesmo que só tenhamos alguns segundos para observar, foi de primeira, mas fica evidente que o que realmente importa é o homem – ou homens – debaixo das gazes mágicas.

Logo abaixo da superfície do episódio inaugural, porém, fica aquela incômoda impressão de que Cavaleiro da Lua poderia ser muito mais do que parece que será. Não gosto de julgar uma série – ou minissérie, ao que tudo indica – somente por um episódio, mas enxergo um potencial enorme de um “Demolidor sobrenatural” aqui, falando especificamente da aclamada série da infelizmente encerrada parceria Marvel-Netflix. A abordagem psicológica não precisava ser apenas cômica – ela pode e deve ser também cômica, há uma diferença – e o nível de violência poderia ser aumentado, mas sem necessariamente ser explícita, bastando a Marvel Studios adotar a “técnica Matt Reeves” de fazer filme PG-13 com cara de R que ele inaugurou com o mais recente Batman. Ainda pode ser que isso venha a acontecer, não se enganem, mas eu sinceramente duvido e, portanto, sofro um pouco com potencial desperdiçado.

No entanto, voltando especificamente a The Goldfish Problem, trata-se de um começo promissor para Cavaleiro da Lua, um que privilegia Oscar Isaac como Steven Grant e não como um super-herói fantasiado e que coloca seu distúrbio mental em primeiro plano, algo que funciona bem mesmo considerando a pegada humorística que subjaz o tempo todo. Agora é torcer para que esse mesmo ritmo continue e que as demais personalidades do Cavaleiro da Lua sejam tão interessantes quanto esta a que somos introduzidos aqui.

Cavaleiro da Lua – 1X01: The Goldfish Problem (Moon Kight – 1X01: The Goldfish Problem – EUA, 30 de março de 2022)
Criação e showrunner: Jeremy Slater (baseado em personagem criado por Doug Moench e Don Perlin)
Direção: Mohamed Diab
Roteiro: Jeremy Slater
Elenco: Oscar Isaac, Ethan Hawke, May Calamawy, Karim El-Hakim, F. Murray Abraham
Duração: 47 min.

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