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Crítica | Cavaleiro da Lua – 1X02: Summon the Suit

O traje faz o homem.

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todo o nosso material sobre o Cavaleiro da Lua.

– Ei, Steven, o que diabos estamos vestindo?
– Não sei. Ela disse que eu precisava de um traje.
– Sim, a armadura cerimonial do templo de Konshu, não do Coronel Sanders psicopata.
Diálogo entre Marc Spector e Steven Grant.

Confesso que estava esperando bem menos da minissérie do Cavaleiro da Lua, mesmo considerando que ela seria a primeira sem amarras maiores com o UCM. Agora, no segundo episódio, mesmo sem saber exatamente o que vem por aí, começo a pensar que uma minissérie é pouco e seria interessante se o personagem graduasse para série, com algumas temporadas ou até, quem sabe, um filme em algum momento. Digo isso, pois o trabalho do showrunner Jeremy Slater tem feito o que é razoavelmente raro de se ver por aí, especialmente no que se refere a personagens misteriosos e de natureza mística como o Cavaleiro da Lua, que é focar no homem – ou homens – por trás dos uniformes, abrindo um excelente espaço para Oscar Isaac fazer uma composição que eu também não esperava que o ator fosse capaz de fazer, ou seja, convencer-nos do quanto Steven Grant é desesperadamente perdido no meio dessa história de múltiplas personalidades e do quanto Marc Spector, no pouco que vemos, é uma alma torturada, alguém que faz o que faz não por prazer, mas para pagar uma dívida.

Em outras palavras, Slater não exatamente joga seguro, pois temos que combinar que o que a grande maioria do público quer não é um drama psicológico, mesmo que com pitadas naturalmente cômicas – naturalmente, pois elas vêm da confusão mental de Grant -, mas sim ver a pancadaria básica de um super-herói uniformizado contra seus inimigos. No primeiro episódio, o enfaixado Cavaleiro da Lua com a tal “armadura cerimonial de Khonshu” aparece literalmente no último minuto apenas e, agora, em Summon the Suit, só com um pouco mais de 35 minutos de projeção e mesmo assim na versão intermediária, de terno branco e máscara (ou Coronel Sanders psicótico como Spector bem caracteriza), com direito a um hilário “pouso de super-herói” falho e mantendo a personalidade de Grant. Fica evidente que há um esforço grande da produção em criar um excelente equilíbrio entre drama psicológico e série de super-herói, algo que obviamente não tem pretensão de chegar ao que podemos ver um pouco em Patrulha do Destino com Crazy Jane e que vimos com ainda mais abrangência e imersão em Legion, mas é, sem dúvida alguma, algo a ser elogiado na série que não parece se contentar apenas com o banal.

Pode-se dizer muito claramente que Summon the Suit é consideravelmente didático. Aquilo que havia ficado entre as linhas do roteiro de The Goldfish Problem agora ganha o palco central e, entre as conversas de Grant com Spector no depósito, Layla (May Calamawy) com Grant na lambreta e no apartamento e, finalmente, de Grant com Harrow enquanto os dois saboreiam sopa de lentilha, aprendemos – ou reaprendemos, pois as entrelinhas já haviam sido suficientes para quem estava prestando atenção – tudo o que é necessário aprender sobre a série que, reduzindo em miúdos, nada mais é do que uma corrida atrás de um MacGuffin, aqui representado pela ressurreição da deusa-crocodilo Ammit que, diferente de Khonshu, que julga e condena após o fato, faz como em Minority Report e se livra de criminosos enquanto eles ainda são inocentes. Spector é o avatar atual do deus trazido à vida pela combinação da captura de performance de Karim El-Hakim com a voz de F. Murray Abraham e Harrow, que já foi avatar de Konshu, agora é – ou deseja ser – de Ammit.

Mas o melhor é que esse didatismo é bem feito no episódio, bem construído pelo simples fato de Grant nada saber, o que converte o protagonista, na prática, no avatar do espectador também, que, mal ou bem, quer saber as minúcias do que está acontecendo. E, como se isso não bastasse, há uma discussão filosófica sem dúvida alguma interessante entre as formas de justiça e que Grant coloca na mesa enfrentando Harrow, além de um subtexto ainda a ser mais explorado (espero) que parece indicar que Khonshu não é exatamente flor que se cheire e que seu controle sobre Spector é maior do que “apenas” uma dívida, aproximando-se de chantagem, já que ele se mostra interessado em ter Layla como seu avatar. Imagino que vejamos, na forma de flashbacks, um pouco mais sobre o passado de todos ali, inclusive o porquê de Harrow não ser mais o avatar de Konshu, mas espero que Slater saiba equilibrar o uso desse artifício como soube aqui com as explicações narradas.

Continuo não gostando do “monstro-chacal” só visível para o Cavaleiro da Lua e não exatamente em razão do CGI ou outras considerações técnicas, já que ele é passável, mas sim pelo simples fato de ele ser um “monstro-chacal” ou, mais genericamente, um monstro. Não sei, mas me parece um pouco de preguiça de criar algo mais interessante do que um bichão descerebrado qualquer ou de até mesmo fazer como em WandaVision e colocar a população controlada por Harrow mais abertamente contra o super-herói de forma que possamos sentir que há algo realmente em jogo na história que não seja uma criatura qualquer que vira pó quando é trespassada por um obelisco.

Summon the Suit continua a ótima tendência de se focar no torturado Steven Grant, com a vantagem de também abrir um pouco as portas para Marc Spector que, por sua vez, mais parece alguém escravizado por Konshu do que qualquer outra coisa e deixando substancialmente às claras a linha narrativa macro do conflito com Arthur Harrow e a ainda etérea Ammit. Se o começo já tinha sido muito bom, a minissérie não demorou a deslanchar – e nem poderia, não é mesmo? – e a colocar suas cartas na mesa. Resta agora saber o que a mudança de ares para o Egito trará de novidades!

Cavaleiro da Lua – 1X02: Invoque o Traje (Moon Kight – 1X02: Summon the Suit – EUA, 06 de abril de 2022)
Criação e showrunner: Jeremy Slater (baseado em personagem criado por Doug Moench e Don Perlin)
Direção: Justin Benson, Aaron Moorhead
Roteiro: Michael Kastelein
Elenco: Oscar Isaac, Ethan Hawke, May Calamawy, Karim El-Hakim, F. Murray Abraham
Duração: 53 min.

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