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Crítica | Cavaleiro da Lua – 1X05: Asylum

Uma "hipopótama" como guia.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todo o nosso material sobre o Cavaleiro da Lua.

Cavaleiro da Lua teve três ótimos episódios seguidos, em um crescendo de qualidade, com apenas o quarto – The Tomb – caindo em meu conceito por trabalhar a ação de maneira atabalhoada, genérica e com uma irritante fotografia quase em breu total e introduzindo uma reviravolta que é tecnicamente bem-vinda, por ser desafiadora, mas que, colocada assim, quase no fim da série, tinha toda a chance de ser mal aproveitada. Felizmente, porém, eis que Asylum veio para reduzir substancialmente meus temores, mesmo que não resolva completamente os problemas que o mergulho na mente perturbada de Marc Spector/Steven Grant traz para uma obra que, de outra maneira, vinha tratando de forma competente do assunto, mas mantendo o tom de aventura.

Como já disse algumas vezes ao longo das críticas da minissérie, o que a destaca das demais séries de super-heróis que temos por aí é que o super-herói fantasiado, por melhor que seja os uniformes, é constantemente mantido em segundo, talvez até terceiro plano. E faço essa ressalva como um elogio caso alguém tenha alguma dúvida, pois essa escolha de Jeremy Slater abriu e continua abrindo um amplo espaço para Oscar Isaac brilhar em seu papel duplo. Asylum tem o grande defeito de ser extremamente corrido, pois tudo o que vemos em 50 minutos, pela mera temática principal e pela variedade de outros elementos, incluindo aí a ótima deusa hipopótamo Taweret (voz e captura de performance de Antonia Salib) que expande a mitologia da série sem se desviar da efetiva mitologia egípcia, simplesmente merecia uma minissérie própria, ou uma segunda temporada de Cavaleiro da Lua. Há vasta riqueza trabalhada em tempo exíguo que acaba prejudicando tanto o lado psicológico quanto o aventuresco da série.

No entanto, tudo poderia ser muito pior. O roteiro de Rebecca Kirsch e Matthew Orton, apesar de recorrer a uma certa quantidade de didatismos compreensíveis para explicar toda a mitologia – e, no processo, fazer outra ótima e discreta referência ao UCM em geral quando Taweret fala do Plano Ancestral que vemos em Pantera Negra -, consegue construir uma eficiente história de origem e de reconciliação psicológica entre as duas personalidades de uma mesma pessoa ao criar camadas oníricas que variam do consultório do Dr. Harrow, que parece ser a realidade, o interior do manicômio do título em que Marc e Steven começam a explorar o passado, o passado em si e, claro, todo o lado místico no deque do navio que trafega pela areia do Duat em direção ao Campo de Juncos, respectivamente o Purgatório e o Paraíso da mitologia egípcia.

Como disse, é muito para a minutagem disponível, mas há uma boa cadência em tudo o que vemos. Claro que o destaque dramática fica com a pesada linha narrativa da trágica morte de Randall Spector (Claudio Fabian Contreras), irmão de Marc (como criança vivido por Carlos S. Sanchez), que leva Wendy (a brasileira Fernanda Andrade), a mãe deles, a rejeitar e a abusar do filho sobrevivente. É um horror completo, mas que não tem o mesmo peso que poderia – que deveria! – ter exatamente porque tudo acontece a toque de caixa, sem que haja tempo para que as informações sejam passadas mais organicamente e sem que haja espaço efetivo para que nos compadeçamos pelo drama de todos ali, incluindo o pai Elias (Rey Lucas, maquiado de tal forma que eu basicamente só conseguia ver o Rick Moranis ali…).

O que realmente funciona é o quanto os sucessivos choques das revelações vão afetando Marc e Steven, com o primeiro carregando a culpa pela morte do irmão e, mais ainda, temendo que Steven descubra toda a verdade, inclusive – e especialmente – que Marc é o “original” e que o egiptólogo britânico é uma criação de sua mente para lidar com os abusos maternais. A sequência em que Marc, com barba por fazer e quipá observa o shivá da mãe, corre até o final da rua, encontra Steven e ele mesmo se transforma em Steven, é esplêndida, outro momento irretocável da performance perfeita de Isaac ao longo de toda a minissérie e o verdadeiro tesouro aqui. Nós nos compadecemos não só pelo horror que Marc teve que viver, como compreendemos a origem de sua desordem mental e, mais ainda, ficamos tristes por Steven ser “uma criação”.

Asylum, portanto, navega por águas muito turbulentas e consegue chegar razoavelmente bem ao porto, mesmo considerando que toda essa abordagem psicológica direta – pois a indireta estava indo muito bem – é uma quebra razoavelmente grande na linha narrativa principal que precisará voltar com força no episódio final se Slater quiser efetivamente encerrar o arco. Pelo menos o roteiro, muito ajudado por Oscar Isaac, fez o que era possível fazer no tempo alocado, ainda se dando ao luxo de deixar um cliffhanger sobre a persona Steven Grant que, pelo visto, virou estátua de areia. Mas o que importa é que tudo parece ter voltado aos eixos para um final que promete ser também tumultuado e cheio de informações, mas que o showrunner já mostrou que é capaz de lidar com boa fluência. Que Taweret guie a mão dele!

Cavaleiro da Lua – 1X05: O Manicômio (Moon Kight – 1X05: Asylum – EUA, 27 de abril de 2022)
Criação e showrunner: Jeremy Slater (baseado em personagem criado por Doug Moench e Don Perlin)
Direção: Mohamed Diab
Roteiro: Rebecca Kirsch, Matthew Orton
Elenco: Oscar Isaac, Ethan Hawke, May Calamawy, Karim El-Hakim, F. Murray Abraham, Antonia Salib, Fernanda Andrade, Rey Lucas, Claudio Fabian Contreras, Carlos S. Sanchez, David Jake Rodriguez
Duração: 50 min.

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