Home TVEpisódio Crítica | Cavaleiro da Lua – 1X06: Gods and Monsters

Crítica | Cavaleiro da Lua – 1X06: Gods and Monsters

O retorno de Ammitzilla!

por Ritter Fan
3,4K views

  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios e, aqui, de todo o nosso material sobre o Cavaleiro da Lua.

Depois que Jeremy Slater, ao final de The Tomb, revelou que mergulharia fundo na mente fragmentada de Marc Spector, achei que seria muito difícil o showrunner encerrar a história de maneira satisfatória em apenas mais dois episódios. No entanto, eis que veio Asylum que, mesmo que de maneira resumidíssima e para lá de apressada, deu-me esperanças de que as pontas se fechariam afinal de contas. E Gods and Monsters, apesar de ser o mais curto episódio da minissérie (ou será que vão anunciar uma segunda temporada?), veio para confirmar que sim, Slater tinha um plano bem alinhavado, ainda que não exatamente fenomenal e tomando algumas liberdades para lá de estranhas.

Uma dessas “liberdades estranhas” é a cômica luta de kaijus no platô de Giza, com a mega-Ammit (captura de performance de Sofia Danu e voz de Saba Mubarak), recém-alimentada por almas colhidas por Harrow no Cairo, saindo no tapa em câmera lenta com o recém-libertado über-Khonshu que, pelo visto, pode ficar gigante aleatoriamente. Confesso que, dentro do contexto do vale tudo que é o universo de super-heróis, essa escolha criativa nem foi a coisa mais sem pé nem cabeça que vi recentemente, mas, muito sinceramente, não gostei dessa maneira de se manter os dois deuses entretidos. Pareceu-me preguiçoso transformar os dois em papel de parede de computador enquanto a ação para valer acontece em primeiro plano, criando um enorme facilitador narrativo para empecilhos conhecidos como personagens exageradamente poderosos ou que, em tese – por serem deuses – deveriam ser exageradamente poderosos (pois esses dois tem poderes bem mixurucas, se pararmos para pensar).

E essa preguiça é também manifestada de outra forma, com a eliminação de todos os demais deuses – ou avatares deles – no interior da pirâmide de Quéops, deixando apenas Osíris de mais ou menos de pé. Em outras palavras, aquele ótimo conceito da Enéade, retirado da mitologia egípcia, foi varrido para debaixo do tapete no momento em que ele se tornou desnecessário, o que é um problema irritantemente comum em séries e filmes de super-herói se formos recapitular mentalmente alguns exemplares recentes.

Por outro lado, lá no Campo de Juncos e no Duat, a breve ação que leva ao encerramento do arco psicológico de Marc e Steven é muito bem conduzida, com Marc Spector percebendo que o preço de sua paz eterna em um lindo e ensolarado paraíso é a eliminação completa e absoluta de sua persona Steven Grant, persona essa que foi responsável por literalmente salvar sua vida por todo o tempo que sofreu em razão do abuso de sua mãe. Mesmo com o espaço para esse momento sendo diminuto, a performance de Oscar Isaac mais uma vez se destacou, algo que continua ao longo do episódio com as mudanças fluidas entre uma e outra personalidade na medida do necessário.

Aliás, justiça seja feita, o pouco tempo que esse episódio dedica a Marc e Steven sem superpoderes é espelhado, também, no tempo que May Calamawy ganha para explorar sua Layla sem a fotografia inacreditavelmente escura de The Tomb que tirou todo o destaque que deveria ter tido. Mesmo tendo que aceitar as boas e velhas conveniências de roteiro que permitiram que ela seguisse Harrow e sua trupe de fanáticos pelo deserto, Calamawy mostra segurança e, mesmo não tendo nem de longe o tipo de oportunidade que Isaac mais do que naturalmente teve, convence ao continuar a negar ser o avatar de Khonshu e, depois, no desespero, em abraçar seu destino e, pelos poderes de Taweret, ganhar a força do obscuro Escaravelho Escarlate dos quadrinhos, personagem egípcio e originalmente vilanesco, mas que é inteligentemente desencavado e ressignificado pela Marvel Studios (mesmo o nome dele não sendo citado, não há dúvidas que é ele em razão do nome do pai de Layla, que é a identidade civil do vilão nas HQs). Só faltou terem criado um uniforme super-heróico mais bonito para ela, já que aquele cosplay de Poderosa Ísis com Mulher-Maravilha não chega aos pés nem da armadura cerimonial nem do terninho branco do Cavaleiro da Lua.

Falando então da pancadaria final, tirando o referido uniforme pobrinho de Layla e o poder de voo para o protagonista (de onde raios aquilo saiu???), a direção de Mohamed Diab soube dar conta do recado, inclusive mais uma vez usando o genial artifício do começo da minissérie de fazer com que o momento climático ocorra em elipse, sem que vejamos nada, de forma a repetir visualmente a confusão mental de Marc e Steven. Aqui, esse uso acontece no embate final entre o Cavaleiro da Lua e Harrow, mas não gratuitamente e sim como uma forma inteligente de definitivamente introduzir Jake Lockley – a tão falada terceira persona do super-herói – na história, ainda que somente o vejamos de verdade na também muito boa sequência pós-créditos (só não entendi o porquê de ele falar espanhol…) e, com a mesma cajadada, nos dizer, com todas as letras que tudo o que de mais violento (não)vimos acontecer ao longo dos seis episódios foi feito na verdade por Jake e não Marc.

Gods and Monsters, apesar de partir para a desnecessária galhofa com os “kaijus panos de fundo” e de mostrar sonolência criativa ao arrumar saídas fáceis para algumas inconveniências e para o uniforme de Layla, acaba acertando mais do que erra, especialmente ao saber lidar bem com Marc e Steven e introduzir Jake como aquela bem-vinda e bem construída reviravolta final e isso tudo sem recorrer à conexão explícita com o Universo Cinematográfico Marvel, algo raro de se ver. Apesar dos pesares, Cavaleiro da Lua, em seu conjunto, acabou surpreendendo e deixou-me desejoso de ver mais do super-herói de preferência em uma segunda temporada.

Cavaleiro da Lua – 1X06: Deuses e Monstros (Moon Kight – 1X06: Gods and Monsters – EUA, 04 de maio de 2022)
Criação e showrunner: Jeremy Slater (baseado em personagem criado por Doug Moench e Don Perlin)
Direção: Mohamed Diab
Roteiro: Jeremy Slater, Peter Cameron, Sabir Pirzada (baseado em história de Danielle Iman e Jeremy Slater)
Elenco: Oscar Isaac, Ethan Hawke, May Calamawy, Karim El-Hakim, F. Murray Abraham, Antonia Salib, Sofia Danu, Saba Mubarak
Duração: 43 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais