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Crítica | Caveira Vermelha: Encarnado

por Ritter Fan
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estrelas 2

O Caveira Vermelha é um dos mais fascinantes vilões da Marvel. Nada de poderes cósmicos. Nada de raios saindo da mão. Nada de mágica. Só o mal. O puro mal. Afinal, seus feitos remontam à Segunda Guerra Mundial, já que ele foi, nos quadrinhos, a mão direita do próprio Hitler, o demônio em pessoa. Sua luta pelas décadas contra o Capitão América trouxe momentos icônicos, incluindo a fantástica série de Ed Brubaker que culminou com a morte do Sentinela da Liberdade (efêmera, claro, como todas nos quadrinhos, menos a do tio Ben).

Assim, foi com muita trepidação que comecei a ler Caveira Vermelha: Encarnado, minisséries de cinco números publicada nos EUA em 2011 e, no Brasil, em 2014 já como um belo encadernado de cada dura pela Panini. E a razão de minha trepidação é muito simples: a proposta da minissérie escrita por Greg Pak é narrar a “origem” do vilão e, no meu livro, quando a “origem do mal” é explicada, ela é justificada e, com isso, ela é “aceita” ou, pelo menos, torna-se lugar-comum. Mas embarquei na viagem mesmo assim, realmente por curiosidade de um amante da Nona Arte.

red skull coverSe existem aspectos positivos no trabalho de Pak, eles se resumem a dois, infelizmente. O primeiro deles diz respeito à ambientação da obra que, claro, se passa integralmente nos anos que atencedem a Segunda Guerra Mundial, começando em Munique, em 1923, com o começo da ascensão nazista, com a Alemanha em meio à hiper-inflação causada, dentre outros fatores, pelo Tratado de Versalhes que basicamente imputou à Alemanha e seus aliados a culpa pela Primeira Guerra Mundial. A falta de esperança leva ao radicalismo e é nesse cenário triste, massacrante, que vemos pela primeira vez Johann Schmidt, jovem de cabelo vermelho (o único elemento gráfico que nos remete à sua futura caveira) vivendo em um “lar para crianças rebeldes”. Ao longo da narrativa, Johann vai crescendo, mas cada capítulo trata de um momento sócio-político importante na Alemanha, de maneira que sua história é bem costurada em meio aos fatos reais da época.

O outro aspecto positivo é que Pak nunca, em momento algum, faz referência a qualquer outro elemento do Universo Marvel. Sim, sei que, àquela época, não havia ainda heróis pelo mundo, mas um escritor mais afoito poderia fazer pequenas menções aqui e ali, dando vislumbres do futuro. Nada aparece, nem mesmo Johann Schmidt já com a  máscara de Caveira, que seria dada a ele pelo próprio Hitler. Com isso, a história ganha foco.

Mas, como disse, esses são os únicos pontos verdadeiramente positivos. Sem desdizer trechos da origem do Caveira que aprendemos ao longo da longa continuidade do vilão, Greg Pak cria uma história de “origem do mal” que já mostra fraqueza e tendência a clichês logo na primeira página, quando vemos um simpático cachorrinho vira-lata fugindo da carrocinha e chegando onde o jovem Johann mora e sendo adotado por seu amigo Dieter. Ou seja, a maldade do Caveira literalmente começou com um cachorrinho perdido e com um amigo que ele tem que proteger. Pois claro que Johann Schmidt, nesse momento em sua história, apesar de durão, tinha bom coração e queria realmente fazer o bem.

No entanto, qualquer leitor de quadrinhos, mesmo o mais ingênuo, saberá que, antes do capítulo acabar, Johann Schmidt matará o cachorrinho ou uma variação disso. E dito e feito: ele mata não só um como vários cachorros a pauladas, tentando salvar o pequeno cão (sempre uma causa nobre justificando atos de violência!). E, a partir daí, é ladeira abaixo. Ele é ajudado por uma família judia, faz conexão com a jovem Emmy fingindo-se de judeu e, de novo, Pak telegrafa o futuro do jovem Caveira da maneira menos original possível, sempre colocando-o como alguém que se tornou o que é em razão das circunstâncias.

É bem verdade que a história toma contornos mais complexos, com Johann Schimdt passando a fazer parte da Sturmabeteilung, mas demonstrando insatisfação pelo status de “coadjuvantes” que essa força tem no plano maior de Hitler. Quando ele se reúne novamente com Dieter em 1933, em Nuremberg, o leitor já sabe exatamente o que vai acontecer, momento a momento, quadro a quadro.

red skull page

A tentativa de humanizar o vilão não funciona. Greg Pak não nos faz sentir por Johann Schimdt. Não nos faz odiá-lo como deveríamos. Ele é o Caveira Vermelha, arquiteto das maiores atrocidades ao lado de Hitler, e tudo em razão de um cachorrinho? Definitivamente, a dramaticidade clichê de Pak estava em alta quando ele imaginou esse começo para o monstro dos quadrinhos e, no processo, se perdeu.

Em termos artísticos, o trabalho de David Aja nas capas dos cinco números é absolutamente irretocável. Ele trabalha a imagem do Caveira Vermelha (com a Caveira) em capas que parecem propaganda nazista, com uma paleta de cores limitada a preto, vermelho e branco, emulando as cores do partido Nacional Socialista.

Só que essas capas escondem o conteúdo, que não é desenhado por Aja e sim por Mirko Colak. Sua arte é expressiva, com bons rostos que nos passam os sentimentos corretos, mas particularmente tenho reticências com as sequências de ação, que não transmitem movimento ou elegância. Além disso, ele trabalha uma transição de quadros burocrática, pouco eficiente com poucos detalhes de fundo. Talvez a justificativa para isso seja a empobrecida história de Pak, mas o fato é que Colak não consegue ajudar muito na narrativa, às vezes até nos trazendo uma progressão confusa, que exige a leitura de algumas páginas mais de uma vez.

Caveira Vermelha: Encarnado não só é uma daquelas histórias de origens completamente desnecessárias, como seu conteúdo reduz o vilão a assassino de cachorros. Restam só mesmo as belas capas de David Aja.

Caveira Vermelha: Encarnado (Red Skull: Incarnate)
Conteúdo: Red Skull: Incarnate #1 a 5
Roteiro: Greg Pak
Arte: Mirko Colak
Capas: David Aja
Cores: Matthew Wilson
Editora (nos EUA): Marvel Comics (publicado originalmente entre julho e novembro de 2011)
Editora (no Brasil): Panini (encadernado publicado em janeiro de 2014)
Páginas: 124

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