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Crítica | Chainsaw Man – 1ª Temporada

Porralouquice superficial.

por Kevin Rick
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Desde o seu anúncio, Chainsaw Man carregava uma expectativa quase desmedida. Não só por adaptar um dos mangás mais comentados e estilisticamente ousados dos últimos anos, mas também por representar a entrada do estúdio MAPPA em um território que parecia, ao mesmo tempo, familiar e arriscado: o de um shonen violento, sarcástico e graficamente insano. O resultado, contudo, é um anime que repete a natureza ambígua do material original, uma obra de superfície vibrante e imaginação visual notável, mas que, quando se olha mais fundo, revela-se rala, um tanto imatura e excessivamente dependente da própria excentricidade para sustentar interesse.

A adaptação, fiel em todos os aspectos narrativos ao mangá de Tatsuki Fujimoto, reforça tanto seus méritos quanto suas deficiências. O ponto de partida ainda é irresistível: Denji, um garoto miserável e endividado, funde-se ao seu cão-demônio Pochita e passa a transformar-se em uma criatura meio humana, meio motosserra. A premissa, por si só, tem algo de cômico e repulsivo, e o anime compreende bem essa dualidade, especialmente nos episódios iniciais, em que o absurdo visual se impõe com vigor. A animação, impecável em termos técnicos, encontra soluções inventivas para a violência gráfica do mangá, e há momentos em que o horror e o humor se confundem de maneira divertida. Porém, à medida que a temporada avança, a série parece perder essa consciência de contraste, entregando-se mais à coreografia da carnificina do que ao desconforto que ela poderia inspirar.

É curioso notar que o anime, embora traga os traços de horror do original, os suaviza emocionalmente. O sangue é mais abundante, com um teor gráfico cheio de excessos, mas o impacto narrativo é menor. Fujimoto, no mangá, sabe explorar o horror melhor. Já no anime, o foco desloca-se para a adrenalina, para a fluidez da ação e o espetáculo visual. É uma escolha compreensível, mas que empobrece um material já sem muita profundidade. O resultado é uma violência muitas vezes gratuita, desprovida de propósito além do deleite estético.

A energia está sempre no máximo, os personagens gritam, os monstros se multiplicam, e tudo parece urgente, mas raramente há substância. Denji, no centro disso tudo, continua sendo um protagonista que não evolui: movido por instintos básicos, em especial o desejo sexual mais pueril e ridiculamente tratado. O problema não é o personagem ser um adolescente com libido, mas a forma como a série lida com isso, transformando seu impulso em um fetiche constante, que sabota qualquer possibilidade de carisma e simpatia. Boa parte dos episódios oscila entre a ação frenética e as “taradices” constrangedoras, o que, além de deslocado, denuncia um olhar quase misógino sobre suas personagens femininas. Esses blocos inteiros dedicados a piadas sexuais de gosto duvidoso enfraquecem o conjunto e revelam uma imaturidade que o anime tecnicamente tenta mascarar. Mesmo figuras intrigantes como Makima, ambígua, manipuladora e muito claramente uma futura antagonista, são reduzidas, às vezes, a instrumentos das taradices infantilizadas de Denji.

Por outro lado, há um mérito inegável na maneira como a série conduz o ritmo da ação. A divisão em blocos, cada um com um novo antagonista e um novo tipo de ameaça, evita a sensação de repetição e mantém a narrativa dinâmica. A variedade dos demônios, cada qual com poderes e visualidades próprios, confere à temporada um sabor procedural dentro da continuidade, como se cada arco fosse um pequeno filme de horror ou ação. O design de criaturas é criativo e a estética geral é envolvente, reforçando o caráter grotesco e mecânico do universo.

Há, também, lampejos de algo mais promissor. O anime não tem medo de eliminar personagens importantes, e isso, num gênero em que a morte costuma ser um recurso reversível, dá um peso incomum à trama. Quando a narrativa se permite ser cruel e não apenas violenta, Chainsaw Man encontra sua melhor expressão. A sequência do ataque coordenado contra os Devil Hunters, no meio da temporada, é um exemplo disso: súbita, brutal e desestabilizadora, ela evoca a sensação de que ninguém está seguro e que a trama tem um peso de urgência.

Mas esses altos são seguidos, invariavelmente, por baixos: longos diálogos expositivos, humor deslocado e uma falta de densidade emocional que esvazia a experiência. O anime parece hesitar entre ser uma sátira e um drama, e acaba não sendo plenamente nenhum dos dois. A construção de mundo é promissora, mas ainda rascunhada; a mitologia dos demônios, fragmentada e pouco explorada; e o subtexto social, quase inexistente em críticas mais sugestivas do que claras.

No fim das contas, a primeira temporada de Chainsaw Man é uma obra visualmente deslumbrante em termos de ação e conceitualmente divertida, mas emocionalmente e narrativamente rasa. O potencial está todo ali, na premissa, no universo, nas possibilidades de horror cômico, mas o texto ainda não encontrou a maturidade necessária para transformar tudo isso numa obra realmente interessante. O resultado é um espetáculo de serras e sangue que entretém de maneira razoável e que não entrega nada muito fora das convenções do gênero depois da premissa. Talvez o tempo e as próximas temporadas revelem o que há sob o barulho. Por ora, Chainsaw Man é um anime que se basta na própria histeria: uma grande máquina girando em alta rotação, movida a sangue, suor e testosterona adolescente.

Chainsaw Man (チェンソーマンChensō Man) – 1ª Temporada | Japão, 2022
Criação e desenvolvimento: Hiroshi Seko (baseado no mangá de mesmo nome, de Tatsuki Fujimoto)
Direção: Ryū Nakayama, Tōko Yatabe, Makoto Nakazono, Hironori Tanaka, Tatsuya Yoshihara, Yōsuke Takada, Tomomi Kamiya, Shun Enokido, Keiichirō Watanabe, Shōta Goshozono, Takeru Satō, Takahiro Kaneko
Roteiro: Hiroshi Seko
Elenco: Kikunosuke Toya, Shiori Izawa, Shogo Sakata, Fairouz Ai, Tomori Kusunoki
Duração: 290 min. (12 episódios)

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