Home FilmesCríticasCrítica | Chainsaw Man: O Filme – Arco da Reze

Crítica | Chainsaw Man: O Filme – Arco da Reze

Uma decepção amorosa mortal.

por Kevin Rick
24 views

Depois de uma temporada de estreia que considero bastante fraca, a história de Denji, um homem-demônio motosserra, continua no filme Chainsaw Man – O Filme: Arco da Reze que, de certa forma, funciona exatamente como o anime que o antecede, bastante interessante na superfície, imaginativo em certas aéreas, mas ainda dramaticamente oco e narrativamente raso. Existem alguns ajustes, porém. Com um tempo menor, o longa parece ter mais consciência das limitações da história e tenta, com mais sinceridade do que pretensão (e uma boa condensação), transformar a insanidade estilística do universo de Tatsuki Fujimoto em uma tragédia romântica de sangue e pólvora. Nem sempre consegue, mas há algo de honestamente interessante no modo como a MAPPA traduz essa fase do mangá não como um prolongamento da gritaria adolescente do anime, e sim como uma experiência caótica e razoavelmente terna.

Logo nas primeiras cenas, fica evidente que a estética continua sendo o grande trunfo da franquia. A direção de Tatsuya Yoshihara encontra em Reze um ponto de virada para a violência, antes totalmente gratuita, mas agora com uma pequena textura emocional. Durante os trechos que Denji conhece a garota no café, a trama desacelera, o ruído metálico das lâminas dá lugar ao som ambiente e a direção chega a ser delicada em certos blocos. Não é nada tãoo notável assim, mas aprecio o tom. O humor machista desse material ainda aparece aqui e ali, mas é menos incômodo no filme e temos o primeiro vislumbre de simpatia pelo protagonista que vai além da sua caracterização.

Esse fôlego logo se desfaz, com uma virada previsível, porém orgânica, de um romance virando uma história de horror ou, melhor, de muita ação com pequenas doses de horror. Reze é, literalmente, uma bomba-relógio, tanto na metáfora quanto na narrativa. E, quando explode, o faz com uma brutalidade visual impressionante. A transformação e o uso de poderes da personagem  é um espetáculo grotesco e belo, uma constante explosão de luz, carne e fragmentos que a MAPPA anima com minúcia absurda, alternando 2D e CGI com precisão raramente vista em filmes derivados de animes. A coreografia das batalhas é uma demonstração de virtuosismo técnico, especialmente na luta entre Reze e Denji, em meio às ruas chuvosas e aos ventos do Typhoon Devil, onde a balbúrdia encontra seu ápice.

O impacto estético continua superando o dramático. Denji ainda é, no fundo, o mesmo protagonista do anime. A tentativa de humanizá-lo através da relação com Reze tem momentos eficazes, mas não vai muito além disso para desenvolver o drama da história. Tematicamente e narrativamente, o filme também não traz grandes destaques, com pouco aqui agregando ao universo ou à jornada de Denji. Continuo achando que falta um direcionamento tonal na franquia, que navega entre momentos sombrios, situações de paródia e um foco bem grande em ação, mas que não constrói nada muito claro em nenhum desses elementos. Falta um relacionamento melhor com os personagens, todos muito superficiais; falta tensão numa história que não parece se levar a sério ou então mais leveza se a ideia é ser uma sátira; e falta uma narrativa que torne esse universo distinto para além de suas virtudes visuais.

Ainda assim, há algo admirável na tentativa do filme de dar forma ao absurdo da premissa. O Arco da Reze é pura balbúrdia a partir do momento que as batalhas começam, num ritmo gostoso de assistir e que flerta com um nível de entretenimento pipoca nas telonas. Dentro do caos, também aprecio como é um núcleo mais coeso, sobretudo porque concentra tudo em um arco fechado simples. A ausência de episódios episódicos ajuda a não esticar a linha fina da premissa do mangá. E o humor aqui funciona melhor, ainda que quase acidental, fruto do contraste entre a ingenuidade de Denji e a manipulação de Reze (fora a boa participação de Beam, que protagoniza junto de Denji algumas das sequências mais divertidamente despirocadas do longa).

A limitação do próprio universo acaba sendo uma das minhas maiores críticas em termos de continuidade. O filme tenta aprofundar as relações entre Denji, Aki, entre outros, e introduzir o eixo geopolítico dos demônios (com o envolvimento soviético, por exemplo), mas essas ideias aparecem mais como acenos sequenciais do que como tema ou construção de lore. Penso que o filme funciona melhor como um arco autocontido dentro de sua abordagem de ação desenfreada esquecível do que como continuação de uma história que, na minha visão, segue se repetindo e ainda não mostrou ao que veio, mesmo com a insistência em preparar Makima como antagonista.

Chainsaw Man – O Filme: Arco da Reze não transcende o que a série foi, mas encontra no romance e na energia caótica uma progressão razoavelmente melhor do que a primeira temporada nos entregou, ainda que tenha ficado na mesma nota para mim. É um filme melhor dirigido, melhor ritmado e, em pequenos trechos, até genuinamente belo. Só não é profundo, porque talvez Chainsaw Man nunca tenha tido essa intenção. Só falta mais autoconsciência dessas limitações e mais criatividade em outras partes do material. Para mim, a franquia já deu o que tinha para entregar, mas veremos para onde que os ganchos do final do longa nos levarão.

Chainsaw Man: O Filme – Arco da Reze (Chainsaw Man – The Movie: Reze Arc) – EUA, 2025
Direção: Tatsuya Yoshihara
Roteiro: Hiroshi Seko (baseado no mangá de mesmo nome, de Tatsuki Fujimoto)
Elenco: Kikunosuke Toya, Reina Ueda, Fairouz Ai, Tomori Kusunoki, Shogo Sakata, Natsuki Hanae, Maaya Uchida, Karin Takahashi, Shiori Izawa, Yūya Uchida
Duração: 100 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais