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Crítica | Chamas da Vingança (1984)

por Gabriel Carvalho
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A atriz mirim Drew Barrymore, vinda do clássico E.T – O Extraterrestre, finalmente despontaria em um papel maior em Chamas da Vingança, logo uma adaptação do livro A Incendiária, do célebre autor Stephen King. É com essa carga inicial que a atriz encarna Charlie, uma garotinha com poderes incendiários oriundos do fato de seus pais terem participado de experimentos bem sucedidos da agência governamental denominada Oficina, e adquirirem consequentemente habilidades especiais. Em um jogo de gato e rato, os agentes da Oficina irão a todo custo tentar capturar Charlene, pois supostamente ela poderá causar danos mais destrutivos do que aparenta poder atualmente. Cabe a seu pai Andrew McGee (David Keith) defender a sua filha dessa agência, privando-a das consequências negativas de suas capacidades únicas, e tendo que utilizar de seus próprios atributos, estes telecinéticos.

Antes de mais nada, é evidente, após os créditos iniciais, estarmos de frente com um produto não muito além da primeira impressão que será criada. Os diálogos são meia-boca e as apresentações e incessantes reapresentações dos super poderes, toda vez que são utilizados, são deveras abobalhadas. Os momentos nos quais Charlie coloca fogo nas pessoas a sua volta são telegrafados, sem nunca serem chocantes. Bregas, porém. A dupla de protagonistas funciona melhor em conjunto do que individualmente, mas não deixem-se enganar. A química de pai e filha é fraca, e a maior parte dos elogios a serem feitos para o elenco acaba recaindo de fato em Drew Barrymore, mesmo que nada em sua interpretação seja espetacular se comparado ao trabalho de outras atrizes e atores mirins. Ademais, em um de seus papeis mais inócuos, Martin Sheen pouco tem para fazer, algo diferente do outro vilão do filme, Rainbird (George C. Scott), que apesar de estereotipado, arranca a imponência devida, certamente sendo a coisa mais memorável a ser tirada daqui.

Chamas da Vingança tem uma estrutura narrativa completamente bagunçada. A montagem é mal executada, ainda mais no início da obra, onde a intercalação com os flashbacks do que acontecera é equivocada. O que aconteceu previamente com Andrew e Charlene, para fazerem-nos estarem naquela situação, poderia ter sido mais esticado pelas duas horas de filme, ou então contado de modo mais burocrático, linearmente. O que aparenta aqui é que se foram filmadas cenas de um passado que precisava ser filmado e a montagem as colocou onde achou conveniente. Do jeito que ficou acredita-se que seria até mais interessante retirar esse segmento, e tornar essas memórias anteriores mais obscuras, pinceladas só pela relação da filha com o pai.

A obra tem a sua temporalidade evidenciada pela trilha sonora, que é facilmente datável para os anos 80, e lá permanecendo. Dinâmica, ela torna o filme ainda mais acelerado do que é, sem nenhum espaço para o suspense de raiz. Tudo é destroçado por batidas eletrônicas desnecessárias, como por exemplo na cena da revelação do corpo de Vicky (Heather Locklear). Tal seria muito mais impactante se aliada à quietude, e não à irritantes distúrbios sonoros. Até mesmo a interpretação, exageradamente criticada, de David Keith, ganharia mais peso dramático. Mesmo assim, é inegável o quão bem se casa a artificialidade própria das melodias oitentistas com a artificialidade de todo o resto do filme, uma costura mal feita dos momentos chaves do texto original.

Por outro lado, os efeitos especiais não tornam as sequências menos convincentes, como poderia se esperar dado todo o restante já se embasado sobre o longa. As explosões e o fogo são suficientemente críveis e tornam a produção menos amadora do que sua direção apresenta-se por ser, distanciando-a, apenas um pouco, dos filmes mais pobres produzidos para televisão. Depois de Stephen King ter obras de sua autoria serem adaptadas para as telonas por lendas como Brian De Palma e Stanley Kubrick, é uma pena que Mark L. Lester tenha encabeçado, dessa maneira, esta adaptação do autor, mesmo que tal seja de um dos livros menores da vasta literatura do famoso escritor de horror. Não tira-se, no entanto, a falta de maturidade deste longa, sua execução preguiçosa e seu elenco mal dirigido. Tudo permanece mal encaixotado nesse exemplar medíocre do terror dos anos 80.

Chamas da Vingança (Firestarter) — EUA, 1984
Direção: Mark L. Lester
Roteiro: Bill Lancaster, Bill Phillips, Stanley Mann (baseado no romance A Incendiária, de Stephen King)
Elenco: Art Carney, David Keith, Drew Barrymore, George C. Scott, Heather Locklear, Martin Sheen, Freddie Jones, Louise Fletcher, Leon Rippy
Duração: 115 min.

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