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Crítica | Cheers – 1X01: Give Me a Ring Sometime

Onde todo mundo sabe seu nome!

por Ritter Fan
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Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 11
Número de episódios: 275
Período de exibição: 30 de setembro de 1982 a 20 de maio de 1993
Há continuação ou reboot?: Não, mas a série teve dois spin-offs. O primeiro, The Tortellis, foi lançado enquanto a série ainda estava no ar, tendo sido apenas 13 episódios transmitidos de 22 de janeiro a 12 de maio de 1987. O segundo, Frasier, é também uma espécie de continuação focada em Frasier Crane, um dos frequentadores do bar, que se muda para Seattle, com a série, quase que exatamente como Cheers, tendo tido 11 temporadas e 264 episódios que foram ao ar entre 16 de setembro de 1993 e 13 de maio de 2004. A série também ganhou um remake homônimo na Espanha, em 2011.

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O legado de Cheers é impressionante. A série, que quase foi cancelada ao final da primeira temporada por não ter tido audiência satisfatória, explodiu a partir do segundo ano e não saiu mais da lista das mais assistidas ao longo do restante de seus 10 anos no ar, gerando dois spin-offs diretos, um deles nada menos do que Frasier, que também teve 11 temporadas, e mais Wings, com oito temporadas, que se passa no mesmo universo. Sua presença na cultura pop é tão potente que não só o bar original que inspirou a produção mudou seu nome para Cheers, funcionando até hoje, como é possível achar citações, homenagens e sátiras da série e de seus personagens em uma impressionante variedade de outras obras televisivas.

O sucesso da série é, claro, resultado de uma grande quantidade de fatores, inclusive e talvez especialmente seu elenco composto de profissionais em sua maioria ainda em começo de carreira, como foi o caso de Ted Danson, que vive Sam Malone, ex-estrela de beisebol que é o dono mulherengo do bar que dá nome à série, mas, para mim, seu grande destaque é a enganosa simplicidade de sua estrutura. Como toda série duradoura que se passa quase que exclusivamente em um único cenário, é essencial que seus alicerces sejam bem estabelecidos logo de cara, mas que, ao mesmo tempo, haja flexibilidade para que novas histórias sejam contadas e novos personagens sejam constantemente introduzidos, mas sem que os arcos narrativos sejam interrompidos ou esquecidos.

Give Me a Ring Sometime, piloto da série que foi ao ar em 1982, é, sendo muito objetivo, uma masterclass televisiva de construção dos mencionados alicerces. A cold open com um garoto tentando conseguir uma cerveja com identidade militar falsa que “atesta” que ele tem 38 anos chega a ser banal em sua obviedade e até mesmo no humor, mas ela funciona como o instrumento que nos permite ver um pouco dos fundos do bar, com Malone sendo revelado como um dono cuidadoso e orgulhoso ao ajeitar uma fotografia na parede e o cenário principal ainda quase que completamente vazio. O icônico bar retangular central é a vida de Cheers e, mesmo sem personagens ao seu redor, ele consegue criar uma espécie de conforto visual que é raro de ser alcançado assim de primeira, nos primeiros segundos de um primeiro episódio.

E é assim que a mágica da série começa, pois, logo depois da inesquecível e inebriante canção-tema Where Everybody Knows Your Name, composta para a série por Gary Portnoy e Judy Hart Angelo, com performance de Portnoy, somos apresentados a Diane Chambers (Shelley Long), uma estudante de literatura da Universidade de Boston deslumbrada por seu professor mais velho Sumner Malone (Michael McGuire em uma participação especial que se repetiria, com parcimônia, na 2ª e 5ª temporadas) que acabara de propor casamento, com a cerimônia a acontecer no dia seguinte em Barbados, no Caribe. No momento em que essa informação nos é passada, nós sabemos que o casamento não acontecerá, algo que é partilhado pelo próprio Malone, que mantém seu cinismo constantemente.

O roteiro é, como tudo na série, básico e simples, mas ele é também cirurgicamente composto. Não há palavras sobressalentes aqui, nem digressões que levam mais tempo do que exatamente o necessário. O foco, neste piloto, é substancialmente no contraste. Contraste primeiro entre Diane e Sumner e, depois, lógico, entre Diane e Sam. Pode-se muito bem dizer que Sumner está para Diane, assim como Diane está para Sam e, se continuarmos essa brincadeira, veremos também o contraste entre Sam e a amarga e direta garçonete Carla Tortelli (Rhea Perlman) e os clientes que vão chegando a conta gotas, alguns deles figurinhas constantes ao longo de toda a série. É um artifício óbvio esse do contraste, mas é, também, muito eficiente e didático sem parecer didático. Aprendemos tudo o que precisamos saber sobre aquela situação imediatamente, sem firulas e o humor ver também daí e do excelente trabalho de Danson – fazendo um Sam seguro de si, cínico, sarcástico e arrogante – em oposição ao de Long, que constrói sua Diana como uma mulher inocente, deslumbrada, mas altamente inteligente e perspicaz, resultando em dois personagens apaixonantes (com exceção do penteado ridículo de Danson, devo admitir) com química imediata e, como seria o caso, duradoura (Long sai na 5ª temporada da série).

Cheers é uma das grandes comprovações de que menos é quase sempre mais. A única coisa que esse “menos” realmente precisa ser é cuidadosamente construído para capturar mentes e corações e isso é exatamente o que a série criada pela trinca formada por Glen Charles, Les Charles e James Burrows faz nesse começo irretocável de uma sitcom inesquecível.

Cheers – 1X01: Give Me a Ring Sometime (EUA, 30 de setembro de 1982)
Criação e desenvolvimento:
Glen Charles, Les Charles, James Burrows
Direção: James Burrows
Roteiro: Glen Charles, Les Charles
Elenco: Ted Danson, Shelley Long, Nicholas Colasanto, Rhea Perlman, George Wendt, John Ratzenberger, John P. Navin, Jr., Michael McGuire
Duração: 24 min.

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