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Crítica | Chew – Vol. 1: Taster’s Choice

Uma delícia de começo.

por Ritter Fan
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Não li os encadernados seguintes de Chew ainda, mas, a julgar pelo que John Layman faz aqui em Taster’s Choice, o arco inicial, não creio que eu vá demorar muito para devorar (he, he, he) os demais capítulos desta história que ele, juntamente com o desenhista Rob Guillory, que toma conta de toda a arte, criaram em 2009 e que durou até 2016, com 60 edições ou 12 volumes. O que a dupla faz no volume inicial é uma fascinante história de origem mesmo considerando que o protagonista, Tony Chu, e o mundo em que vive, assustadoramente parecido com o que vivemos neste momento, já “sejam o que eles são” desde a primeira página, que prende o leitor não só pela premissa inusitada, como pela forma quase cinematográfica com que a história é contada e pelos personagens cativantes que são apresentadas.

Afinal, como não ficar curioso com o policial Tony Chu que, como aprendemos logo de início, é um cibopata ou, traduzindo, alguém capaz de fazer leituras psíquicas daquilo que come. Mais precisamente, como a descrição inicial deixa clara, “isso significa que ele pode morder uma maça e ter uma sensação em sua mente sobre qual árvore ela cresceu, que pesticidas foram usados e quando ela foi colhida”. Mas isso vale também para qualquer outra comida, inclusive carne e especialmente carne humana, o que torna sua vida gourmet um verdadeiro inferno – somente beterrabas deixam de causar qualquer manifestação psíquica, pelo que sua dieta normal é composta apenas disso -, mas lhe dá vantagens em seu trabalho, mesmo que, para obter todos os frutos possíveis, ele tenham que recorrer ao canibalismo.

Mas tem mais, pois Chu ser um cibopata é o aspecto micro da narrativa. No macro, o mundo que Layman cria é um que passou por uma terrível pandemia de gripe aviária que mato milhões ao redor do globo (não disse que era uma premissa assustadoramente parecida com o momento atual?), levando os EUA a proibirem o comércio de aves para consumo. O resultado é que, como na época da Lei Seca, o frango passou a ser altamente cobiçado e, claro, contrabandeado pelas mais diferentes organizações criminosas. É durante a investigação de uma delas que Chu acaba saindo da força policial em que trabalha para tornar-se um agente da toda-poderosa FDA ou Food and Drug Administration (o equivalente americano da nossa ANVISA), trabalhado sob um chefe que o odeia com todas as forças e ao lado do fleumático e gigantesco Mason Savoy, outro cibopata e que Guillory descreve como o filho de Orson Welles com um urso-pardo.

Tony Chu recebendo uma “leitura psíquica” do que come.

O primeiro arco é, como disse, de origem e, portanto, focando na construção de mundo e de personagens. Chu é, sem dúvida alguma, o centro das atenções, com Savoy correndo logo atrás e a bela Amelia Mintz, uma crítica gastronômica com um poder excelente e muito particular também relacionado com comida, mas que não revelarei aqui para preservar o leitor, recebendo algum destaque como o interesse romântico do protagonista. Essa economia de personagens é uma bênção, pois Layman, com isso, tem tempo para trabalhá-los com calma e, mais ainda, Guillory tem espaço para fazer de sua arte um ponto importante de atenção ao longo da história, já que seus traços que tendem a ser exagerados e caricatos, ajudam a suavizar o impacto da violência e nojeira de algumas situações e que pode ser que exija uma curva de “costume” por parte de alguns leitores.

Como primeiro arco, o trabalho de Layman e Guillory é fascinante, mas não completamente sem problemas. No entanto, os problemas que detectei são muito claramente presos à natureza introdutória desta cinco primeiras edições compiladas, ou seja, a dupla traz questões que parecem estranhas e completamente fora de contexto e não oferecem quais explicações, como é a introdução de um elemento de pura ficção científica, um momento WTF? total, que chega a tirar o leitor da história – no meu caso, tive que reler umas três vezes para conferir se era isso mesmo -, mas que ao mesmo tempo gera curiosidade extrema para saber como é que isso será contextualizado. Igualmente, o arco inicial depende de uma reviravolta final que, se não é exatamente original, talvez pudesse ter sido abordada de outra maneira, chocando menos e explicando um pouco mais. Só que, assim como no caso do elemento sci-fi, sou o primeiro a dizer que a puxada de tapete que o texto faz ao final e a forma como Guillory desenha a violência exacerbada dessa sequência só tem um resultado, que é criar ansiedade pela leitura do próximo encadernado.

Em outras palavras, Taster’s Choice usa premissas absolutamente fascinantes e tropos clássicos de quadrinhos e filmes para literalmente pegar o leitor pelo estômago de tal forma que é uma luta para não ceder à tentação e correr para engolir o volume seguinte em uma dentada só. A julgar por esse começo, Chew parece ser uma deliciosa – ainda que por vezes revoltante e nojenta – jornada por um mundo estranho e indigesto que simplesmente não dá para parar de ler.

Chew – Vol. 1: Taster’s Choice (EUA, 2009)
Contendo: Chew #1 a 5
Roteiro: John Layman
Arte: Rob Guillory
Cores: Rob Guillory
Capas: Rob Guillory
Editora: Image Comics
Data original de publicação: junho a novembro de 2009
Páginas: 129

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