Home TVTemporadas Crítica | Chicago Med: Atendimento de Emergência – 1ª Temporada

Crítica | Chicago Med: Atendimento de Emergência – 1ª Temporada

Mais do mesmo, mas interessante, envolvente e dinâmico.

por Leonardo Campos
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O desfecho como espectador da primeira temporada de Chicago Med: Atendimento de Emergência foi acompanhado por uma sequência de eventos médicos curiosamente calculados pelo destino. Entediado na sala de espera durante atendimento para uma consulta importante, lia o primeiro capítulo do livro A História e Evolução dos Hospitais, publicação de 1944, reeditada em 1965. O “gigante” de 588 páginas me saltou diante dos olhos enquanto fazia uma entrega na biblioteca da instituição que trabalho, antes de seguir para a tal consulta citada anteriormente. Envolvido com a temática, decidi levar o livro como “passatempo”, principalmente pelo fato de ter a certeza de que nossos atendimentos hospitalares infelizmente estão longe dos idealismos das séries médicas mais famosas da televisão. Com citações aos clássicos homéricos Ilíada e Odisseia, em especial, aos cantos IV de cada obra poética grega, com passagens sobre a busca de cuidados por ferimento em Menelau e a figura do “médico” como “exceção”, curioso observar como ao longo da história da humanidade, tais figuras sociais nem sempre foram vistas como heróis.

Até meados do século XIX, por exemplo, os médicos eram tidos como vigaristas que faziam estabeleciam mais o mal que o bem para as pessoas que careciam de cuidados. Quem traz isso é o sociólogo Joseph Town, ao versar que nesta época, muitos estadunidenses (sim, é uma publicação de lá) se encolhiam só de pensar na possibilidade de pedir ajuda, pois tais figuras eram pessoas que pagavam por seus estudos e diplomas e abriam as suas clínicas sem nem sempre ter a qualificação apropriada para o exercício da medicina, pois esta era uma instituição que ainda se formava e não tinha a credibilidade necessária para transmitir segurança na época. Em linhas gerais, a leitura do primeiro capítulo do livro que radiografa a história dos hospitais foi proveitosa, pois além de ter sido finalizada dentro do longo tempo de espera do atendimento citado na abertura desta reflexão, me permitiu compreender que o interesse do homem em salvar vidas não é apenas uma prerrogativa dos médicos de programas de televisão na linha de Chicago Med: Atendimento de Emergência, série que dialoga com Grey’s Anatomy, mas ressoa mais como a agitação e urgência demonstrada na já clássica Plantão Médico.

Criada por Dick Wolf, a narrativa que radiografa o cotidiano de médicos, enfermeiros e pacientes do Chicago Medical Center é repleta de ação e divide as suas histórias entre os casos variados para resolução a cada episódio, desde vítimas de sinistros de trânsito, PAF (perfuração por arma de fogo), estupro, deslizamentos aos acontecimentos mais incomuns, tais como ataques de animais selvagens, infecções por contato com bactérias e vírus raros, dentre outros. É uma produção sem marasmo, com desenvolvimento geralmente agitado, com momentos de reflexão e diálogos mais profundos em sua abertura e desfecho, quando os personagens centrais do episódio transmitido retomam as suas atividades pessoais e colocam em perspectiva as suas ações não apenas com os pacientes, mas o diante do sistema em geral. Segunda série derivada da franquia iniciada com Chicago Fire, lançada após Chicago PD, o drama médico em questão é conduzido de maneira eficiente nos quesitos dramáticos, além de apresentar elementos cuidadosos em sua concepção estética, algo que torna o programa, em todas as suas temporadas até então, atraente.

No design de produção, os cenários, direção de arte e adereços cumpre os requisitos de uma série médica consciente dos elementos que precisam compor os seus espaços. Da primeira a terceira temporada, Lori Agostino assumiu a concepção visual do programa, mantendo o nível de qualidade e a constante identidade com as habituais paletas azuladas e esverdeadas, próprias deste tipo de ambiente que também investe em vários cenários com vidraças, mantendo os personagens em momentos de transparência, mesmo que nem sempre possamos ouvir o que se comenta do outro lado de uma sala. Na terceira e quarta temporada, Chloe Arbiture assumiu a função, levada adiante por Stephaine Gillian até então. Com maquiagem e efeitos assinados pela equipe de Crystal Portillo, Chicago Med: Atendimento de Emergência não é uma série focada em vísceras e fraturas, mas em seus poucos momentos assim, também consegue dar conta do recado. O mesmo pode se dizer de Atli Orvarsson na condução musical, sem momentos memoráveis, mas devidamente adequada para as necessidades do programa.

Os figurinos assumidos por Susan Kaufmann seguem a padronização dos fardamentos hospitalares, com breves momentos de inspiração estilosa quando os médicos, enfermeiros e seus cônjuges estão em alguma situação/ evento externo ao local de trabalho. Na direção de fotografia, o drama médico até então não substituiu o seu profissional responsável, Lex DuPont, outro integrante da equipe que consegue manter a tonalidade dos episódios desde o piloto, num trabalho eficiente, dos enquadramentos ao processo de movimentação dentro do hospital tomado por momentos de urgência e emergência. Com episódios de 40 minutos em média, a produção mescla temporadas com quantidade próxima aos vinte episódios, oscilando a depender da época ou, como no caso da pandemia da COVID-19, da possibilidade de manter tudo funcionando. Donald Petrie, Michael Waxman, Charles S. Carroll e Fred Burner dividiram a direção do primeiro ano, cada um com 5, 17, 10 e 7 capítulos dirigidos, respectivamente, realizadores que assumiram os textos da sala de roteiristas composta por Michael Brandt, Matt Olmstead, Derek Haas e Dick Wolf, este último, como mencionado, criador da série e idealizador dos personagens que delinearei num breve, mas panorâmico painel no tópico seguinte.

Ao longo da primeira temporada, Will Halstead (Nick Gehlfuss) é o residente irmão de um detetive da série policial que integra a franquia. Ele é um dos que compõem a alma do hospital, mantendo-se sempre atento ao que necessitam os pacientes e colegas, interesse amoroso de Natalie Manning (Torrey DeVitto), pediatra que é mãe e lida com o luto pelo marido, morto numa missão enquanto servia para o exército estadunidense. Ela e Will vão protagonizar alguns momentos tensos, confusos entre o que é profissional e pessoal. Eles dividem o espaço de trabalho com o Dr. Ethan Choi (Brian Tee), membro da equipe que serviu para a Marinha e age de maneira muito firme em seus atendimentos e na relação com os pares médicos, também muito idealista, tal como a maioria dos profissionais do Chicago Med. Daniel Charles (Oliver Platt) é o psiquiatra da unidade, responsável por identificar traços além das questões físicas identificadas pelos médicos e enfermeiros. Paizão do hospital, ele é o mentor de muitos personagens, mas também atravessa diversos momentos de dificuldade ao longo de sua trajetória.

Maggie Lockwood (Marlyne Barret) é uma das figuras mais importantes e carismáticas do drama médico, enfermeira que ao lado de April Sexton (Yaya DaCosta), compõe o quadro de personagens mais interessantes. Juntas, elas protagonizam muitos bons momentos profissionais e também de demonstração afetuosa com os seres humanos desesperados que entram pelas portas do hospital. Maggie é quem coloca ordem na enfermaria, ajusta os pacientes, comanda administrativamente tudo, tendo sempre a colaboração de April, profissional competente e com interesses além da enfermagem, com conhecimentos médicos preponderantes para a resolução de alguns casos. Na direção da unidade, temos outra mulher forte, Sharon Goodwin (S. Epatha Merkerson), responsável pela resolução de muitos dilemas dos seus médicos e pacientes, experiente na área com sua atuação como enfermeira da cirurgia no passado. É com ela que as decisões mais difíceis precisam ser tomadas, mesmo que diante dos desafios, os funcionários queridos e respeitados tenham que sofrer algum tipo de punição. É uma personagem justa.

Dr. Connor Rhodes (Colin Donnell) é outro médico competente do quadro, mas extremamente difícil de lidar no lado pessoal, haja vista a sua arrogância constante e masculinidade em estado excessivo durante muitos momentos de interação com outros colegas no trabalho. Filho de um homem poderoso, ele assume o posto de garoto rebelde, às vezes inconsequente, mas nunca desqualificado para a função de cirurgião do trauma. Além destas figuras mais centrais, a série traz interações com Caroline Charles (Paula Newsome), esposa do psiquiatra interpretado por Oliver Platt; Isidore Lathom (Ato Essandoh), cirurgião autista que entrega momentos bem desafiadores; Noah Sexton (Roland Buck III), irmão de April que estagia na unidade; Gwen Garret (Heather Headley), a durona diretora de finanças que se coloca como obstáculo para a direção de Sharon diariamente; Ava Becker (Norma Kuhling), médica que evolui de maneira psicótica ao passo que as temporadas avançam; Sarah Reese (Rachel DiPilho) segue na emergência, se desencanta e decide a patologia, parte para a psiquiatria posteriormente e vai ser também desafiadora para o Dr. Charles em diversos episódios, até sair da produção na quarta temporada.

Na segunda temporada, a maioria dos personagens deste primeiro ano estão de volta, mergulhados em momentos de tensão na emergência deste hospital repleto de desafios. Os casos continuam complexos e os relacionamentos pessoais igualmente conflituosos, mas sem as doses exageradas de romance que transformou a maior referência no formato, Grey’s Anatomy, um manancial de bobagens em meio aos bons momentos de reflexão propostos pela equipe do sucesso criado por Shonda Rhimes. Enquanto terminava o texto, já tinha pululado do mencionado A História e Evolução dos Hospitais para Breve História do Hospital, material que deve ganhar ressonâncias nas críticas das próximas temporadas, conteúdo que sempre ajuda na compreensão do interesse da sociedade por essa temática que dialoga com algo muito valioso para qualquer ser humano: a interação de pessoas em prol da salvação de vidas.

Chicago Med: Atendimento de Emergência – 1ª Temporada (Chicago Med, Estados Unidos/2015)Criação: Matt Olmstead, Dick WolfDireção: VáriosRoteiro: VáriosElenco: Nick Gehlfuss, YayaDaCosta, TorreyDeVitto, Brian Tee, Marly Barrett, S. EpathaMerkerson, Oliver Platt, Colin DonnellDuração: 43 min. (Cada episódio – 18 episódios no total)

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