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Crítica | Chucky – 1X05: Little Little Lies

Quando o cânone atropela a história principal.

por Iann Jeliel
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  • Há SPOILERS! Acompanhe por aqui nossas críticas semanais da série do brinquedo assassino e aqui todo nosso material sobre Chucky.

Desde quando a série começou com a proposta adolescente revigorante, mas, ao mesmo tempo, prometendo responder todas as perguntas do cânone do brinquedo assassino, me questionei com bastante curiosidade como seria a inserção natural da continuidade da história dos filmes dentro dessa nova trama. Até então, o crossover vinha sendo preparado somente por pistas e menções sutis a elementos passados – Andy (Alex Vincent) telefonando para Jake (Zackary Arthur), Chucky (Brad Dourif) falando que seu filho Gleen/Gleenda (Billy Boyd) existe nesse  universo, os flashbacks do passado de Charles Lee Ray –, que não atrapalhavam o andamento narrativo principal e deixavam os consumidores ávidos da mitologia de Chucky imaginando inúmeras possibilidades bem imprevisíveis, dado os caminhos traçados episódio a episódio.

 Informo com muito pesar que em Little Little Lies a criatividade dos roteiristas para novas situações na história principal parece ter acabado. Pelo menos isoladamente , pois abruptamente a história transita para a continuidade canônica dos filmes da maneira mais preguiçosa imaginável. Além de ser repentina e muito autoexplicativa, freia o bom desenvolvimento da trama principal num típico “episódio de meio” onde  pouco acontece e o que acontece é nítido ser pura enrolação. Era o momento adequado para desenvolver o novo trio de personagens formado por Jake, Lexy (Alyvia Alyn Lind), Devon (Bjorgvin Arnarson) – que pode e deve ser um quarteto com Junior (Teo Briones), “esquecido no churrasco” – começando a transformar a união disfuncional criada pela situação numa verdadeira formação de time de amigos oitentistas à la Stranger Things.

Apesar de ter as cenas semelhantes com Jake e Devon passeando de bicicleta ao fim da tarde nas ruas do subúrbio (“mó bonitinho” aquele momento do beijo), as cenas em que os três discutirem secretamente como vão encontrar o boneco e o que vão fazer quando tiverem com ele não repercutem em um desenvolvimento real da química entre a dupla , porque o episódio se expõe, indicando que isso pode ser feito depois na série (talvez já em quarteto) quando endireita um caminho previsível da narrativa com as explicações do cânone para o público geral. Compreendo a estratégia de querer contextualizar bem a cronologia da franquia para aqueles que a começaram por essa série, usando o pretexto de conexão com os filmes do cinema para soar como algo surpreendente para esse público, até para ser um chamariz que os incentive a ver tudo que veio antes.

No entanto, Little Little Lies acaba só matando tempo no núcleo das crianças procurando o Chucky (com a direção fingindo criar um suspense sobre onde ele está) até surgir a oportunidade de ele usar seu poder de repartir sua alma em outro boneco – Nathan (Michael Therriault) dá um novo Good Gye para Caroline (Carina Battrick) que negou Chucky por estar com meia cara derretida – para se safar do acúmulo de suspeitas que levantou com os assassinatos e, assim, Tiffany (Jennifer Tilly) e Nica (Fiona Dourif) entrarem na narrativa em núcleo paralelo, justificando expositivamente de onde veio essa capacidade do personagem com uma retrospectiva fan-service da sua trajetória nos filmes anteriores. Os flashbacks mostrando como Charles conheceu Tiffany (Blaise Crocker) na adolescência até tentam fornecer uma naturalidade à  transição, ao colocar Nica (possuída pela alma de Charles) e Tiffany transando no mesmo quarto em que eles se conheceram no passado, mas isso não é suficiente para retirar a estranheza de que a série vira mais um “oitavo filme” daqui para a frente do que continuação de si própria.

Eu já não gosto dessa ideia vinda do Culto de Chucky, porque traz um cenário propício para o roteiro transformar o caos e caráter aleatório divertido do boneco em pura e simplesmente uma baderna dele fazendo o que quer sem motivo nenhum. Justamente essa impressão de que fico com o assassinato da semana da diretora do colégio, McVey (Jana Peck), sendo decapitada em uma reunião pública. Como vai ser tratada a repercussão da comunidade? Isso porque as mortes de Oliver (Avery Esteves) e Detetive Peyton (Travis Milne) deveriam ter sido mais repercutidas em vez  de dar enfoque ao relacionamento difícil (que já sabíamos) de Michelle (Barbara Alyn Woods) com a filha, ou a revelação segredo de Bree (Lexa Doig) – colocado no primeiro episódio como se fosse traição, mas revelado aqui como um diagnóstico de câncer terminal – que não repercutiria em nada os eventos específicos do capítulo.

Little Little Lies é um passo perigoso para a Chucky virar a bagunça que se tornou sua filmografia. Vamos torcer para que seja somente um erro de percurso.

Chucky – 1X05: Little Little Lies | EUA, 9 de Novembro de 2021
Criação: Don Mancini, David Kirschner, Nick Antosca
Direção: Leslie Libman
Roteiro: Harley Peyton, Rachael Paradis, Nick Zigler, Sarah Acosta, Kim Garland
Elenco: Zackary Arthur, Bjorgvin Arnarson, Alyvia Alyn Lind, Teo Briones, Brad Dourif, Lexa Doig, Fiona Dourif, Barbara Alyn Woods, Michael Therriault, Rachelle Casseus, Carina Battrick, Jana Peck, Blaise Crocker, Rosemary Dunsmore, Devon Sawa, Jennifer Tilly, Annie Briggs, Neil Babcock, Eric Tzogas, Joseph Daly, Samantha Brown, Marienne Castro, Nick A Fisher
Duração: 42 minutos

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