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Crítica | Chucky – 1X08: An Affair to Dismember

Um final tosco, no pior e melhor dos sentidos.

por Iann Jeliel
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An Affair to Dismember

  • Há SPOILERS! Acompanhe por aqui nossas críticas semanais da série do brinquedo assassino e aqui todo nosso material sobre Chucky.

“Here’s Chucky!”

Devo admitir que não estava animado para An Affair to Dismember dada a decaída brutal de qualidade nos últimos três episódios, que ignoram toda e qualquer lógica de construção dos quatro primeiros episódios. Nessas circunstâncias, acabou acontecendo o que na minha cabeça era a melhor das hipóteses: um episódio isoladamente divertido prejudicado como conclusão pela falta de uma boa construção dos anteriores. Ainda que tenha problemas fora o fechamento de coisas que só tinham como ser boas se o sequenciamento fosse também, o mais importante é que a season finale, por meio das progressões avançadas que a história trilhou com ampla velocidade, da metade para o fim, encontrou e conseguiu admitir seu tom pastelão como o principal, podendo ajustá-lo em coerência com a  unidade numa próxima temporada, já com renovação encaminhada.

Falo especificamente do uso da metalinguagem que aparece em doses interessantes nesse capítulo final. É verdade que ela é pensada muito para ser um escudo aos acontecimentos com falta de lógica e buracos de roteiro do que um elemento novo colocado de maneira inteligente e natural para potencializar o clímax, mas “tá valendo”. A franquia já admitiu essa característica desde A Noiva de Chucky, então agora que a história segue a continuidade canônica, sua aparição parece ser bem-vinda na linguagem e transita o tom deliberadamente mais para a comédia, abandonando em An Affair to Dismember quaisquer resquícios dramáticos remanescentes – que começaram interessantes, mas dificilmente se sustentariam depois de tudo que aconteceu –, bem como qualquer tentativa de um suspense mais sóbrio – com exceção da boa cena de tensão na abertura do episódio –  sob a vida de qualquer personagem.

Em outras palavras, virou 100% galhofa (e não, a série, episódios atrás, não era e não pretendia ser 100% galhofa). E sendo assim, ainda mais na metalinguagem, há várias tosqueiras mais fáceis de relevar. Não faltam exemplos no episódio. Começo falando do arco de Junior (Teo Briones), que inesperadamente não me incomodou mais tanto aqui, apesar de sofrer de viradas de personalidade ainda mais abruptas que as fizeram matar seu pai (Devon Sawa). Não tinha nem algumas horas que havia cometido o primeiro assassinato e o personagem parece ter sofrido uma lavagem cerebral completa, soltando sorrisinhos psicopatas extremamente forçados, adentrando ao  ninho de Chuckys (Brad Dourif) junto a Tiffany (Jennifer Tilly) e Nica (Fiona Dourif), olhando aquilo com a maior naturalidade do mundo e, ainda assim, no derradeiro momento em que o boneco arma uma situação para que ele mate Lexy (Alyvia Alyn Lind), apenas um discursinho mequetrefe e choroso da ex-namorada sobre o amor o comove, o que é suficiente para uma redenção acompanhada de morte.

Nada disso incomoda porque são mudanças tão absurdas que o próprio Chucky (vulgo o roteiro) debocha do quanto são antiquadas: “Acho que vou vomitar” é a frase que o brinquedo solta depois do que Lexy fala, e é bem o sentimento do público na cena. O fato do plano de Chucky ser meramente convencer qualquer jovem a matar alguém para poder realizar o seu ritual voodoo e possibilitá-lo de criar um exército dele próprio para espalhá-los pela América, também acaba sendo uma saída plausível para o roteiro justificar as suas atitudes de caráter aleatório durante temporada e neste próprio episódio. Isso deixa a matança no cinema e as várias mortes dos diferentes Chucky – minha favorita: Jake (Zackary Arthur) estrangulando o boneco até seus olhos saírem para fora – bem mais divertida de acompanhar porque seguem uma aleatoriedade calculada no contexto humorizado plenamente assumido e com gore exagerado bastante caprichado. Vale destacar que havia questionado a falta de sentido na escolha de exibir Frankenstein no episódio passado, mas acabou sendo uma predileção criativa por assumir um papel de apresentar referências diegéticas aos acontecimentos em cena

Ficou mais claro em An Affair to Dismember que os vários Chuckys, apesar de serem almas compartilhadas de uma mesma pessoa, têm pensamentos próprios individualizados – como demonstrado na ótima cena em que eles discutem qual a idade mínima que se pode matar um bebê. Isso também ajuda a justificar que cada um siga seu caminho e seu arbitrário instinto assassino. Tanto que Tiffany mata um deles que estava enchendo o saco, mas isso não muda o plano dos dois, nem o coloca em risco. Pode colocar no futuro, caso as outras almas saibam de que ela foi a responsável por entregá-lo à cadeia. Só não entendi mesmo por que colocar a Tiffany para explodir a casa. Só traz furos desnecessários ao episódio que não podem ser desvencilhados com a comédia. Como Devon (Bjorgvin Arnarson) e Andy (Alex Vincent) escaparam da explosão? E se eles escaparam (não mostra como), por que não mostraram que Kyle (Christine Elise) possivelmente também escapou? Aliás, a participação dos dois personagens foi bem discreta e ainda bem que não morreram ali, porque seria absolutamente anticlimático.

Como o próprio Chucky admite no final, quando ele quebra a quarta parede `a la Ferris Buller (com direito ao mesmo roupão de pijaminha com listras vermelhas), os dois personagens clássicos (bem como Tiffany versão boneco – que aparece na última cena dentro do caminhão com os vários Chuckys) parecem que serão o centro das atenções numa próxima temporada. Até por isso, penso que seria melhor se Chucky seguisse somente os novos personagens e a proposta adolescente colegial do início ao fim desse primeiro ano, trazendo a ponte dela com a continuidade do universo canônico dos filmes apenas na season finale, possibilitando mais tempo de desenvolvimento e criação de um terreno fértil para o teor satírico no-sense adentrar de maneira ainda mais divertida. Apesar dessas condolências, An Affair to Dismember consegue deixar o saldo de uma temporada que quase se perdeu completamente, como positivo.

Chucky – 1X08: An Affair to Dismember | EUA, 30 de Novembro de 2021
Criação: Don Mancini, David Kirschner, Nick Antosca
Direção: Jeff Renfroe
Roteiro: Harley Peyton, Nick Zigler, Sarah Acosta, Kim Garland
Elenco: Zackary Arthur, Bjorgvin Arnarson, Alyvia Alyn Lind, Teo Briones, Brad Dourif, Fiona Dourif, Barbara Alyn Woods, Christine Elise, Alex Vincent, Michael Therriault, Blaise Crocker, Carina Battrick, Jennifer Tilly, Annie Briggs, Nick A Fisher, Raggy Sharma
Duração: 54 minutos

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