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Crítica | Churchill

por Guilherme Coral
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Nenhuma ficção histórica ou de época conta com a obrigação de ser historicamente precisa – cobrar completa veracidade por parte da ficção é, no mínimo, ingenuidade, visto que a obra tem o direito de realizar as necessárias mudanças a fim de construir sua narrativa. À partir do momento que um longa-metragem assume a posição de explorar dias históricos específicos, sob o ponto de vista de uma importante figura política, enquanto foca em sua linha de raciocínio, porém, certo compromisso com a realidade se faz necessário – algo que é completamente abandonado em Churchill.

O filme nos situa nos dias que precederam o importante dia D, que marcou o início da liberação da França ocupada pelos nazistas. Winston Churchill (Brian Cox), à época primeiro-ministro britânico, demonstra ser contra o plano vigente da invasão à Normandia, indo de encontro com o general Eisenhower (John Slatery) e o próprio general Montogomery (Julian Wadham). O que vemos, a partir daí, são sucessivas tentativas do ministro em acabar ou alterar o plano, com questionamentos sobre sua sanidade sendo levantadas por aqueles ao seu redor.

De fato, inicialmente Churchill demonstrara receio em relação à operação Overlord, levando em conta o alto risco representado às milhares de tropas que desembarcariam no Dia D. Isso, porém, se passou meses antes da invasão e não dias – o plano final, inclusive, foi realizado, também, pelo próprio Churchill, portanto, a falta de veracidade história do roteiro de Alex von Tunzelmann é mais que evidente. Como dito no parágrafo inicial, isso não seria um problema caso a narrativa justificasse tais alterações, mas não é isso o que ocorre – o que ganhamos é um retrato um tanto distante da realidade dessa figura política, que o transforma em um homem incapaz de enxergar que está errado.

O texto poderia até utilizar essa obsessiva preocupação de Winston para criar um arco dramático envolvente, algo que passa longe do resultado final de Churchill, que mais parece a incessante repetição da exata mesma coisa, por longos 105 minutos. Não há evolução qualquer de personagem, ou até mesmo qualquer profundidade nesse mergulho no psicológico do ministro, apenas intermináveis discursos sobre o porquê dessa operação ser arriscada demais, pautados em argumentos, que, quando são rebatidos, apenas retornam com roupagem diferenciada, mostrando que o protagonista nada mais é que alguém incapaz de deixar sua linha de raciocínio de lado, mesmo que à favor do óbvio, sendo tratado como uma relíquia teimosa da Primeira Guerra.

A direção de Jonathan Teplitzky até tenta fazer com que nos importemos com o dilema moral da obra e a eterna preocupação do ministro britânico. Planos contemplativos são utilizados, contrapondo o protagonista com alguma paisagem, intercalados com focos no rosto do personagem, a fim de demonstrar a dor que ele toma para si. Infelizmente, sem o apoio de qualquer credibilidade passada pelo texto, tudo isso se perde, por mais que Brian Cox esteja excelente no papel, fazendo mesmo os mais repetitivos e excessivamente dramáticos diálogos não soarem como algo tirado de uma telenovela.

De maneira maniqueísta, colocando o primeiro-ministro britânico contra todos os outros, a narrativa de Churchill é construída, não funcionando nem como mergulho no psicológico de uma importante figura política, nem como filme histórico. É incerto o porquê do texto de Alex von Tunzelmann ter se distanciado tanto da realidade, visto que não havia a menor necessidade, considerando a importância desse momento, sabemos apenas que tais mudanças tiraram a força de um filme, que poderia funcionar um pouco melhor se sua história se passasse alguns meses antes da operação Overlord. O que ganhamos, no fim, é algo extremamente repetitivo, que nos cansa logo no primeiro terço.

Churchill — Reino Unido, 2017
Direção:
 Jonathan Teplitzky
Roteiro: Alex von Tunzelmann
Elenco: Brian Cox, Miranda Richardson, John Slattery,  Julian Wadham, Richard Durden, Ella Purnell, Danny Webb, Jonathan Aris, James Purefoy
Duração: 105 min.

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