Home FilmesCríticas Crítica | Cidade Fantasma (2020)

Crítica | Cidade Fantasma (2020)

por Frederico Franco
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Em tempos em que a razão instrumentalizada que Horkheimer a ousadia inicial de Cates surpreende. O cinema materialista, muito representado por Tscherkassky no século XXI, se mostra vivo ao longo dos primeiros minutos. Se Peter Gidal propõe uma ratificação da forma material do filme e um entendimento da natureza antinatural da película, 鬼鎮 [Ghosttown] consegue esse feito por um curto período de tempo. 

A ideia de uma dialética entre espectador e filme, é propósito fundamental da construção do filme material e está presente na obra de Cates. É inevitável não recordar dos planos gerais de John Ford a partir dos enquadramentos do filme – e aqui se constitui a parte do espectador. Por outro lado, é Cates quem intervém no material instigando o público a estabelecer relações simbólicas com a montagem de atrações proposta por ele. A ironia construída pelo diretor é cativante, a ponto de arrancar risadas a partir da subversão do gênero do western. Enquanto nos originais os valores da força do desbravador genocida do oeste são exaltados, em 鬼鎮 [Ghosttown] satirizados. O herói protagonista, ao contrário de figuras como John Wayne, possui uma imposição física nula, beirando o patético, tragicômico. Aliando isso à imagem suja, oposta àquela idealizada nos áureos tempos do faroeste, o diretor vinha construindo uma potente crítica aos valores estadunidenses a partir de uma abordagem puramente material.

Contudo, a ideia proposta por Cates nos primeiros minutos se perde. Adicionando um cínico voice over que parece repetir à exaustão tudo aquilo que as relações imagéticas construíram. A entrada de uma errante linha narrativa transforma o filme em uma bagunça de ideias que não sabe para onde correr. Tornando a encenação mais normativa, 鬼鎮 [Ghosttown] larga a crítica moral através de aspectos formais do cinema e apela para uma exposição verbal de suas ideias acerca da moral estadunidense dos westerns.

O grande problema, aqui, é o claro desequilíbrio entre um cinema dialético, que vê no espectador uma figura central na construção da película – como bem acreditava Eisenstein e Kuleshov – e uma crítica expositiva baseada em uma verbalização preguiçosa de ideias. E a grande questão, aqui, não é afirmar que um movimento crítico apoiado no discurso verbal seja algo prejudicial a todo e qualquer filme; o problema é a falta de coesão estética entre esse e o cinema materialista.

O debate entre a problemática da razão instrumentalizada e de uma proposta que veja o espectador como elemento construtor do filme, ou obra de arte como um todo, é algo vigente desde os estudos de vanguarda nos anos 1960. 鬼鎮 [Ghosttown] consegue flertar de maneira produtiva com um cinema que se propõe a análise material da película em seus momentos de maior inspiração, mas acaba por sucumbir a uma ideia que contradiz o que Cates construiu anteriormente. O saldo do filme é um levantamento que transcende seu próprio conteúdo. 

Valorizar Tscherkassky, por exemplo, é necessário. Em tempos em que tudo é imposto ao espectador, é fundamental reconhecer um trabalho que retira a audiência de um estado extasiado ao longo da assistência da obra. Cates flerta com isso em 鬼鎮 [Ghosttown], mas parece que, ao final das contas, foi mais importante deixar claro seu discurso do que construí-lo.

Ghosttown (鬼鎮) – EUA, 2020
Direção: Jon Cates
Roteiro: Jon Cates
Duração: 65 min.

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