O romance urbano, também conhecido como Romance de Costumes, é um recorte dentro do gênero literário em questão que retrata a sociedade brasileira do Segundo Reinado, com foco particular no Rio de Janeiro, local central para muitos escritores proeminentes do século XIX, como foi o caso de José de Alencar. Essas obras, como Cinco Minutos e A Viuvinha, analisadas por aqui, exploram as intricadas relações amorosas e as desigualdades econômicas da vida urbana, abordando aspectos negativos dos costumes burgueses. Embora frequentemente tratem de questões sociais e políticas, os enredos costumam culminar em finais felizes, ressaltando a vitória do amor. A narrativa se concentra na cidade como o principal espaço de ação, refletindo os desafios e as peculiaridades da vida urbana em contraste com o ambiente rural. Dentre as demais características do romance urbano, temos incluso o aspecto melodramático do enredo, a prevalência de finais felizes e o amor idealizado. Este tipo de narrativa foca nos costumes da elite burguesa, frequentemente criticando a sociedade da época. A figura feminina é idealizada, e a história muitas vezes envolve heróis que enfrentam dificuldades amorosas. Além disso, esses romances promovem valores morais, utilizando uma linguagem simples que torna as obras acessíveis ao público. Assim, o romance urbano se torna uma importante representação da cultura e dos dilemas de uma sociedade em transformação no Brasil do século XIX.
Mesmo curtas e com abordagens comportamentais intrigantes de seus personagens, as duas histórias são mornas, quando comparadas com outras composições do autor. Comecemos com Cinco Minutos, uma narrativa em primeira pessoa composta na forma de uma carta lida pela prima do narrador, chamada D. O enredo começa com o narrador perdendo um ônibus por conta de um atraso de cinco minutos, momento que o leva a conhecer Carlota, o amor de sua vida. Ele se vê atraído por ela, que está com um véu no rosto, e ao descer do ônibus, Carlota sussurra uma frase em italiano, indicando que também poderia estar apaixonada. O relato se desenrola entre encontros e desencontros, revelando que Carlota já nutria sentimentos por ele antes de seu encontro, mas que sua condição de saúde era um obstáculo para o amor. A história toma um rumo dramático quando Carlota revela que possui uma doença incurável, levando o narrador a um desespero profundo e o incentivando a ir atrás dela em Petrópolis. Após uma busca cheia de aventuras, ele finalmente consegue encontrá-la em um navio com destino à Europa, onde passam momentos românticos. No entanto, a saúde de Carlota se agrava, e um beijo do narrador parece revigorá-la, levando-a a buscar um médico que confirma uma melhora inesperada. O clímax se estabelece com o casamento do casal em Florença e suas viagens pela Europa, culminando em um retorno ao Brasil, onde vivem felizes em Minas Gerais.
Em A Viuvinha, embora breve, a narrativa é rica em descrições e carrega uma crítica moral à burguesia da época, marcada pela obsessão pelo dinheiro e bens materiais. O enredo gira em torno de Jorge, um jovem órfão de um negociante rico, que, após herdar sua fortuna, decide levar uma vida de ostentação, mas logo se sente solitário e insatisfeito. É durante uma de suas caminhadas noturnas que Jorge encontra Carolina, uma jovem de origens mais humildes, e se apaixona por ela. À medida que o relacionamento avança, Jorge enfrenta a dura realidade de sua falência e dívidas, informada por Almeida, seu tutor. Mesmo assim, ele opta por casar-se com Carolina em uma cerimônia modesta. Contudo, na noite de núpcias, Jorge prepara um plano traiçoeiro para simular seu suicídio, consumindo a noiva após um golpe de bebida e fugindo para um beco, onde finge ter metido um tiro em si mesmo. A situação provoca um clímax dramático, onde Almeida encontra um corpo que parece ser de Jorge, deixando uma profunda tristeza. Entretanto, a história dá uma reviravolta que promete novas revelações sobre as verdadeiras intenções de Jorge e o que realmente ocorreu após sua aparente morte.
Ao longo do conto, Jorge retorna ao Brasil e reencontra Carolina, sua amada, que não o reconhece devido ao luto pela morte do marido. A tristeza de Carolina a torna conhecida como “viuvinha”, e apesar dos esforços de Jorge para se aproximar e cortejá-la, ela permanece leal à memória do falecido. Ele, motivado pelo amor que ainda sente, tenta conquistar o coração dela, mas enfrenta a resistência de Carolina, que recusa todos os pretendentes. O desfecho da história é otimista: Jorge revela a verdade sobre a farsa de seu suicídio e a razão por trás de seus atos. A alegria de Carolina ao reencontrar seu verdadeiro amor resulta em uma nova vida a dois, longe das tristezas do passado. Eles se mudam para uma fazenda, onde vivem felizes ao lado da mãe de Carolina, Dona Maria. A narrativa é centrada nas transformações emocionais dos protagonistas, revelando o amor resiliente de Jorge e a dor de Carolina, culminando em um reencontro que traz esperança e felicidade. Em linhas gerais, não é tão empolgante quando outras histórias posteriores, mais maduras do autor, mas oferta um olhar singular para a nossa compreensão acerca do Brasil em um processo de formação de sua identidade nacional, por isso, relevante como documento histórico, para além do diletantismo.
Cinco Minutos/A Viuvinha (Brasil, 1856/1857)
Autor: José de Alencar.
Editora: Ática/Série Princípios
Páginas: 96