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Crítica | Cinzas e Diamantes

por Luiz Santiago
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Último filme da Trilogia da Guerra de Andrzej Wajda, jornada formada pelos longas Geração (1955) e Kanal (1957), Cinzas e Diamantes estreou em outubro de 1958 na Polônia, e traz para a cena uma história de amor em um difícil tempo de guerra. Ou melhor, no fim de uma guerra e início de outra, um confronto interno na Polônia agora sob um regime comunista. Um conflito que iria opor diferentes bases políticas, acirrando brigas entre facções. Politicamente falando, não há absolutamente nada de novo nisso. Essas são estruturas de poder e disputa de poder que perduram até hoje. Mas pensando em um contexto de fim de guerra, já dá para ter uma noção do peso e desalento que isso traz para o enredo do filme. Como se a paz, de fato, jamais fosse permitida ali.

A trama começa no último dia da Segunda Guerra Mundial, com Maciek (Zbigniew Cybulski), ex-soldado do Armia Krajowa — Exército de Livre Resistência Polonesa — ao lado de alguns parceiros, numa missão para assassinar Szczuka (Waclaw Zastrzezynski), líder comunista daquela região. A direção de Wajda se ancora desde cedo em uma oposição visual entre a figura aparentemente calma e meio apaixonada de Maciek com a de sua ação como assassino, uma linha que o roteiro baseado no livro de Jerzy Andrzejewski irá expandir, principalmente após a bela Krystyna (Ewa Krzyzewska), uma garçonete por quem Maciek se apaixona, entrar em cena.

A luta entre diferentes lados de uma mesma moeda (a vida) pode ser vista aqui desde o título, que alude a um poema dos anos 1800 escrito por Cyprian Norwid, referindo-se à formação dos diamantes a partir de calor e pressão agindo sobre o carvão. Isso aparece no filme como um diálogo literalmente poético, com o casal conversando nas ruínas de uma igreja. A todo o tempo a urgência do assassinato parece se diluir a uma nova experiência que chama por Maciek, ao mesmo tempo que lhe nega algo. Assim como outras negações também são feitas a diversos personagens na obra, perdendo cargos políticos, uma rodada de dança, um copo de bebida ou morar no lugar que ama… A guerra, nesse caso, é explorada como aquela que causo a infelicidade geral e suas consequências seriam ainda piores.

A interpretação de Cybulski se agarra a essas faces do mesmo homem, explicitando o contentamento por ver uma mulher e sua beleza, além das possibilidades que isso pode trazer para a sua vida; mas por outro lado, demonstrando pesar diante de uma missão que agora já não tem mais certeza se quer cumprir, dilema que a direção guia passando de espaços abertos para sets fechados, acrescentando símbolos (o Cristo de ponta cabeça na igreja destruída, a violeta, a chuva repentina) e memórias de um tempo “bom” em comparação ao sofrimento do tempo presente. Reforçando esse contraste de emoções, o texto e a direção mostram como o pensamento político e o trabalho (nesse caso, um trabalho político) podem ser afetados pelas coisas mais comuns da vida. Especialmente quando existe uma outra pessoa envolvida.

Ao ouvir canções populares, ver gente bêbada e conversas sobre a organização social a partir daquele momento da História do país, o espectador tem a impressão de que a camada política do filme existe apenas para sustentar algo maior, que transcende o engajamento e as lutas pelo sistema, pelo país e por uma ideia; curvando-se, nesse caso, a um sentimento. Mesmo que não seja colocado pelo texto como algo perdidamente romântico (muito pelo contrário) a beleza da breve relação entre o casal e as muitas outras coisas sérias que existem no caminho deles nos colocam em um cenário de difícil torcida por uma vida que, pela maneira como agiu, só pode terminar de uma forma: em tragédia. Como em qualquer cenário de guerra.

Cinzas e Diamantes (Popiól i Diament) — Polônia, 1958
Direção: Andrzej Wajda
Roteiro: Andrzej Wajda, Jerzy Andrzejewski (baseado na obra de Jerzy Andrzejewski)
Elenco: Zbigniew Cybulski, Ewa Krzyzewska, Waclaw Zastrzezynski, Adam Pawlikowski, Bogumil Kobiela, Jan Ciecierski, Stanislaw Milski, Artur Mlodnicki, Halina Kwiatkowska, Ignacy Machowski, Zbigniew Skowronski, Barbara Krafftówna, Aleksander Sewruk, Zofia Czerwinska, Wiktor Grotowicz
Duração: 103 min.

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