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Crítica | Class: A Casa de Pedra, de A.K. Benedict

Um tipo diferente de "mundo invertido".

por Luiz Santiago
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Ah, que sono…“. Esta foi a sensação com a qual eu finalizei A Casa de Pedra, segundo livro do Universo de Class, o spin-off no estilo “jovem-prafrentex” de Doctor Who. Sim, eu sei que essa definição cínica faz parecer que a iniciativa é ridícula, mas eu só estou sendo exagerado, embora com um exagero ancorado na realidade. O fato é que os elementos utilizados nesse livro não conseguem nem ser interessantes a longo prazo, diferenciando a obra de Joyride, o livro anterior. Mesmo não tendo uma narrativa exemplar, aquele volume conseguiu trazer uma premissa instigante, com elementos que faziam sentido para o ambiente e para o grupo de protagonistas envolvidos. Já aqui em A Casa de Pedra, aquela sensação gostosa de estar lendo algo capaz de despertar constantemente a nossa curiosidade… quase não existe.

Para todos os efeitos, estamos falando de uma “história de fantasmas“. É verdade que isso encontrará uma explicação mais específica no desfecho da obra, mas da maneira como funciona a maior parte do texto, estamos falando de uma obra onde Tanya, Miss Quill, Charlie, Matteusz, April e Ram investigam uma aparição macabra numa velha casa de pedra que se localiza em estrada próxima à Coal Hill Academy. Em dado momento da história, é feita uma piadinha com Scooby-Doo, como se o autor estivesse rejeitando a ideia; mas a carapuça serve com perfeição ao livro de A.K. Benedict. O texto realmente lembra a dinâmica investigativa e as trapalhadas de Scooby e Cia., muitas vezes com humor duvidoso, momentos exageradamente dramáticos, enredos paralelos que não fazem nenhum sentido para a história e encerramento que deixa a gente em dúvida se gostou ou não; muitas vezes fazendo-nos optar pela resposta negativa.

Certo dia, enquanto retornava da escola, em uma tarde muito quente, Tanya sentiu-se impelida a tomar um caminho diferente do que ela estava acostumada. É assim que ela passa pela rua da casa de pedra pela primeira vez. Este primeiro contato acende uma centelha de medo, posteriormente explorada pelo autor. Admito que, nos primeiros capítulos, Benedict logrou apresentar um horror psicológico de qualidade, muito bem costurado a um mistério que promete coisas boas. O leitor sabe que existe uma criança síria (Amira) “presa” na casa, mas ainda não entende as implicações disso, o que de fato essa aparição significa. E também deve-se admitir que a ideia de transformar essa aparição em lenda urbana foi genial. Por sinal, é a minha criação favorita do livro, e a única que traz uma presença suportável de Ram, que na maior parte do tempo é retratado como um chato respondão que só quer sair por cima. Eu talvez aceitasse esse tipo de visão do personagem se a trama se passasse logo após For Tonight We Might Die, o episódio de estreia da série. Mas não é bem assim.

Na linha do tempo dessa turma, A Casa de Pedra se localiza depois do terceiro episódio de TV (Nightvisiting) e principalmente depois de Joyride, que tem uma exploração de personalidade notável para Ram! Não faz absolutamente nenhum sentido regredir o garoto para a posição mais turrona de antes. Por outro lado, os comentários críticos do autor são exemplares, enriquecendo o drama de Amira e seu discurso sobre perdas e sobre solidão. Através de suas reminiscências, podemos discutir o drama dos refugiados do Oriente Médio na Europa; os estupros e abusos sexuais aos refugiados; os sequestros de pessoas; os assassinatos, roubos e maus tratos. Essas tragédias humanitárias são contrastadas com os “problemas chateantes” dos jovens britânicos, o que nos faz gostar, ao menos nas entrelinhas, daquilo que a trama discute, até mesmo ironicamente — esta, aliás, é uma constante nas produções da série, gerando histórias excelentes, como Now You Know…, e histórias medianas como A Casa de Pedra.

Mesmo gostando muito de obras que se passam em ambientes fechados, eu quase não suportei a chatice da longa sequência de capítulos que se passam na casa. Aranhas e teias misteriosas; alucinações realistas e mortais; referência meio insossa a um certo “mundo invertido” e um misto de confusão e incompletude no encerramento do caso também não ajudam a tornar o livro agradável. Para piorar, Constantine Oliver é o tipo de vilão para quem o leitor não dá a mínima importância, e que só existe mesmo para alimentar a concepção maniqueísta do autor. Chega um momento em que o terror psicológico, os simbolismos e o lado mais inteligente da investigação dá espaço para as banalidades e a burocracia que supostamente servem como “aprofundamento do caso“… só que não. Essas coisas servem mesmo é para sugar a qualidade que o enredo tentava manter, e estacionar A Casa de Pedra em um patamar de insossa mediocridade.

Class: A Casa de Pedra (Class: The Stone House) – Reino Unido, 27 de outubro de 2016
Autor: A.K. Benedict
Capa: Head Design
Editora original: BBC Books
308 páginas (BBC Digital, Kindle edition)

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