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Crítica | Class: O Que Ela Fará a Seguir Irá Surpreendê-lo, de James Goss

O poder destrutivo da internet.

por Luiz Santiago
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Aleluia! Finalmente, um livro de Class que terminou em patamar bem alto, não apenas de maneira “ok“, como foi o caso de Joyride — apesar de eu ainda defender que a proposta dramática daquele livro era muito boa, o problema foi a sua finalização. Nesta terceira publicação da série (pelo menos até o momento em que escrevo esta crítica, em dezembro de 2022), tivemos uma história que soube abraçar com muita propriedade a linguagem da internet nos anos 2020 e o comportamento de massa criado pelas múltiplas tendências das redes sociais, pelos memes e pelos pedidos de ajuda mais estranhos para supostas “boas causas”.

James Goss é um escritor que consegue fazer ambientações interessantes em seus enredos (vide o ótimo trabalho dele em Scratchman), mas que tem fama de pisar na bola quando se trata de criar ligações coesas entre diferentes camadas narrativas, o que inicialmente me deixou com bastante medo neste livro, mas o problema, ainda bem, não persistiu aqui. Eu já comecei gostando que os nomes dos capítulos do livro foram estilizados como anúncios de páginas anunciando algum clickbait. Essa foi uma das coisas mais criativas, engraçadas e criticamente tristes que a gente teve no livro. A criatividade de Goss para criar essas iscas de cliques foi grande, e demonstrou uma excelente percepção do comportamento da internet, principalmente das pessoas mais jovens.

O cerne da narrativa é totalmente ancorado no mundo virtual, com destaque para um blogueiro muito famoso chamado Seraphin e para suas campanhas de caridade contra uma doença misteriosa chamada “Skandis”. Não existem informações precisas em nenhum lugar sobre essa doença, mas as pessoas simplesmente fazem diversos desafios para postar no site truthordare.com, com o intuito de arrecadar dinheiro para “salvar pessoas que estão morrendo de Skandis” e chamar a atenção da população para essa situação. É o velho comportamento de rebanho da internet, onde uma trend sem sentido, às vezes baseada em uma informação falsa ou a favor de algo problemático, ganha milhares de seguidores, vozes e desafios a serem cumpridos. É absolutamente irritante (no bom sentido) ler os trechos dos vídeos de Seraphin e notar o quanto isso se assemelha à nossa realidade. E o pior ainda: tudo para lutar contra uma doença sem nenhum tipo de comprovação científica. Apenas o poder estúpido da internet fazendo as pessoas cometerem atos estúpidos.

A maneira como “A Organização” conseguiu fazer com que alguns seres humanos fossem levados para um Universo de bolso e lá lutassem contra os Skandis foi uma baita surpresa. Gostei muito da forma como os principais personagens agiram, no decorrer dos capítulos, e como cada um deles foi agindo diferente em relação à doença; e também depois, quando descobriram parte da verdade, na batalha contra esses seres. É claro que não é uma trama perfeita, especialmente do meio para o final, mas sem dúvidas é uma das que melhor conseguiram representar impactos sociais das grandes redes na literatura jovem-adulta (YA), ficando ainda melhor quando entendemos tudo isso aplicado à ficção científica. O medo de ficar de fora das grandes tendências da internet faz as pessoas (especialmente os jovens) cometerem as maiores irresponsabilidades, e todos sabemos que isso pode ser fatal para alguns. O Que Ela Fará a Seguir Irá Surpreendê-lo expõe isso de maneira crítica e nos convida a pensar sobre aparências sociais e engajamento sócio-político, duas coisas centrais da internet nesse milênio, e que cada vez mais tem sido utilizada como marketing pela imbecilidade internauta.

Class: O Que Ela Fará a Seguir Irá Surpreendê-lo (What She Does Next Will Astound You) — Reino Unido, 27 de outubro de 2016
Autor: James Goss
Capa: Head Design
Editora original: BBC Books
355 páginas (BBC Digital, Kindle edition)

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