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Crítica | Cobra Kai – 3ª Temporada

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, a crítica de toda a franquia Karatê Kid.

No último episódio da 3ª temporada de Cobra Kai, Ali Mills (Elisabeth Shue retornando para a franquia na participação inesperada mais esperada da série) diz para Johnny Lawrence que não se deve viver no passado e, justiça seja feita, até agora a série vinha conseguindo equilibrar, com razoável eficiência, nostalgia e desenvolvimento de uma mitologia expandida própria. Mas, ao ser transferida para o Netflix – em um daqueles casos em que realmente vemos o poder do canal de streaming, já que, nos dois primeiros anos da série, ainda no YouTube, ela era razoavelmente desconhecida, imediatamente ganhando tração quando aportou na nova casa – ela passou a ignorar a própria lição que a personagem tenta passar ao protagonista.

É perfeitamente possível perceber o quanto a nova temporada apoia-se com vontade no passado para justificar uma temporada que, se pararmos para pensar friamente, não tem história para sustentar seus 10 episódios, mesmo que eles sejam mais curtos do que uma série dramática regulamentar. A resolução do cliffhanger da temporada anterior, com Johnny dedicando tempo à recuperação de Miguel e a inevitável aliança que os dois senseis do bem entabulam ao final é o que realmente importa, com o recheio entre uma ponta e outra não exatamente trazendo elementos narrativos para a história que realmente a engrandeçam para além do drama adolescente, do fan service e de uma tentativa canhestra de emprestar mais estofo a um dos personagens.

No último caso, falo especificamente do vilanesco John Kreese, personagem que serve de veículo para que a união Lawrence-LaRusso possa finalmente acontecer. Sua função é clara e Martin Kove a cumpre com louvor com toda sua cara de mal e frases de efeito para arregimentar uma tropa de adolescentes delinquentes no dojo Cobra Kai. O problema é que existe uma certa compulsão por showrunners e roteiristas em explicar as origens de personagens que não precisam delas, criando, no processo, justificativas bonitinhas para a vilania. O que são os flashbacks para a subtrama Kreese Begins que pontilham a temporada do que os roteiristas dizendo que ele é malvado porque foram malvados com ele antes? Essa contextualização não desenvolve personagens como muitos acharão. Ao contrário, ela retira o peso de suas ações e criam mais um vilão que sofreu muito e precisa ser compreendido.

Mas esse retorno ao passado nem é o maior problema da temporada. O grosso do núcleo adolescente é praticamente composto de personagens que não sabem o que querem e que, como o Múcio de Jô Soares, mudam de ideia o tempo todo, em uma repetitiva e interminável troca de alianças e mudanças de ideia entre “se defender” ou “atacar primeiro” que, muito sinceramente, já tiveram todo seu potencial esgotado nas duas primeiras temporadas. Não ajuda que as coreografias de luta entregues aos jovens e seus dublês em momento algum empolguem, especialmente a pancadaria final (outra) completamente gratuita e sem sentido na casa dos LaRusso. Só realmente os adultos é que conseguem convencer em suas lutas, valendo destaque para a pancadaria na garagem e, claro, a luta de Johnny e, depois, Daniel contra Kreese.

Por outro lado, o arco dedicado a Johnny Lawrence brilha quase o tempo todo. Seja ele ajudando na reabilitação de Miguel, mesmo que a impressão de passagem de tempo na montagem seja muito ruim, seja tentando criar um novo dojo (Eagle Fang???) no meio de um parque público ou conectando-se novamente com Carmen e, finalmente, passando o dia com Ali. Aliás, a participação de Shue é um exemplo de como fazer referências de qualidade, com uma boa construção ao longo da temporada que deságua nas ótimas cenas dos dois – e, depois, dos dois com Daniel e Amanda – na dupla final de episódios. Há uma manipulação sentimental descarada dos roteiros no reencontro, claro, mas toda a situação decorre naturalmente do que veio antes.

O mesmo não pode ser dito, por exemplo, da proporcionalmente enorme história paralela sobre os negócios de Daniel irem mal em razão da briga na escola e ele ter que sair desabalado para o Japão para resolver tudo somente como uma desculpa para ele reencontrar Kumiko e Chozen (Tamlyn Tomita e Yuji Okumoto retornando a seus papeis), personagens de Karatê Kid 2, com direito a uma resolução forçadíssima quando convenientemente a garotinha que ele salvara em uma tempestade é, agora, a pessoa chave que ele precisava para resolver a sinuca de bico em que se encontrava e que, em reunião na empresa, ela convenientemente não estava. E o pior é que toda essa subtrama desaparece instantaneamente, só deixando o rescaldo do “golpe novo” para ser usado nos segundos finais, lógico.

Mas não se enganem com meus comentários negativos: Cobra Kai continua sendo uma diversão nostálgica. Como tudo que faz sucesso repentino, porém, ela está sendo muito claramente esticada para além do que deveria e, pior, com a maior quantidade possível de inserções de fan service (aguardo, agora, Terry do terceiro filme, vivido por Thomas Ian Griffith e, claro, Julie do quarto, vivida por Hilary Swank) e referências ao passado que acabaram desequilibrando a temporada e diminuindo aquilo que ela tinha de melhor, que era justamente relativizar as ações de Johnny e Daniel. Faz parte do jogo, claro, mas fica a torcida para que o próximo ano saiba corrigir o rumo e – espero – acabar a saga de maneira digna, sem golpes baixos.

Cobra Kai (Idem, EUA – 1º de janeiro de 2021)
Desenvolvimento: Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald (baseado em criação de Robert Mark Kamen)
Direção: Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg, Lin Oeding, Steven Tsuchida, Jennifer Celotta, Josh Heald
Roteiro: Josh Heald, Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg, Joe Piarulli, Luan Thomas, Stacey Harman, Michael Jonathan Smith, Bob Dearden, Alyssa Forleiter, Mattea Greene
Elenco: William Zabka, Ralph Macchio, Courtney Henggeler, Xolo Maridueña, Tanner Buchanan, Mary Mouser, Jacob Bertrand, Gianni Decenzo, Martin Kove, Vanessa Rubio, Ed Asner, Bret Ernst, Joe Seo, Annalisa Cochrane, Bo Mitchell, Aedin Mincks, Khalil Everage, Nathaniel Oh, Peyton List, David Shatraw, Yuji Okumoto, Tamlyn Tomita, Dee Snider, Traci Toguchi, Elisabeth Shue
Duração: 336 min. (10 episódios)

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