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Crítica | Cobra Kai – 5ª Temporada

Dominando o mundo, um dojo por vez.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, a crítica de toda a franquia Karatê Kid.

Pinky: O que vamos fazer hoje a noite Cérebro?
Cérebro: A mesma coisa que fazemos todas as noites, Pinky. Tentar dominar o mundo!

Toda vez que uma nova temporada de Cobra Kai é lançada eu imediatamente me preparo para dizer que a série jamais deveria ter chegado a esse ponto, que ela não tem mais nada a oferecer, que tudo o que ela tinha de novidade já se foi há muito tempo. No entanto, depois de conferir a temporada, toda vez o resultado é igual, ou seja, eu me deparo com algo que está longe de ser perfeito, mas que consegue ser uma irresistível mistura de nostalgia, personagens que ficam batendo cabeça o tempo todo, mudando de ideia e trocando de lados, exageros que chegam a ser cômicos e, talvez mais do que tudo isso, uma saudável dose de cafonice e breguice.

Afinal, sejamos francos: a série tem como premissa adultos de meia idade que são inseguros, egoístas e completamente idiotas que usam crianças e adolescentes altamente influenciáveis como seus instrumentos de demarcação de território e vingança por coisas que aconteceram com eles há décadas. É a promoção pura e simples de “rinha de jovens” por pais e empresários que jamais conseguiram deixar de ser os mesmos paspalhos que usavam o caratê como maneira de se expressar, seja de uma maneira ou de outra, para o mal ou para o bem. E eu não uso esse reducionismo todo – que nem é tão reducionista assim se realmente abrirmos os olhos para os roteiros mais do que repetitivos – como uma maneira de diminuir a série. Ok, ok, de fato ela acaba diminuída quando a encaramos por esse prisma, mas meu ponto é que a execução da coisa toda é tão consciente do que ela é que tudo acaba entrando nos eixos quando a poeira baixa e conseguimos aproveitar a besteirada pelo que ela é.

Vejamos, por exemplo, o mega-vilão milionário, de cabelo branco e rabo de cavalo Terry Silver vivido mais do que arquetipicamente, mas mesmo assim destacando-se no elenco, por Thomas Ian Griffith. O sujeito entrou na série em um patamar superior de vilania se comparado com seu agora ex-amigo John Kreese (Martin Kove), mas, agora, na quinta temporada, ele alcançou e ultrapassou o nível dos vilões mais histriônicos da franquia James Bond, com a única diferença sendo que seu plano de dominação mundial não é roubar todo o ouro do Forte Knox ou arrebanhar enormes quantidades de água potável ou ameaçar os governos com satélites que lançam raios laser, mas sim, rufem os tambores, fazer como o Cérebro (de Pinky e o Cérebro, lógico!) e abrir dojos Cobra Kai por todo o planeta para “corromper” as mentes de jovens de todas as idades com sua filosofia malvadona. Não é hilariamente maquiavélico?

E, claro, as únicas pessoas que podem impedir o plano de chegar à fruição são os ex-inimigos transformados em melhores amigos Daniel LaRusso (Ralph Macchio), um vendedor de carros certinho que parece mais burro que uma maçaneta; Johnny Lawrence (William Zabka), um troglodita loiro que mal consegue andar ereto e Chozen Toguchi (Yuji Okumoto), um sensei japonês de Okinawa que tem fama de durão, mas que, na verdade, é muito gente boa. Eles e todos os adolescentes que treinam debaixo de suas asas, cada um, logicamente, com seus dramas pessoais daqueles que encontramos com bastante facilidade em novelas da Globo tipo Malhação, não tenham dúvida. Ou seja, Cobra Kai tinha tudo para dar errado, mas, não obstante seus problemas, a série dá certo, mesmo considerando que estamos falando de uma história que vem sendo absurdamente esticada ao longo de cinco temporadas e 50 episódios, sem um final demarcado no horizonte.

Os problemas da temporada são basicamente os mesmos presentes nas demais e podem ser resumidos a roteiros que caminham das maneiras mais tortuosas possíveis para contar uma história banal de tão simples. Com isso, ganhamos episódios iniciais que se passam no México com Miguel Diaz (Xolo Maridueña, o futuro Besouro Azul, se Zaslav quiser) achando seu pai – o método científico que ele usa para achá-lo, ou seja, seguir todo mundo que se chama Hector, é cômico por si só – sem que sua descoberta tenha qualquer influência na narrativa a partir dali e relacionamentos variados que são baseados em dúvidas atrozes sobre que decisão tomar. Temos, por exemplo, Samantha LaRusso (Mary Mouser), sempre de aparência chorosa, que não sabe se quer continuar lutando e namorando Miguel, Tory Nichols (Peyton List), a sofredora-mor que não sabe se aguenta ficar mais tempo no dojo Cobra Kai e Robby Keene (Tanner Buchanan) e Miguel que ficam soltando fumaça pelos ouvidos quando se veem. E esses são apenas alguns poucos exemplos e somente dos adolescentes, pelo que o problema maior está na quantidade de personagens que os roteiros acabam fazendo questão de criar tramas específicas para dar alguns minutinhos de destaque sem realmente fazer uma costura daquelas invisíveis.

A bem da verdade, o “núcleo bonzinho” encabeçado pela família LaRusso é um soporífero poderoso, daqueles de dar de lavada em Lexotan. Não fossem as ignorâncias de Lawrence para quebrar a monotonia desse lado da história, ignorâncias essas que já perderam completamente seu frescor, ainda que ele mantenha seu carisma, seria difícil manter os olhos abertos, especialmente em razão do próprio Ralph Macchio que não me convence por um segundo seja como executivo, pai de família, lutador de caratê ou mesmo um cara pelo qual eu consiga torcer para ganhar qualquer coisa. Mas o bom é que, mais do que compensando esse problema, há o “núcleo vilanesco” repleto de estereótipos de bandidões, começando pelos já citados Terry Silver e John Kreese (este segundo na prisão, mas mesmo ali tendo bons e completamente previsíveis momentos), mas passando também pelos alunos do dojo Cobra Kai, tão aborrescentes quanto os do Miyagi -Do, e, claro, a pequena tropa de senseis mal-encarados importados por Silver e comandados pela über-malvada e torturadora Kim Da-Eun (Alicia Hannah-Kim).

E há as lutas, claro. Apesar de essa ser mais uma temporada que acaba com uma pancadaria generalizada entre jovens, artifício que nunca foi realmente bem trabalhado na série, diria que o que vem antes, especialmente o mini-campeonato para que os representantes do Sekai Taikai (um negócio aparentemente tão secreto quanto o Kumite) possam decidir que dojo terá a honra de competir no evento, funciona muito bem. Eu teria gostado mais da temporada se tudo tivesse acabado ali, deixando que os desdobramentos do sumiço de Tory acontecessem futuramente, mas não se pode ter tudo e a pancadaria geral que, aqui, é paralelizada pela dos adultos também, com direito a katanas, adagas sai, sangue digital e apenas uma consequência realmente séria: um extra qualquer vestido de sensei perdendo um dedo.

Sim, Cobra Kai já deu o que tinha que dar. Sim, seu prazo de validade se foi há muito tempo. E sim, era completamente desnecessária uma trama de dominação mundial pelo dojo agora comandado por Terry Silver. Mas a grande verdade é que, por incrível que pareça, a bobajada é tão divertida, feita com tanta autoconsciência do que é, que Cobra Kai se torna irresistível mesmo a essa altura do campeonato. Enquanto os showrunners conseguirem entregar esse nível de qualidade completamente descompromissada, mesmo que muitas vezes sem direção ou com fillers descarados, não me importarei muito se a expansão dos dojos rivais Cobra Kai e Miyagi -Do chegar até Marte ou além lá pela 18ª temporada (sem contar com os spin-offs, claro).

Cobra Kai – 5ª Temporada (EUA, 09 de setembro de 2022)
Desenvolvimento: Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg e Josh Heald (baseado em criação de Robert Mark Kamen)
Direção: Joel Novoa, Steven Tsuchida, Marielle Woods, Steve Pink, Jennifer Celotta
Roteiro: Michael Jonathan Smith, Joe Piarulli, Luan Thomas, Mattea Greene, Ashley Darnall, Bob Dearden
Elenco: William Zabka, Ralph Macchio, Courtney Henggeler, Thomas Ian Griffith, Martin Kove, Vanessa Rubio, Yuji Okumoto, Xolo Maridueña, Tanner Buchanan, Mary Mouser, Jacob Bertrand, Peyton List, Dallas Dupree Young, Alicia Hannah-Kim, Joe Seo, Oona O’Brien, Griffin Santopietro, Tyron Woodley, Stephen Thompson, Nathaniel Oh, Aedin Mincks, Khalil Everage, Owen Morgan, Paul Walter Hauser, Luis Roberto Guzmán, Sean Kanan, Robyn Lively, Bret Ernst, Dan Ahdoot, Hannah Kepple, Annalisa Cochrane
Duração: 375 min. (10 episódios)

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