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Crítica | Código Vermelho: Os Bastidores de Extermínio 2

Os bastidores da eletrizante sequência de Extermínio: a saga dos regugiados e os desdobramentos da horripilante epidemia de raiva.

por Leonardo Campos
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O documentário Código Vermelho: Os Bastidores de Extermínio 2 é uma exploração penetrante do mundo por detrás da sequência do aclamado Extermínio, dirigido e escrito por Danny Boyle, lançado em 2002. Nesta produção sobre os bastidores, de apenas treze minutos, mas repleta de informações e reflexões, os realizadores analisam as ideias que moldaram a narrativa do novo filme e como o contexto apocalíptico da história ponto de partida continua a ressoar na sociedade contemporânea ao que se passa no bojo da continuação. Por meio de entrevistas e relatos, acompanhamos um conteúdo que destaca o impasse em que termina o primeiro filme, instigando perguntas sobre o futuro da humanidade em face de pandemias e crises coletivas. A escolha de uma narrativa em torno de um núcleo familiar, que atua como um microcosmo da sociedade, permite uma exploração das dinâmicas familiares em tempos de crise, ilustrando tanto os medos quanto as esperanças que surgem em situações extremas. Neste processo, um dos temas centrais abordados no documentário é a sobrevivência em um mundo devastado por um vírus mortal. Os depoentes afirmam que Extermínio 2 é mais do que um mero filme de terror, funcionando como entretenimento, mas também como uma reflexão profunda sobre a luta pela confiança e pela reconstrução social após a desordem.

A presença de um conflito inovador, isto é, uma criança imune ao vírus, se destaca como um símbolo de esperança em meio ao caos. Esta narrativa não apenas humaniza os personagens, mas também provoca uma análise mais profunda sobre o que significa ser humano em uma era marcada pelo medo e pela insegurança. O documentário enfatiza a necessidade de recriar uma sociedade que pode se unir em face de uma ameaça invisível, questionando se a humanidade é capaz de superar seus medos e instintos primordiais para recuperar a confiança mútua. A dimensão do medo permeia Código Vermelho, manifestando-se na articulação do impacto devastador dos vírus. Um dos entrevistados menciona que, na narrativa, o vírus se comporta como um “assassino invisível”, uma metáfora apropriada para as ansiedades que a sociedade enfrenta em relação a patógenos e outras ameaças. Este medo, que é palpável e imediato, transforma os infectados em criaturas dominadas pela raiva, formando um paralelo com a iconografia clássica dos zumbis no cinema. O documentário, portanto, não apenas retrata o processo criativo de Extermínio 2, mas também reflete sobre a resposta humana ao medo e o papel que ele desempenha na formação da identidade social.

Assim, ao investigar esses elementos, Código Vermelho provoca uma reflexão crítica sobre como as narrativas de terror podem ser um reflexo da realidade social e das preocupações contemporâneas. Visualmente, a direção de fotografia de Erin Chediak desempenha um papel crucial na construção da atmosfera do documentário. A estética é cuidadosamente elaborada para transmitir a tensão e a urgência da situação apresentada. Chediak utiliza uma paleta de cores sombrias e ângulos de câmera intrigantes que se entrelaçam com a temática da sobrevivência e do medo, acentuando a incerteza que permeia a narrativa. O resultado é uma produção que, embora tenha um orçamento modesto em comparação a filmes de grande estúdio, consegue transmitir emoções intensas e significativas através de suas escolhas visuais. O documentário termina em uma nota angustiante, sem uma resolução clara, refletindo a desolação e as consequências da pandemia invisível que assola personagens e espectadores. Essa estratégia criativa reforça a mensagem de que, no universo de Extermínio, a luta pela sobrevivência é repleta de desafios e incertezas, perpetuando um ciclo de medo que ressoa em nossa própria realidade. Puro gatilho para quem viveu e temeu a pandemia de 2020.

Em linhas gerais, Código Vermelho: Os Bastidores de Extermínio 2 é um material promocional eficiente para divulgação da mídia física do filme, na ocasião de seu lançamento, mas também um material que faz uma boa mixagem de entretenimento e reflexão. O documentário e a busca por recapitular os filmes na memória em tempos de Extermínio: A Evolução, terceiro episódio da franquia, nos permite refletir sobre a nossa relação com epidemias, pandemias e como a humanidade, apesar de cientificamente avançada, ainda possui lacunas e questões para se pensar diante de situações calamitosas. Olhando para o que vivenciamos desde os primeiros meses de 2020, com as incertezas da covid-19, observo tais filmes e documentários com um olhar menos distanciado, numa busca por compreender que por detrás das alegorias e do habitual “salvaguardadas as devidas proporções”, um mundo caótico, contaminado e destruído é algo possível de se estabelecer. A globalização, um fenômeno que intensificou as interconexões econômicas, culturais e políticas entre os países, trouxe consigo uma série de impactos positivos e negativos, dentre estes, um efeito dramático rapidamente mencionado ao longo do documentário: o aumento da preocupação e da paranoia ocidental em relação a infecções, doenças e pandemias. Como os avanços da globalização contribuíram para essa inquietação crescente, em um planeta com amplificação na mobilidade, bem como na disseminação de informações e nas desigualdades na saúde?

Eis uma pergunta para outra reflexão, combinado?

Código Vermelho: Os Bastidores de Extermínio2 (Code Red: The Making-Of 28 Weeks Later/Reino Unido, 2007) 
Direção: Andrew Macdonald
Roteiro: Keith A. Cox, Minh Ly
Elenco: Danny Boyle, Andrew Macdonald, Allon Reich, Robert Carlyle, Rose Byrne, Jeremy Renner, Idris Elba, Imogen Poots
Duração: 25 min.

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