Fui ver Colorful Stage! O Filme: Uma Miku Que Não Sabe Cantar e, assim… é uma explosão de sentimentos misturados com pixels em HD e efeitos que parecem saídos de um TikTok que enjoa a cada dez minutos. Não sei explicar direito, mas vou tentar, porque esse filme está sendo festejado como “importante”, talvez até “histórico”. Será?
Primeiro de tudo, a premissa é boa. Imagine a Hatsune Miku (uma diva-holograma criada pela tecnologia Vocaloid, um software de sintetização de voz; uma personagem sem corpo, mas com alma, construída por fãs, artistas e performances imersivas que desafiam a fronteira entre o real e o digital) de repente não conseguir mais cantar. Pois é. É como se o Bob Esponja esquecesse como fritar hambúrguer. Um absurdo genial. Então aparece Ichika, que é uma garota com talento emocional que canta com o coração (a voz dela parece que vem do fundo do peito, ou talvez da alma dela, dos sentimentos etéreos). Elas se juntam e decidem salvar o mundo da tristeza. Ou seria da falta de música? Porque, filosoficamente, tem uma ligação aí, não tem?
Assinada por Yoko Yonaiyama, a base do filme é uma mistura de Frozen com aquele “filme do Queen” e um toque de Naruto. Tem drama, tem emoção, tem amizade, tem reviravolta e tem Miku. Aliás, muita Miku. Às vezes, tem até três Miku na tela ao mesmo tempo. Eu não entendi se eram clones, visões ou só um bug eletrônico, mas o efeito é bom, porque o público aproveita o que elas fazem, e é isso o que importa para um bom filme: a ação. As cenas são muito bem desenhadas, coloridas ao ponto de te deixar meio vesgo. Cada frame é como se fosse um pôster que poderia estar na parede de um otaku, outro grande elogio para a paleta visual da animação. Sério. Dá vontade de pausar e imprimir tudo em 4k e fazer camiseta.
Os personagens secundários também estão no filme. Rin e Len aparecem rapidamente, agem de maneira aleatória e depois somem, infelizmente. Kaito está com uma voz sexy de sabedoria, quase um Yoda com autotune. E a Meiko… ela existe. Está lá. Tem roupa bonita. Mas não mostra quase nada em prol da história. A parte onde a Miku começa a cantar de novo é “O” momento do filme. Eu quase chorei. Quando a voz dela volta, é como se o universo inteiro tivesse dado um reboot. É tão lindo que, por um minuto, nos esquecemos dos furos de roteiro que vieram antes; mas só por um momento.
A trilha sonora é uma verdadeira playlist da alma. Tem música triste, música alegre, música que te faz querer dançar no meio da sala de cinema e também cantar junto. E mesmo quando a Miku não sabe cantar, ela ainda canta melhor que muito cantor real por aí. Infelizmente, o que deixa o filme menos bacana são cenas como o monólogo sobre “a essência da música transcender a realidade computacional das emoções humanas no metaverso digital do coração”. A gente não entende nada do que está sendo dito, embora tudo pareça muito profundo, muita filosofia em japonês que as legendas não acompanham. Ainda bem que, no fim, tudo vira música. E essa linguagem a gente entende.
O clímax tem muita luz piscando, uns gritinhos dramáticos, uma música que sobe de tom três vezes (isso sempre funciona) e um fade-out que parece durar cinco minutos. É arte. Ou publicidade. Enfim, Colorful Stage! é um filme. Tem início, meio, fim e várias cores e canções no meio. É recomendado para quem ama Vocaloid, para quem já ouviu falar de Vocaloid, e até para quem confundiu com Pokémon e entrou na sala errada. No final, todo mundo sai cantarolando uma música que nem existe no Spotify ainda. Não dá para dizer que é um “bom filme“, mas está ali, em cima do muro. Pelo menos faz a gente cantar e se emocionar. Isso já paga metade do ingresso.
Colorful Stage! O Filme: Uma Miku Que Não Sabe Cantar (劇場版プロジェクトセカイ 壊れたセカイと歌えないミク) — Japão, 2025
Direção: Hiroyuki Hata
Roteiro: Yoko Yonaiyama
Elenco: Akina, Yu Asakawa, Naoto Fuga, Saki Fujita, Ai Furihata, Meiko Haigo, Daisuke Hirose, Rina Honnizumi, Fumiya Imai, Karin Isobe, Kent Itou, Hina Kino, Tomori Kusunoki, Reina Ueda
Duração: 105 min.
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