Número de temporadas: 10
Número de episódios: 69
Período de exibição: 20 de fevereiro de 1968 até 30 de janeiro de 2003
Há continuação ou reboot?: Sim, a série ganhou um derivado chamado Mrs. Columbo.
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Columbo foi inicialmente parte de uma rotação de séries de mistério de um programa de antologia chamado The NBC Mystery Movie, que fez sucesso na televisão aberta estadunidense dos anos 70, até que o sucesso da obra ficou tão grande que a mesma durou mais tempo do que o programa em si. Diferente de outras séries procedurais da época, cada episódio da obra é basicamente um telefilme, com temporadas curtas de menos de 10 episódios e uma forma de lançamento espaçada, sem seguir os cronogramas padrões do período, bem semelhante ao modelo britânico de se dar valor à qualidade, não quantidade. O personagem que dá título à série é interpretado por Peter Falk, que desenvolve um detetive diferente: falsamente ingênuo e despretensioso, sempre com uma postura desajeitada, roupas amassadas, falas bem-humoradas e um comportamento modesto, características que escondem sua astúcia e aptidão como investigador.
Apesar da presente crítica ser do piloto da primeira temporada, chamado Murder by the Book, o seriado teve dois telefilmes prévios que deram início a franquia. Dando preferência para a ordem das temporadas, em especial porque esse episódio é dirigido por um jovem Steven Spielberg (!), resolvi “pular” os filmes para TV. O presente capítulo acompanha a investigação do homicídio de Jim Ferris (Martin Milner), um escritor de livros de mistério, no clássico elemento metalinguístico de tramas detetivescas, com o assassinato aqui tendo diversas referências literárias, pistas que envolvem o próprio corpo de trabalho do autor e uma qualidade da ficção ganhando vida em uma tragédia cheia de ironias metaficcionais. O que vou dizer a seguir parecerá um spoiler, mas não é: o assassino é o parceiro de Ferris, um escritor chamado Ken Franklin (Jack Cassidy), que decide matar seu colega após ele resolver terminar a parceria.
Isso não é spoiler porque Murder by the Book não é um whodunnit, ou seja, não é focado em uma trama em que o detetive precisa descobrir o assassino junto da audiência. Pelo contrário, a abertura do episódio mostra Ken Franklin matando seu parceiro, expondo aos mínimos detalhes todo o crime, moldando o restante da narrativa em duas frentes, com 1) Columbo tentando desvendar o mistério e capturar o assassino e 2) Franklin fazendo de tudo para não ser pego – nesse sentido, o roteiro puxa mais elementos dos suspenses de Alfred Hitchcock do que de clássicos de detetives da Agatha Christie ou de Arthur Conan Doyle, por exemplo. Curiosamente, me lembrei também de Death Note ao ver o episódio, apesar de, claro, serem contextos absolutamente diferentes. O formato “invertido” da investigação chama muito a atenção, porque já estamos cientes das pistas e do ocorrido, então o mistério parte mais de como Columbo irá desvendar o assassinato, das suas deduções e da tensão à medida que o mesmo chega perto da verdade, e de como o suspeito irá se afastar da prisão, levantando qualidades de tramas policiais de gato e rato.
Assim, o foco do roteiro de Steven Bochco está majoritariamente nos diálogos entre Columbo e Franklin, em conversações cheias de insinuações, ataques velados e intenções de ambas as partes de confundirem um ao outro. Gosto de como o texto brinca com os contrastes entre os dois, com o protagonista carregando uma personalidade aparentemente pateta que na verdade vai se revelando uma máscara perigosa, enquanto o assassino é esnobe e tem um ego que termina por ser sua queda. Mesmo em início de carreira, Spielberg demonstra um tato cuidadoso para todas as cenas de diálogos, passando uma sensação de intensidade na forma como os personagens parecem encurralados e como estão sempre a ponto de se atacarem, bem como no uso de sombras e dos espaços fechados para trazer enquadramentos engenhosos. É certamente um episódio melhor dirigido do que a média, com alto nível de tensão e suspense, valendo destacar o acompanhamento da ótima trilha sonora que dá base para a ambientação do mistério.
A segunda metade do episódio tem um bloco inteiro dedicado a uma segunda vítima, que tem suas qualidades também, especialmente na construção antagonista de Franklin, mas que rouba um pouco do processo investigativo do Columbo, que some por grande porção da narrativa, levando a uma resolução relativamente anticlimática e que não fecha tão bem a história, que termina aqui com uma confissão forçada, apesar da mesma ser um exemplo da astúcia do protagonista e do ego do assassino. De qualquer forma, essa ressalva não descarta o formato curioso da investigação, a atmosfera bem construída, notadamente pela direção engenhosa de um jovem Spielberg, as ótimas atuações e uma trama detetivesca inusitada, que não apenas chama a atenção, como traz curiosidade e empolgação para outras histórias do seriado.
Columbo – 1X01: Murder by the Book (EUA, 15 de setembro de 1971)
Criação: Richard Levinson, William Link
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Steven Bochco
Elenco: Peter Falk, Jack Cassidy, Martin Milner, Rosemary Forsyth, Barbara Colby
Duração: 72 min.
