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Crítica | Columbus (2017)

por Rafael W. Oliveira
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Kogonada não nomeou Columbus, seu début atrás das câmeras, à toa. Vindo de um extenso currículo como colaborador da Criterion Collection e tendo formado seu nome trabalhando com ensaios audiovisuais ao lado de nomes como Wes Anderson e até mesmo Stanley Kubrick, o sul-coreano ambienta seu “pequeno” drama conflituoso ao norte dos EUA, na cidade de Columbus, para tecer sua linha narrativa sobre temas como escolhas pessoais, aprisionamento emocional, mágoas, inadequação social e conflito de gerações, temas estes acompanhados pela arquitetura modernista da pequena cidade, e que dialoga inteligentemente com a constante variação de sentimentos e percepções dos personagens.

Casey (Haley Lu Richardson, de Fragmentado, e aqui muito inspirada) é uma jovem que trabalha na biblioteca da cidade e foi contemplada com uma bolsa para uma faculdade fora do Estado, mas decide abrir mão disso para cuidar da mãe (Michelle Forbes), uma ex-viciada em drogas. Jin (John Cho, dos mais recentes filmes da franquia Star Trek) é um tradutor de livros que retorna para Columbus após anos de afastamento e incomunicabilidade devido a internação de seu pai, um arquiteto renomado. No encontro destas duas figuras e em suas dicotomias é que Columbus irá firmar seu apoio e se revelar um belo estudo de personagens repleto de camadas.

Camadas estas, aliás, que nos são apresentadas através de perspectivas e alusões inusitadas com a própria arquitetura límpida da cidade de Columbus, abraçando os espaços como uma desconstrução imagética das posições de Casey e Jin e suas buscas pessoais em se adequarem a história que aquela cidade lhes proporcionou e ainda proporciona, o passado e o presente como definidores de um futuro que será moldado pelas escolhas destas duas presenças desequilibradas em seu cerne particular.

Com tomadas constantemente abertas (a cidade é de uma beleza impactante) e uma câmera que faz questão de acompanhar Casey e Jin como uma amiga íntima a observar suas ações e envolvimentos (reparem na cena onde Jim se encontra sozinho num quarto com a personagem de Parker Posey, um dos momentos mais magnéticos deste ano), Konogada age como um mero catapultador (não à toa, a edição também é do próprio) da externalização crescente dos desejos e anseios dos protagonistas em contraponto a serenidade e suntuosidade da arquitetura da cidade, com Casey e Jin atravessando seus ambientes preferidos de Columbus que exala seu modernismo, mas dialoga conflituosamente com a inércia de duas pessoas que adotam a recusa do avanço em suas vidas, seja pelo medo do crescimento ou pela busca do perdão.

Os diálogos corriqueiros, cotidianos, lembram em muito o poético Paterson, de Jim Jarmusch, e funciona como a explanação perfeita, mas distante de didatismos, das relações que os personagens carregam em suas costas, e adotando objetos físicos, como a ponte sempre vista de ângulos diferentes,  como a materialização do jogo de perspectivas que nos cerca. Kogonada também é feliz na economia com que simboliza o apego sufocante de Casey com sua mãe (em um close, vemos a mãe tomando banho, e no seguinte, vemos Casey enrolada em uma toalha) e a distância dolorosa de Jin com seu pai (jamais vemos o rosto do patriarca, formalizando a ausência do mesmo na vida de Jin). Esse retrato dramático construído em cima de sutilezas de tamanho bom gosto são o que tornam Columbus um passeio tão rico em seus fragmentos, cuja melancolia constante se faz de molde à personalidade dos personagens e suas escolhas. Uma história de aceitação e superação sem grandes arroubos, e tão natural quanto a própria vida é.

Columbus (idem) – EUA, 2017
Direção: Kogonada
Roteiro: Kogonada
Elenco: John Cho, Haley Lu Richardson, Parker Posey, Rory Culkin, Michelle Forbes, Jim Dougherty, Caitlin Ewald, Alphaeus Green Jr.,  Erin Allegretti
Duração: 104 min.

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