Home Diversos Crítica | O Cachorro Amarelo (Comissário Maigret #6), de Georges Simenon

Crítica | O Cachorro Amarelo (Comissário Maigret #6), de Georges Simenon

por Luiz Santiago
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Ao longo de quatro dias (7 a 11 de novembro) o Comissário Jules Maigret investiga um crime e estranhas tentativas de crime acontecerem em Concarneau, na região da Bretanha. A agitação na cidade começa com a tentativa de assassinato do Sr. Mostaguen, que voltava para casa após um jogo de cartas no Hôtel de l’Amiral. Com essa tentativa de assassinato, algumas pessoas começam a ficar agitadas e com medo, desconfiando até de um misterioso cachorro amarelo aparece nas redondezas sem que ninguém saiba de onde veio ou quem é o seu dono.

De maneira muito similar aos livros anteriores, Georges Simenon ergue o clima da obra com maestria. Tendo o ambiente marítimo como um dos seus favoritos, o autor soube muito bem como explorar regiões de cais e também como expor trabalhadores e a organização social em regiões costeiras. Em adição a isso, mais uma vez temos momentos de chuva forte que deixa o ambiente escuro e mais amedrontador, dando uma sensação claustrofóbica que é explorada na medida certa a favor da história como um todo.

A entrada de Maigret aqui é mais silenciosa que o normal e nesse livro, especialmente, o autor reforça a investigação pela intuição e não pela dedução — esse segundo método fica mais a cargo do jovem Inspetor Leroy, que acompanha Maigret como um espantado aprendiz (ele tem 25 anos) e está sempre atento às provas físicas como pegadas, migalhas e coisas do tipo. O bacana é que o Comissário não despreza esse lado científico da investigação e já tivemos provas muito fortes (O Finado Sr. Gallet) de como o policial incentivava esse aspecto de sua profissão. A questão é que ele sabe ler muitíssimo bem o ambiente onde chega, e ao chegar em Concarneau ele começa a observar o funcionamento local e perceber que a coisa não era assim tão complicada como parecia.

Por conta de um certo elemento sobrenatural em dado ponto do texto, me veio à mente o enredo de O Cavalo Amarelo, de Agatha Christie, autora que me voltou à mente no final do volume, onde Maigret faz uma reunião de pessoas e guia uma conversa + monólogo que dá a resolução do caso, muito ao estilo do icônico Hercule Poirot. Em O Cachorro Amarelo, porém, essa reunião de esclarecimento tem um sabor mais forte, porque a investigação que o Comissário guia quase não parece uma investigação! Em alguns momentos do livro eu quase estava concordando com o prefeito da cidade, que reclamava da (aparente) inatividade de Maigret, que vivia andando de um lado para outro, bebendo copos de cerveja e desaparecendo de cena nos momentos em que era mais necessário.

O caráter do crime aqui tem uma série de ramificações, com uma escalada muito rápida de eventos na parte final e uma piora moral que nos deixa muito enraivecidos pela capacidade que alguns seres humanos têm de faz mal aos outros, buscando ainda lucrar com isso. A derradeira ação de Maigret só nos confirma o quão sensacional e o quão coração de ouro é esse personagem. Um detetive verdadeiramente humano.

O Cachorro Amarelo (Le Chien Jaune) — Bélgica
Série Comissário Maigret: Livro #6
Escrito em:
março de 1931
Publicado em: 
abril de 1931
Autor:
Georges Simenon
Editora original: A. Fayard
No Brasil: Companhia das Letras (junho de 2014)
Tradução: Eduardo Brandão
145 páginas

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