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Crítica | Como Matar a Besta

Paranoia rural com identidade forte, mas sem fôlego.

por Roberto Honorato
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Como Matar a Besta é o tipo de filme que pode decepcionar o espectador que estiver esperando qualquer representação física de uma criatura por conta do título, mas para quem gosta de uma abordagem atmosférica e um enredo que depende bem mais de uma narrativa carregada de simbologia e representações abstratas ao invés de uma trama objetiva, essa provavelmente será uma experiência intrigante.

A jovem Emilia (Tamara Rocca) chega em uma cidade na fronteira entre Argentina e Brasil em busca do seu irmão para resolver assuntos sérios, mas ele está desaparecido. Hospedada com sua tia Inés (Ana Brun), Emilia precisa sobreviver em um ambiente com forte influência religiosa, próximo à uma floresta misteriosa onde os moradores da região acreditam habitar uma fera, um espírito maligno que toma a forma de qualquer animal.

Como mencionei antes, ajuda bastante se você assistir esse filme com a intenção de absorver e interpretar significado através dos símbolos representados pela narrativa visual do que procurar por respostas concretas. Co-produção entre Argentina, Chile e Brasil, o longa está mais voltado para um cinema abstrato, de ritmo lento, o típico slow burn, que aproveita uma atmosfera quase surreal para trazer, além do onírico, um suspense gradual que fortalece a tensão entre a protagonista, não só com a possível criatura e o mistério do irmão, mas também com os vizinhos, que estão sempre vigiando as ações da jovem.

Telefones sem sinal, rádios que não funcionam e televisões com apenas um canal são alguns dos aspectos surreais e fantásticos que ressaltam uma sensação de paranoia do início ao fim. O filme depende bastante do visual porque sabe que sua força não está nos diálogos, está na direção de Agustina San Martín e a atmosfera absurda da pequena cidade, com ótimo uso de sombra e luz e ajuda do trabalho de som, o que cria um suspense maior durante as tomadas noturnas. Mesmo sendo um filme com muito do seu conteúdo no subtexto, fica clara a intenção de explorar temas sobre culpa, sexualidade e insegurança, mas nem sempre a proposta parece ser aproveitada por completo.

Quanto às atuações, a própria Tamara Rocca não se destaca tanto, funcionando mais como um agente de reação para os eventos do filme, já a atriz chilena Juliette Micolta tem uma força maior, com um olhar intenso e carisma que me faz questionar se ela não deveria ser a protagonista. João Miguel é o representante brasileiro do elenco, e embora faça uma participação rápida, pelo menos sua personagem é um daqueles elementos que deixa a história ainda mais bizarra.

Como Matar a Besta usa elementos do folclore e mitologia para construir uma paranoia rural sobre liberdade sexual e opressão religiosa. Talvez seu maior problema seja depender demais da interpretação do espectador e deixar alguns debates em aberto, o que funcionaria se resultasse em uma certa ambiguidade da trama, mas não temática – por isso muito do que o longa procura dizer parece ser pouco aproveitado ou explorado apenas em sua superfície, e assim o resultado final é uma obra de visuais marcantes, mas um enredo previsível e um argumento que se perde na quantidade de elementos que procura equilibrar e não é capaz de aguentar.

Como Matar a Besta (Matar a la bestia) – Argentina, Chile, Brasil, 2021
Direção: Agustina San Martín
Roteiro: Agustina San Martín
Elenco: Tamara Rocca, Ana Brun, João Miguel, Sabrina Grinschpun, Juliette Micolta
Duração: 79 min.

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