Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | Como Não Perder Essa Mulher

Crítica | Como Não Perder Essa Mulher

A jornada de Jon, um narcisista viciado em pornografia virtual.

por Leonardo Campos
898 views

Mesmo que tenha algumas inconsistências em seu ritmo narrativo, Como Não Perder Essa Mulher é uma produção interessante por dois aspectos bem específicos: o entretenimento no ramo da comédia e do romance, diferenciada das melosas produções deste tipo, produzidas por eras no cinema hollywoodiano, e a reflexão, haja vista o tópico temático do impacto da pornografia virtual em nossas vidas, um assunto que quase uma década depois do lançamento do filme, retornou com pompa após o advento da pandemia que nos tomou de assalto em 2020 e trouxe consideráveis mudanças comportamentais para o nosso cotidiano. Segundo uma pesquisa da Netskope Security Cloud, houve um aumento de 600% no consumo de pornografia no ciberespaço neste período, um dado que podemos compreender como processo da necessidade do distanciamento social, mas também um alarme para a maneira como estes consumidores estão lidando com imagens que permitem prazer imediato, mas também alguns transtornos. Um deles é o desejo exacerbado por sexo, sem envolvimento com hormônios sexuais. Numa reportagem recente, por exemplo, o entrevistado alegou que não consegue se relacionar sexualmente com mulheres que tem estrias, celulites ou qualquer sinal no corpo. Como lidar?

Estes supostos transtornos, lidos numa perspectiva comparada, podem ser contemplados no desenvolvimento de Como Não Perder Essa Mulher, produção lançada em 2013 e dirigida por Joseph Gordon-Levitt, também responsável pelo roteiro, realizador que até então conhecíamos como ator. Ele promove um trabalho interessante por trás e na frente das câmeras, já que é o protagonista, perdendo a mão em alguns pontos que não chegam a atrapalhar a sessão. Um deles é o ritmo, dinâmico nos primeiros atos, mas arrastado quando o desfecho se aproxima. Na trama, acompanhamos o cotidiano de Jon Martello (Levitt), um jovem bonito, atraente e sedutor, considerado o Don Juan de sua área. Ele é fascinado por seu corpo e nos momentos de narcisismo constante durante os dias e as noites em que circula por diversos lugares, o jovem cultua a sua imagem com esmero. É um deleite olhar para o espelho e se ver refletido. Saber que é objeto de desejo das mulheres que procuram em seu charme uma maneira de diversão.

Ademais, Jon é um amante inveterado de seu carro, das horas que passa na academia, dos amigos que o enxergam como um catalisador de boas garotas e, falando nelas, um admirador de mulheres bonitas. Mas não pode ser qualquer beleza. Os padrões de Jon são altíssimos, quase que inatingíveis. Ela não só quer ir para cama com mulheres belíssimas, como também as quer em desempenhos sexuais semelhantes ao que assiste nos vídeos pornográficos consumidos na internet, a sua principal obsessão, responsável pelos momentos de intensa masturbação quando não encontra na realidade, figuras semelhantes aos personagens destes vídeos da internet. É quando a história encontra o seu nó, a ser possivelmente desatado até o final. Ele percorre os 90 minutos da trama nesta busca incessante por esta imagem de mulher e a encontra em Barbara (Scarlett Johansson), personagem que entrará em sua vida e a mudará para sempre.

Esther, personagem de Julianne Moore, é outra figura que adentra a história para fazer o jovem repensar os seus conceitos de sexo e relacionamento. Neste embalo de mudanças, as suas aventuras são embaladas pela trilha sonora de Nathan Johnson, ideal para a composição da atmosfera necessária em Como Não Perder Essa Mulher, também assertivo na direção de fotografia de Thomas Kloss e seus enquadramentos que observam, como voyeur, a postura do consumidor de pornografia virtual, empregando uma iluminação bem específica para as cenas de diversão on-line do personagem, emergido no design de produção de Meghan C. Rogers, feito no ponto ideal para criar ambientes de pertinência para as dimensões físicas, psicológicas e sociais deste jovem filho de ítalos-americanos que lembram, de maneira caricatural, os Sopranos da série televisiva. Em linhas gerais, Jon é uma ilustração das afirmações de pesquisas que reforçam o quão a pornografia virtual pode criar compulsão, num processo de comprometimento das relações sociais do indivíduo. Pode parecer um mecanismo de controle da sociedade tradicional, mas não é: como uma droga, satisfaz de imediato, mas cria um distanciamento da realidade, com pessoas que buscam padrões questionáveis, praticamente inatingíveis.

Como Não Perder Essa Mulher (Don Jon – EUA, 2013)
Direção: Joseph Gordon-Levitt
Roteiro: Joseph Gordon-Levitt
Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Scarlett Johansson, Julianne Moore, Tony Danza, Glenne Headly, Brie Larson, Rob Brown, Jeremy Luke, Paul Ben-Victor, Italia Ricci
Duração: 90 min

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais