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Sagas DC | Convergência

por Luiz Santiago
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estrelas 2

O Universo DC inteiro, da aurora dos tempos até os Novos 52 deve lutar para sobreviver a uma ameaça que curva o Multiverso à sua vontade. Seus personagens favoritos de cada era e série esquecidas estão aqui! Mas você vai dizer “olá” novamente apenas para dizer “adeus” para sempre?

Chamada oficial da DC para o evento.

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E lá vamos nós. DE NOVO…

O irônico ditado popular “pra quê simplificar se a gente pode complicar?” parece ser a pedra angular das editoras blockbuster de quadrinhos desde a década de 1980. Ao reverem origens, recriarem personagens, tentarem agrupar dados e “organizar” eventos grandiosos, casas como Marvel e DC acabaram tomando o gosto por essa coisa de Multiverso e, desde que descobriram que isso pode ser um bom chamado de marketing, tornou-se para elas uma paranoia quinquenal.

Após as mudanças feitas pela DC Comics em 2011, ficava a dúvida sobre que loucura viria a seguir, especialmente com o fracasso parcial dos Novos 52. Com o fim das periódicas especiais Terra 2: Fim do Mundo e Fim dos Tempos (também conhecida aqui como Fim dos Futuros), Convergência, o inicial “tapa-buraco” que exploramos melhor na Edição #0, ganhou asas e se tornou algo importante, colocando-se como O evento em que a DC se redimiria…

Bem, embora algumas ideias dentre as muitas promessas tenham sido cumpridas aqui, a forma como elas foram executadas e a tremenda confusão gerada com tudo isso — confusão que a editora não fez questão nenhuma de esclarecer, mastigar, falar didaticamente para os leitores — tornou Convergência mais um “desfaz o que já foi feito” porco e pouco empolgante. Algo bem diferente das coisas lindas que o co-editor da DC, Dan DiDio diz nessa entrevista marqueteira:


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O Evento

SPOILERS!

Convergência, que teve sua introdução em A Máquina Divina, propôs trazer o Multiverso para o centro das atenções, a fim de criar novas oportunidades de trabalho para o roteiristas e usar, quando fosse preciso, alguns desses “mundos passados/perdidos” em uma história ou arco qualquer. Percebam que a ideia, se vista isolada, é muitíssimo interessante. Afinal, novas histórias, personagens clássicos, gente do passado e do presente, criatividade à toda prova… que leitor de quadrinhos, em sã consciência, não gostaria que isso fosse possível? Mas a pergunta é: a que custo?

É justamente neste ponto que começam os problemas de Convergência. O roteiro de Jeff King e Scott Lobdell coloca Brainiac (uma fusão de todos os que já existiram, devido a sua constante viagem pelo Multiverso, coletando cidades) e Telos (o novo vilão que não é vilão) em um lugar fora do tempo e do espaço chamado Blood Moon. Para este lugar, são levadas 40 cidades de tempos e universos diferentes da DC, que recebem, já na Edição #1, o ultimato de Telos para que lutem entre si e que a mais forte dentre elas sobreviva. É um experimento que parece juntar a ideia da “sobrevivência do mais apto” de Herbert Spencer a uma estrutura de Campos de Concentração. No toggle abaixo deixarei a longa fala do vilão que pode explicar muita coisa sobre propósito geral da minissérie pra vocês.

Fala de Telos para as 40 cidades da Blood Moon

Convergência #1.

Fala de Telos. Roteiro de Jeff King e Scott Lobdell. 

Cidadãos do meu mundo. Eu trouxe essa convergência até vocês. Agora é o momento. A hora está próxima. O julgamento está aqui. Apenas uma cidade sobreviverá, apenas a mais forte.

Desde que chegaram, eu sou o ar que vocês respiram, a água que bebem. Eu sou o próprio chão por onde vocês caminham. Eu sou o seu céu sem estrelas. Eu sou este mundo. Eu sou Telos. Eu cuidei de todas as suas necessidades, mas agora as cúpulas cairão e campeões de levantarão. Nunca os poderosos entre vocês foram tão necessários, pois vocês estão prestes a participar do maior experimento de todos. Seu tempo acabou. Seus mundos morreram. Mas eu tenho o poder de conceder o futuro a uma cidade.

Alguns de vocês vieram a mim em tempos de Crise Infinita. Outros chegaram aqui em momentos finais de sua Zero Hora. Tem sido um Ponto de Ignição para um tempo que nunca existiu… Ou de reinos que nunca chegarão ao amanhã. Todos aqui tiveram a vida concedida como resultado do meu domínio. ISSO MUDA AGORA. Hoje seu cativeiro se torna uma competição. E apenas uma cidade entre muitas sobreviverá a este dia.

Defensores de cada domínio lutarão um com o outro e só os maiores heróis sobreviverão. Neguem… seu povo será destruído. Desobedeçam… suas cidades serão esmagadas sob minha mão. Burlem os conflitos de qualquer modo… os seus cidadãos pagarão o preço. Não há como unirem interesses. Sem piedade. Apenas uma cidade sobreviverá a este dia. Todos os outros mundos finalmente conhecerão o abraço escuro do esquecimento!

Então você se depara com um discurso contundente desses e se espanta, acreditando que, mesmo a primeira edição tendo sido fraca, com um Telos ligeiramente diferente do que foi apresentado em Convergência #0 e quase um reboot de apresentação do planeta para aquela edição, que as coisas se ajeitarão a seguir. O que de fato nos sobra de positivo dessa abertura é a clichê mas ainda interessante proposta meio Jogos Mortais meio Jogos Vorazes que as cidades capturadas precisam enfrentar. Dá vontade de ver o circo pegar fogo. Tirando isso, todo o restante do texto é descartável. Na outra ponta, Carlo Pagulayan faz um ótimo trabalho na arte, completado por uma finalização simples, mas eficiente de Jason Paz e cores fortes (muito bonitas, mas quentes demais para o teor da trama) de John Starr e Peter Steigerwald.

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Apresentação dos heróis da Terra-2 no início da aventura.

Nas edições seguintes esse início explosivo ganha guinadas incompreensíveis e subtramas que desviam a atenção e só confundem o que já é bastante confuso. No caso da Edição #2, o apelo emocional inicial é solto (Grayson e o filho), mas o mesmo apelo em relação a Thomas e Bruce Wayne é muitíssimo bem construído, tornando-se o melhor momento da revista. Percebemos que a HQ se estrutura bem em “quadros isolados” mas perde-se na premissa que a gerou e que se seguirá a esses eventos, ou seja, o “grande plano”.

Na Edição #3 percebemos uma arte mais realista, traços mais bem finalizados, cores em contraste mais forme e menor luz nos quadros. A ideia de decadência e perdição é melhor sentida do que nas edições anteriores, tornando momentos como a destruição de Kandor e o sacrifício de Thomas Wayne (+ sua consequência) um bom evento visual e narrativo. Todavia, não há como aceitar as falas estúpidas de Val-Zod (o Superman da Terra-2), a ação inicial da equipe e a estranha colocação de Deimos no grupo, personagem que terá uma das mais insatisfatórias motivações e contextualização de toda a minissérie, começando já na Edição #4, com toda aquela coisa mal argumentada da ligação dele com Brainiac.

Até esse momento da história há uma estrutura central ativa. A série não ai bem das pernas, mas até a desprezível Edição #5 havia coerência da trama nuclear com o seu objeto de conflito, algo que é jogado fora quando Brainiac é descartado sem mais nem menos; Deimos ganha um espaço que não devia ter e Telos, o então todo-poderoso, revela-se como um “vilão-meio”, um tipo de fantoche que chega a um momento de anticlímax antes mesmo da reta final, que é anticlimática. Não bastasse isso, o roteiro adiciona um diálogo em off e desnecessário de Dick Grayson e nos faz ver Brainiac e Deimos mergulharem em um mimimi épico, parecendo duas moiçolas brigando para uma desprender o nó do cabelo da outra. A única coisa que se salva na revista são as ótimas páginas duplas com arte lindíssima e a exploração de Tara e o Guerreiro em Skartaris, aliás, uma trama muito bacana que foi simplesmente abandonada pelos roteiristas (e não, esta não foi a única história abandonada).

guerreiro

Sai da frente que o Guerreiro está bravo!!!

E então vem a Edição #6 e você pensa: por que diabos esses roteiristas não fizeram algo nesse estilo, pela jornada inteira? A essa altura do campeonato, o leitor está tão decepcionado com o fato de a série ter mudado de propósito e que o vilão principal mudou e que nada mais é o mesmo, que um bom texto dentro de todas essas mudanças cai como um bálsamo. A arte nesse momento alcança um excelente nível, as páginas duplas voltam a impressionar e as batalhas são um atrativo e tanto, modelo que se repetirá nas duas edições finais da minissérie, com a soma de elementos do nosso mundo, o que torna as coisas confusas em parâmetros textuais, mas muito interessantes em termos visuais.

O desfecho do evento caminha ainda mais para o abismo da confusão com UMA EXPLICAÇÃO APENAS FALADA para o que Parallax, Barry Allen, Supergirl, Superman, Lois e o bebê fazem ao final de tudo. Ou seja, Jeff King e Scott Lobdell desfazem a Crise nas Infinitas Terras e, por tabela, também desfazem Zero Hora e Ponto de Ignição apenas com uma breve narração. E pronto, é isso. Há muito tempo eu não lia um final de minissérie tão tedioso e tão patético (não no sentido original da palavra) como Convergência. E é com isso que os leitores devem se conformar e aceitar para o “novo mundo da DC” que começará já em junho de 2015, com as novas séries e sequências das já publicadas chegando às bancas e à internet. Lembrando que os Novos 52 não existem mais, embora os heróis desse momento existam e ainda sejam o foco central das publicações, até segunda ordem.

Em tempo: há uma possibilidade de interpretação sobre a questão da Crise nas Infinitas Terras. Tanto Jeff King nas entrevistas sobre Convergência, quanto Grant Morrison sobre The Multiversity, têm feito questão de dizer a seguinte palavra: MULTIVERSES. No plural. Nesse caso, se você ainda tem neurônios para pensar em possibilidades pra a DC, faça sua própria cronologia e seja feliz.
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E Como Fica a DC Comics Depois de Convergência?

Bom, a principal coisa é que o Multiverso está aí, para quem quiser usar. Esse, na verdade, é o principal status da DC agora. As 52 Terras (principais, porque existem mais) amadureceram, viraram versões evoluídas das clássicas, embora fique nas entrelinhas a possibilidade de convivência em linhas temporais distintas e paralelas de todas as gerações, as “fantasmas” e as atuais, como podemos ver nas páginas duplas ao final de Convergência #8.

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“Eles conseguiram. A realidade está resetando. Se estabilizando.”

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“Os mundos evoluíram, mas ainda existem.”

Por fim, vale dizer que temos uma Nova Terra-2, habitada pelos heróis “sem-teto” depois que tiveram seu mundo destruído, lá no início de Convergência #1. Essa Nova Terra-2 merece boa exploração pelos heróis que ficaram nela (Grayson como Batman; Val-Zod como Superman; Alan Scott como Lanterna Verdade; Jay Garrick como Flash; Yolanda Montez como Avatar do Vermelho/Pantera) pela curiosidade latente que nos é deixada para a relação deles para com o povo que estava lá antes.

E aí, o que VOCÊ achou de Convergência? Animado para o futuro da DC? O que imagina que virá a partir daqui? Deixe sua opinião nos comentários!

Convergência (Convergence) — EUA, 2015
Editora:
DC Comics
Roteiro: Jeff King, Scott Lobdell
Arte: Carlo Pagulayan (1, 2 e 8), Stephen Segovia (3, 4 e 8), Andy Kubert (5), Ed Benes, Eduardo Pansica (6 e 8), Aaron Lopresti (7),  Ethan Van Sciver (8).
Arte final: Jason Paz (1 a 4 e 8), Mark Farmer, Jonathan Glapion, Julio Ferreira, Rob Hunter, Mark Roslan, Stephen Segovia (4), Sandra Hope (5), Ed Benes, Trevor Scott, Scott Hanna, Wayne Faucher (6), Mark Morales (7), Scott Hanna, Trevor Scott, Stephen Segovia, Ethan Van Sciver (8).
Cores: John Starr, Peter Steigerwald (1,2, 4 e 8), Brad Anderson (5), Peter Steigerwald (3, 6 e 7).
230 páginas

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