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Crítica | Copra: Round Um

O Esquadrão Suicida da Image.

por Ritter Fan
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O cubano radicado nos EUA Michel Fiffe é um daqueles raros criadores ocidentais de quadrinhos que joga em absolutamente todas as posições, do roteiro à arte, passando pelas cores e letras e chegando às capas, muito na linha do que seu fenomenal colega James Stokoe costuma fazer. Mas Fiffe vai um passo além e, sob o manto de sua empresa Copra Press, criada em 2011, ele também publica suas HQs na base da estratégia de guerrilha mesmo, mais ou menos como Kevin Eastman e Peter Laird começaram a publicar as HQs das Tartarugas Ninja.

Foi assim que ele lançou as edições #1 e 2 de Copra, que tiveram uma modesta tiragem de 400 exemplares cada, crescendo bem aos poucos nos números seguintes, mas só realmente chegando a ter volume quando, em 2013, ele se associou à Bergen Street Press para o lançamento de compilados de sua criação e, mais ainda, claro, quando, em 2019, a Image Comics passou a ser sua casa. O que quero dizer com isso é que Fiffe e seu Copra, já de antemão, merecem aquela atençãozinha extra dos leitores de quadrinhos de todo o mundo, pois não é fácil fazer o que ele fez e ter sucesso contínuo na empreitada. Obviamente, porém, que jamais mencionaria isso se sua criação fosse ruim ou meramente descartável, o que nem de longe é.

Em termos criativos, Copra é uma proposital amálgama do que já é conhecido nos quadrinhos das duas grandes editoras mainstream. Da DC Comics, ele extraiu as linhas gerais de sua história, com um grupo que em tudo se assemelha ao Esquadrão Suicida: personagens perturbados com poderes e/ou habilidades variadas que se unem em missões impossíveis com cada um deles sendo dispensável e todos debaixo do controle de Sonia, uma mulher negra de proporções avantajadas. Também da DC, mas misturando com a Marvel Comics, ele cria seus personagens, um extremamente parecido com o Justiceiro, outro com o Pistoleiro, um adolescente usando uma armadura que parece ser a versão deste universo do Homem de Ferro e até mesmo um vilão, Vitas, que lembra Nimrod. Há de tudo um pouco, na verdade, e localizar as referências é parte da brincadeira, não tenham dúvida.

Mas, para além das referências, há uma forte história de vingança depois que Vitas, ex-membro do Copra, rouba um artefato – na verdade, é uma cabeça decepada com um fragmento vítreo em forma de raio cravado na testa! – e o usa para destruir a cidade-natal de Cabeceira, o líder atual do grupo. No entanto, curiosamente, apesar de vermos a tragédia acontecer, o roteiro de Fiffe não tenta emprestar ar sentimental algum ao ocorrido. É, basicamente, vida que segue, mas com um pouquinho de “molho de pimenta” acrescentado à missão de pegar de volta o artefato, o que inclui receber a visita de um alienígena interdimensional e, claro, combater o mega-vilão e seus minions em Tóquio, onde mais?

Fiffe, na arte, parece unir o estilo de um mesmo artista conhecido em duas fases muito distintas. Ele tem a leveza e agilidade de traços do Frank Miller ainda jovem, em começo de carreira, com a pegada mais caricatural, “feia” e suja do mesmo Miller, só que já mais velho, pós-Sin City, quando o desenhista passou a ficar completamente despreocupado com o que colocava – e coloca – nas páginas. A grande vantagem é que cada lado dessa moeda estilística mantém o outro em xeque, o que leva Copra a um equilíbrio salutar. Some-se a isso um cuidado muito grande ao criar personagens “diferentes, mas parecidos”, seguindo a linha já mencionada de homenagens e referências, e também ouso de cores em tons pasteis que realmente diferenciam o material e tornam a leitura ainda mais agradável apesar de toda a violência e pronto, eis que Fiffe imprime muito claramente seu inconfundível estilo e não demora a criar um universo rico, ainda que não exatamente complexo, pelo menos não neste primeiro “round“.

O arco inicial de Copra é energia cinética pura, com textos pouco intrusivos, arte intuitiva e fácil de acompanhar, mas cheia de detalhes bacanas para fazer valer uma repassada de olhos depois da primeira leitura, com personagens familiares, mas com uma pegada própria. E o melhor é que, claro, Fiffe deixa todo o espaço do mundo – pela própria natureza do grupo que o inspirou – para trabalhar outros personagens nos arcos seguintes, o que só contribui para ampliar esse começo de “construção de mundo” que ele fez aqui.

Copra: Round Um (Copra: Round One – EUA, 2012/13)
Contendo: Copra #1 a 6
Roteiro: Michel Fiffe
Arte, letras, cores: Michel Fiffe
Capas: Michel Fiffe
Editora original: Image Comics
Datas originais de publicação: novembro de 2021 a abril de 2013
Editora no Brasil: Pipoca & Nanquim
Data de publicação no Brasil: maio de 2021
Páginas: 164

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