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Crítica | Corvos (2007)

Aves assassinas contaminadas pelo vírus da vaca-louca.

por Leonardo Campos
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No universo cinematográfico do horror ecológico, as aves não tiveram presença interessante além dos bons momentos dos monstros dirigidos por Alfred Hitchcock em Os Pássaros, produção que até hoje rende discussões filosóficas sobre as motivações para os ataques das aves, bem como as alegorias acerca dos animais representarem os conflitos humanos. Em Corvos, não temos sofisticação, apesar do texto de Benjamin Sztajnkry tentar flertar com uma espécie de modernização do material dirigido pelo mestre do suspense. Aqui, os corvos são as aves que causam o estrago numa cidade que precisará de habitantes corajosos para desvendar os mistérios por detrás de seus ataques. Lançada em 2007, a produção investe em situações absurdas e explicações que se levam bastante a sério demais para retratar a fúria dos animais diante da presença da vida humana. Irregular, o horror ecológico em questão é falho por perder várias vezes o ritmo, contar com um elenco muito inexpressivo, a encenar um texto igualmente fraco, com diálogos arrastados e clichês excessivos para atender aos anseios burocráticos dos realizadores em construir um filme de terror para consumo rápido.

Com direção de Sheldon Wilson, Corvos traz uma cidade aterrorizada com os ataques de corvos ensandecidos. Durante a investigação que envolve o óbvio casal com desdobramentos românticos para aproximação e simpatia do espectador, descobriremos em etapas que as vacas de uma fazenda local morreram em decorrência da encefalopatia espongiforme bovina, isto é, a “doença da vaca louca”, um mal que causa agressividade, perda da coordenação e posterior morte destes animais. Com receio de pagar multa e ter o seu estabelecimento fechado pelas autoridades, o dono do empreendimento oculta informações sobre o problema e crise se estabelece. Como? Simples: o roteiro nos explica que os corvos se alimentaram destes animais mortos e diante disso, se tornaram criaturas afetadas pelos males da doença, tendo a agressividade como força para atacar e ceifar vidas humanas. É com esse mote que o filme se desenvolve ao longo de seus 92 minutos, tendo a rara doença cerebral dos bovinos adultos como explicação científica e social para a presença ameaçadora dos corvos.

O tal fazendeiro até tenta queimar os cadáveres para afugentar os corvos perigosos, mas isso deixa as aves ainda mais iradas. Será por intermédio de Wayne (Sean P. Flanery), xerife da cidade, juntamente com o médico Doc (Rod Taylor) e a astuta Cynthia (Kristin Booth) que alguns mistérios serão desvendados e a trama ganhará os rumos para o devido desfecho, insatisfatório não apenas em sua reta final, mas durante todo o desenvolvimento. Com design de produção de Theresa Tindall, Corvos mescla aves reais com CGI, numa paisagem desolada, tomada pela neve e silêncio. É um ambiente fácil para qualquer um se perder ou ser ocultado. Há ainda menções ao fanatismo religioso, com a subtrama de oferendas aos menonitas, agrupamento semelhante ao culto Amish. Aqui, não se debate a contaminação por humanos e os males possíveis de se estabelecerem com o consumo, tal como a demência, o coma e a deterioração mental veloz ocasionada pelo contato com a carne.

O foco em Corvos é a transferência do mal para as aves vivas, transformadas em algozes dos seres humanos que lutam pela sobrevivência neste horror ecológico com tentativa diferenciada para explicação da fúria animal, escolhas, no entanto, não suficientes para nos convencer ou tornar a história interessante. Com efeitos visuais supervisionados pela equipe de Billy D. Choi, a trama conta com algumas mortes graficamente expressadas pela maquiagem de David Scott e captada pela direção de fotografia de Steve London, setor que investe em uso constante de planos abertos para a inserção das aves criadas pelos parcos efeitos gerados digitalmente para inserção na pós-produção. Animatrônicos e recursos dos efeitos especiais teriam empregado mais realismo e tornado alguns pontos do filme mais interessantes, mas não foi a opção escolhida pelos realizadores. Ademais, para cobrir a necessidade de causar impacto com a presença assassina dos corvos, a trilha sonora de John P. Tarver carrega bastante no uso de violoncelos e o design de som de Richie Neto promove um caos auditivo para reforçar a ameaça representada pelas criaturas. É uma produção com equipe esforçada, mas sem alcance dos resultados que esperamos, o que torna Corvos apenas uma narrativa abaixo da média sobre animais em fúria como ameaça para humanos incautos.

Corvos (Kaw, Canadá/EUA – 2007)
Direção: Sheldon Wilson
Roteiro: Benjamin Sztajnkrycer
Elenco: Ashley Newbrough, Kristin Booth, Megan Park, Amanda Brugel, Emma Knight, Gray Powell, Jefferson Brown (I), John Ralston
Duração: 85 minutos

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