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Crítica | Cosmic Powers Unlimited

por Kevin Rick
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Criticar determinado período artístico com um olhar atual é sempre uma tarefa complicada, pois é necessário se ater ao contexto da época, o modo como tal arte era vista no seu espaço de criadores e consumidores, e à realidade social mesmo. Dito isso, eu simplesmente não consigo entender o apelo noventista exagerado dado à quadrinhos de super heróis, com uma pegada fisiculturista aos personagens e exageração de vestimentas, da forma de falar e dos poderes, ao mesmo tempo que a narrativa se torna nota de rodapé, apenas um motor para o estilo excessivo que marcou a Nona Arte nos anos 90. E claro que existiam exceções, como Hellblazer, Sandman, entre outros, mas a grande regra artística era o descomedimento.

E então entra o Surfista Prateado, um personagem utilizado majoritariamente para contar histórias filosóficas, metafísicas e simbólicas, tocando em temas existencialistas e questionamentos acerca do Universo, da liberdade e de propósito. Ele não poderia ser mais oposto à proposta estilística e narrativa dos anos 90, e em Cosmic Powers Unlimited, nos vemos a tentativa de misturar o clássico Surfista com a linguagem do período, o que acaba não funcionando muito bem. A HQ apresenta uma série antológica de cinco edições, no qual vemos histórias contidas do Surfista Prateado com diferentes seres cósmicos, destoando bastante de qualidade entre elas.

Cosmic Powers Unlimited

A melhor história vem na forma da inusitada parceria do Surfista com Thanos, após o protagonista descobrir que a Morte quer ele como parceiro no Reino da Morte pelos serviços prestados como arauto do destruidor de Mundos, Galactus. O discurso aqui é de culpa mesclado ao medo de servir à Morte novamente, já que o personagem preza pela vida. O desenrolar de ações com a já conhecida obsessão do Titã pela Morte é divertida, e também abre o conceito principal da HQ: a balança de poder, mais necessariamente o poder cósmico.

Todas as edições tocam nesse quesito de diferentes formas, seja se abdicando frente a seres poderosos, ou então sabendo como controlar ou usar determinado poder para manutenção do equilíbrio universal, independente de moral e ética. É um discurso bacana, que até funciona bem nas primeiras edições com a trama de culpa do Surfista, apesar de não ser nada espetacular, mas à medida que a leitura avança, a pegada simplista e exagerada do período vai tomando conta da linguagem da obra, especialmente nas enfadonhas edições finais. É tudo tão expositivo, ridículo e exagerado que, sinceramente, estava ansiando o final. E o problema é que não é um excesso divertido como algumas obras da época souberam utilizar a seu favor, mas sim uma experiência de revirar os olhos e bastante esquecível no minuto que o desfecho chega.

Cosmic Powers Unlimited é um quadrinho extremamente desconhecido por aí, mas a proposta antológica dele chama atenção, assim como o discurso cósmico do poder, seus limites de uso e balança universal, especialmente com um personagem intrigante como o Surfista, mas a época em que foi lançado o fez um grande desfavor.

Cosmic Powers Unlimited — EUA, 1995/1996
Roteiro: Ron Marz (#1), Greg Wright (#2, 4 e 5), Michael Gallagher (#3)
Arte: Scott Benefiel, Steve Carr (#1); Geof Isherwood, Don Hudson (#2); Sandu Florea (#3); Scot Eaton, Dave Hoover (#4 e 5)
Cores: Electric Prism (# 1, 2), Mike Rockwitz (#3); Paul Becton, Malibu Color (#4 e 5)
Letras: Ken Bruzenak (#1), John Costanza (#2), John Morelli (#3); Janice Chiang (#4 e 5)
Capas: Claudio Castellini
Editoria: Mark Gruenwald, Joe Andreani
273 páginas

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