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Crítica | Cosmos (2015)

por Guilherme Coral
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estrelas 2,5

O último filme de Andrzej Zulawski, que permanecera quinze anos sem realizar nenhum filme e retornara para nos entregar seu último conto, é uma mostra do talento do diretor, que satiriza as clássicas histórias de detetive através dessa adaptação do livro homônimo de Witold Gombrowicz, Cosmos. Apesar da beleza do que vemos em tela, porém, o roteiro não consegue sustentar a narrativa de forma fluida, perdendo seu espectador inúmeras vezes ao longo da projeção, independente dos esforços na direção e o trabalho dos atores que verdadeiramente se destaca, mesmo cumprindo o que o texto pede de cada um deles.

A trama gira em torno de Witold (Jonathan Genet), que fracassara nas provas em sua faculdade de direito. Junto de Fuchs (Johan Libéreau), que abandonara seu trabalho na área da moda, eles se hospedam na casa de uma família a fim de fugir um pouco de suas realidades. Lá, contudo, o protagonista passa a enxergar inúmeros sinais de mau-agouro, como um pardal enforcado e pedaços de madeira presos na cerca-viva. Em paralelo, sua obsessão pela jovem Lena (Victória Guerra), que ali mora, passa a consumir sua mente, nos levando em uma jornada repleta de loucuras e situações inusitadas.

O que, de fato, mais nos incomoda em Cosmos é o seu roteiro excessivamente verborrágico. Palavras são soltas aos quatro ventos em uma necessidade de cada personagem se expressar a cada instante, muitas das vezes ao mesmo tempo que outros. Chega ser estranho constatar isso, mas a maioria dos diálogos do filme sequer entendemos, por serem apenas frases soltas, citações de autores ou cineastas que expressam, sim, os sentimentos dos personagens, principalmente de Witold, mas que pouco acrescentam à narrativa. Jonathan Genet desempenha um bom papel e não necessitaria de tantas falas para compor seu personagem, ele entrega uma interpretação genuína, mas que é prejudicada pela necessidade do roteiro em dramatizar qualquer evento.

Esse exagero de falas se estende, naturalmente, para outros personagens e, em alguns casos, ajudam a construí-los. O mais notável, porém, é o contraste criado pelo silêncio de Lena, que se diferencia nesse quesito dos outros indivíduos que acompanhamos na tela. Seu outro diferencial é uma loucura ainda maior que a dos outros, uma peculiaridade que a transforma em um ser nada social, justificando a atração de Witold pela sua estranheza. Há um mistério que rodeia a personagem e, assim como o protagonista, sentimos a necessidade de desvendá-lo.

Os defeitos do roteiro, felizmente, não conseguem mascarar o trabalho de direção de Andrzej Zulawski, que opta por planos mais longos e uma câmera quase sempre em movimento, transmitindo uma agitação ao espectador, que espera que algo irá acontecer a cada momento, especialmente considerando as constantes quebras de expectativas geradas pelos personagens caricatos. O trabalho de fotografia de André Szankowski traz uma precisão bela de se enxergar, trabalhando constantemente com a mudança de foco para preservar a duração de cada plano, além de simbolizar o ocultamento de alguns aspectos de cada personagem. Não há como não se deixar levar mesmo pelos créditos finais, que mostram a produção da obra, como homenagem ao falecido Zulawski e o legado que deixara para nós.

Cosmos é um filme tecnicamente incrível, mas cujo roteiro deixa muito a desejar. A tentativa de satirizar as histórias detetivescas fica perdida no meio da constante verborragia incompreensível em sua maior parte, cansando o espectador que passa a rezar por um minuto de silêncio, que até daria mais espaço para os atores brilharem em tela. Um filme igualmente interessante e dispensável, que conta com sua importância por seu o último trabalho de Zulawski, que, como diretor, não nos decepciona nem um pouco.

Cosmos — França/ Portugal, 2015
Direção:
 Andrzej Zulawski
Roteiro: Andrzej Zulawski (baseado no livro de Witold Gombrowicz)
Elenco: Sabine Azéma, Jean-François Balmer, Jonathan Genet, Johan Libéreau, Victória Guerra,  Clémentine Pons, Andy Gillet
Duração: 103 min.

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