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Crítica | Cowboys do Espaço

por Iann Jeliel
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Ao longo da carreira, Clint Eastwood passeou entre as mais variadas representações do herói americano. Entre cowboys invencíveis e policiais moralmente justiceiros, só faltou a Eastwood em algum momento viver um astronauta que venceria a Guerra Fria. E quem diria que isso aconteceria aos 70 anos de idade. Fase essa em que estava no auge como diretor, com filmes que trabalhavam muito bem seus arquétipos tradicionais em contraste a uma modernidade que questionaria se essas personas não conseguiriam se adaptar a um contexto que não lhes pertencia mais. Cowboys do Espaço não necessariamente seguirá isso de forma dramaticamente tão potente quanto fez em Os Imperdoáveis, por exemplo, mas a base de “uma última missão”, para um veterano que viveu disso, é a mesma.

A diferença é que Eastwood nunca viveu a primeira, bem como seu personagem, o que acaba direcionando o filme a um espírito mais aventuresco para combinar com o clima de um sonho pessoal tardiamente realizado. Estruturalmente, a narrativa é bem simples, direta e linear. Apresentam-se a premissa, os personagens, o treinamento para a missão e a missão. Sem muito esperneio ou mirabolância, a direção conduz o desenvolvimento com um timing preciso que valoriza cada cena e relação sobreposta na história.  A química do elenco junto à montagem dinamiza espontaneamente os acontecimentos em um ritmo ideal, evitando elipses bruscas, mas não postergando interações demasiadamente. É um filme com uma ótima noção de transição entre seus atos, sabendo como preencher cada um deles de modo organizado com a crescente de transformações no tom.

Em essência, seu tom é leve, muito bem-humorado na hora de fazer brincadeiras com as idades dos personagens e o tamanho desafio que encaram, mas também consegue ser levado a sério quando precisa impor um senso de periculosidade ou risco sobre o cancelamento da missão. Prefiro quando está em seu primeiro estágio, pois todo o quarteto está afiadíssimo na comicidade, especialmente e Donald Sutherland, que faz uma espécie de tiozão garanhão muito divertido, as gags envolvendo suas novas paqueras são as melhores piadas do filme. Vale destacar também as que envolvem o atrito dos personagens de Eastwood e Tommy Lee Jones, porque é onde o roteiro localiza seu ponto de intersecção dramática.

Uma das melhores sequências nesse sentido é a briga no bar, que é divertida por se tratarem de velhinhos trocando a mão, mas também é interessante por descarregar um mar de orgulhos aprisionados, utilizados mais à frente para potencializar a grande virada em torno do personagem de Lee Jones, pouco antes da viagem. Para uma virada tão bem construída deixar o final mais emocionante, falta a ela reverberar de modo mais impactante no terceiro ato.  Quando eles finalmente vão ao espaço, a direção de Eastwood parece perder pulso ou, no mínimo, ficar indecisa quando acioná-lo. É legal enquanto há uma tensão mais sugestiva envolvendo somente a execução plástica da missão. Contudo, existe uma série de reviravoltas implementadas de última hora, com a vontade de deixar tudo mais empolgante, mas que não vêm acompanhadas da energia que o deixaria assim.

A sensação é morna e pouco condizente com o senso consequencial que estava singularmente induzido à glorificação do heroísmo. Pergunto-me se não houvesse a transição de tom, um pouco de breguice não melhoraria a sequência final, em termos de ação, porque mesmo diante de personagens já simpatiza dos, tem-se dificuldade de sentir a grandiosidade totalitária do que foi feito por eles, ou se o perigo que sentíamos que eles corriam já não estava manjado. Apesar da previsibilidade e apatia emocional desse final, Cowboys no Espaço é um filme com o coração de seu diretor, trazendo as melhores características de seu cinema bem dialogadas no entretenimento.

Cowboys no Espaço (Space Cowboys | EUA-Austrália, 2000)
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Ken Kaufman, Howard Klausner
Elenco: Clint Eastwood, Tommy Lee Jones, Donald Sutherland, James Garner, James Cromwell, Marcia Gay Harden, Loren Dean, William Devane
Duração: 125 minutos

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