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Crítica | Creed III

O aquecimento para novos rounds.

por Felipe Oliveira
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Chegando para uma nova façanha, Creed III pode ser resumido por sua intenção de sair da sombra de um remake, requel e spin-off para então seguir com a subfranquia de maneira mais independente, um passo ousado para um começo iniciado com Balboa. Porém, como Ryan Coogler já esboçava em Creed – Nascido para Lutar, a releitura respeitosa de Rocky – Um Lutador buscava definir a história de seu personagem título por seus próprios méritos ainda que espelhasse uma linguagem com acenos nostálgicos, a narrativa sempre prezava por um contexto além das alusões visuais entre os dois filmes.

O que Michael B. Jordan faz em sua estreia na direção num filme que também protagoniza, é cortar a linha tênue entre desenvolvimento dos personagens e símbolo de nostalgia de uma trama derivada, mantendo como foco expandir a figura que dá título a agora não “sub”, mas franquia que surge com um capítulo inclinado a dizer mais sobre seu potencial de maneira solta e pessoal. Para seu debut, Jordan foi esperto ao manter por perto a proposta de Coogler de trabalhar os conflitos dos personagens em primeiro plano e deixar as lutas no ringue como uma emoção visual e estilística, característica muito bem-vinda aqui.

Olhando por uma ótica mais fria, o roteiro de Creed III é bastante protocolar e familiar nas escolhas para impulsionar “uma nova luta” para Adonis, o que faz o longa ser um tanto que genérico quando se atenta para a adição de Jonathan Majors no papel do rival Damian, porém, o que compensa a trivialidade da trama é pelo potencial criativo na direção de Jordan em contar essa história pelo seu caráter sensível e sombrio. Nesse ponto, ter a base de Coogler no texto exprime muito bem o sentimento que fez Nascido para Lutar contagiar muito mais do que o efeito da nostalgia na era dos requels, isso porque foi um filme que conseguiu equilibrar um drama com toques de romance com carisma e personalidade.

Jordan traduz esse sentimento ao executar o que há de melhor no roteiro de Keenan Coogler e Zach Baylin, isto é, a atmosfera de um drama mais denso. Então, por mais que todo o conflito por rivalidade, ressentimentos e perdão entre Damien e Adonis seja previsível até mesmo na resolução, resta uma força maior no teor complexo da história que dá a individualidade que Creed III precisa para ser um entretenimento envolvente como um filme de esporte e emocionalmente pelo modo que trabalha seus personagens. E essa natureza é concentrada nos arcos sobre passado e família, sem parecer um exercício melodramático vazio.

Muito desse acerto vem do carisma e química que há entre Jordan e Tessa Thompson como Bianca, característica que ganha mais nuances dramáticas com Amara (Mila Davis-Kent), filha do casal, o que adiciona como os dilemas morais de Adonis como lutador e seus problemas emocionais envolvendo o passado implicam no contexto familiar e o que o diálogo diz  para o entendimento das emoções. Embora Damien seja quem vai revelando outras rachaduras sobre o baby Creed, é mais interessante ver a performance de Majors do que a mera função como causador de conflitos do seu personagem e os desdobramentos óbvios da história. Assim, quando se isola o clima denso, reforçado pela cinematografia de Kramer Morgenthau, fica perceptível o caminho que o roteiro traça para chegar num ápice emocional comum, sem a mesma essência sólida de Coogler.

Ao nem sequer fazer menção a Balboa (e até no salto de tempo na narrativa) é como o roteiro bate o martelo quanto ao retorno do personagem futuramente, porém, mesmo tendo uma direção interessante de Jordan o que é evidente nos acenos a animes nas cenas de luta, oferecendo um show a parte com jogo de câmera lenta, cenários representativos e referências visuais esse passo para uma independência como franquia não soa tão empolgante quando se pensa na criatividade da história que sempre renderá uma nova luta para Creed, e o terceiro capítulo aqui não deixa de transmitir um sentimento de desfecho de um legado ao mesmo tempo que está aberto para outro round. É sabido que Creed é um personagem definido pelo seu passado, mas até quando esse passado servirá como pontapé para voltar ao ringue? 

Creed III (EUA – 2023)
Direção: Michael B. Jordan
Roteiro: Keenan Coogler, Zach Baylin (baseado numa história de Ryan Coogler)
Elenco: Michael B. Jordan, Tessa Thompson, Jonathan Majors, Wood Harris, Phylicia Rashad, Mila Davis-Kent
Duração: 116 min

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