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Crítica | Crimes em Palmetto

A decadência moral num ambiente repleto de perversões

por Leonardo Campos
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Crimes em Palmetto

Ventiladores de teto ilustram a fervura dos ambientes por onde circulam mulheres perigosas e mortais, repórteres com histórico de alcoolismo, detetives incompetentes e inquietações oriundas dos cadáveres que ficam empilhados ao passo que as coisas vão acontecendo de maneira opressiva para os envolvidos em nas tramas geralmente cheias de reviravoltas. Assim é o filme noir e Crimes em Palmetto é um de seus exemplares, infelizmente, ineficaz diante da proposta audaciosa que se embola da metade ao desfecho, com sobreposição de acontecimentos que o roteiro, a direção e o elenco não conseguem controlar para entregar aos espectadores uma trama minimamente crível.

Lançado em 1998, uma era profícua para esse tipo de material, haja vista a quantidade de narrativas cinematográficas do tipo, o filme dirigido pelo alemão Volker Schlondorff tem alguns bons momentos, mas o resultado final se torna comprometido pelo excesso de manobras de um texto que segue a cartilha do gênero ao pé da letra, isto é, mulheres ambíguas e inescrupulosas, homens acossados pelo sistema e por essas figuras fatais e misteriosas, crimes inseridos em situações rocambolescas, dentre outras características típicas do universo em questão. Aqui, temos a trajetória de Harry (Woody Harrelson), um jornalista “correto” que descobre esquemas de corrupção em sua cidade e, ao deflagrar nomes importantes da economia e da política local, logo é envolvido numa teia de falcatruas e é levado para a prisão.

Algum tempo depois, um juiz decide absolver o inocente homem, revoltado e decidido a recuperar os seus dias perdidos no encarceramento. Uma de suas ânsias é recomeçar em outro lugar, bem longe de Palmetto e suas ciladas, afinal, a sua luta contra o sistema é complicada, pois a cidade é tecida por uma extensa malha de coligações criminosas. Seria algo como “um contra todos”, proposta que não o anima muito. Ele acaba cedendo por causa de Nina (Gina Gherson), sua cuidadosa namorada, mulher que o convence a ficar e encontrar forças dentro de si mesmo. Ele cede, mas um caminho de tentações se estabelece em sua estrada rumo ao recomeço. Certo dia, enquanto distraia em um bar, ele se depara com uma enigmática e sensual mulher. O lugar que está já é em si uma tentação, afinal, o nosso herói abandonou a bebida e o cigarro há algum tempo. Ela acende um cigarro, bebe algo, sai e supostamente esquece a sua bolsa.

Curioso e em busca de ser correto, ele parte em busca da mulher que logo descobriremos, é Rhea (Elisabeth Shue). Entre cigarros e conversas, ela o arrasta com seu canto malicioso disfarçado de parceria. A ideia é direta e objetiva, diferente da maneira na qual o plano será executado, confuso e cheio de peculiaridades para tornar a narrativa mais complexa do que de fato é. O projeto é sequestrar Odette (Chloe Sevigny), a filha de Felix (Rolf Hoope), um homem acometido pelo câncer que é só obstáculo na vida destas mulheres cruéis e sem escrúpulos. Ao tentar a extorsão de U$500 mil, Harry poderia sair com 10% da quantia e seguir a sua vida de maneira mais tranquila.

O que ele não sabe é que as mulheres da história possuem planos maiores. E ele pode não ser parte dos privilégios que serão disponibilizados pela grana suja. Dentre os contratempos, o grupo responsável por orquestrar o assalto não se dá conta do mordomo da casa, além de ter como desafio, a presença de Harry com dupla função no processo, pois o investigador responsável pelo sumiço da jovem o encarrega de fazer a cobertura da história. Agora, o próprio sequestrador assume o papel de principal fonte de transmissão das informações midiáticas sobre o caso. O criminoso, agora, está na frente de todos, mas ninguém sabe. Caricata, a situação renderia um filme espetacular, caso bem escrito e dirigido. Com roteiro de E. Max Frye, baseado num romance de James Hadley Chase, Crimes em Palmetto é cheio de intenções, mas mal concebido.

Em seus 112 minutos, a direção de fotografia de Thomas Kloss capricha na iluminação que aproveita o melhor da atmosfera costeira da Flórida, ambivalente por aqui, com belos lugares, habitados por pessoas de má conduta. Alguns efeitos de luz e sombra emulam o clima noir clássico, somados aos espelhos e demais objetos do design de produção de Claire Jenora Bowin, elementos que contribuem para a caracterização esperada de uma narrativa que faz um tributo, mesmo que muito irregular, ao gênero que cristalizou as mulheres fatais na história do cinema ao longo do século XX. A trilha sonora de Klaus Doldinger também se esforça, mas não há muita escapatória para Crimes em Palmetto, um noir contemporâneo que reforça a ideia da mulher como um duplo caminho na vida de homens errôneos, isto é, a glória ou a desgraça total. Um filme abaixo da média quase bom, pecaminoso por subaproveitar o seu potencial temático.

Crimes em Palmetto (Palmetto, EUA – 1998)
Direção: Volker Schlöndorff
Roteiro: James Hadley Chase, E. Max Frye
Elenco: Woody Harrelson, Elisabeth Shue, Gina Gershon, Rolf Hoppe, Michael Rapaport, Chloë Sevigny, Tom Wright, Marc Macaulay
Duração: 114 min

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