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Crítica | CSI: Cyber – A Série Completa

Abordagem genérica, mas empolgante, de casos investigativos envolvendo crimes cibernéticos.

por Leonardo Campos
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Como apontado no documentário do cineasta alemão Werner Herzog, CSI Cyber é uma série sobre “os delírios do mundo conectado”. Observe: brinquedos sexuais, comprados na internet, para casais em relacionamento a longa distância, podem conter vírus capazes de destruir reputações, tão insano quanto um hacker que utiliza a impressora conectada para causar, do conforto de sua mesa sádica, em seu esconderijo, incêndios criminosos. Tão absurdo, mas real, é um subversivo manipulador de redes que espalha notícias falsas sobre a morte de um rapaz negro, causando uma onda de comoção coletiva numa cidade, num embate entre policiais e civis capaz de transformar o tecido social num delicado e perigoso espaço de circulação. No âmbito da mobilidade urbana, como lidar com automóveis também conectados com a virtualidade, capazes de funcionar até mesmo sem o seu condutor plugado no banco do motorista? Mais próximos ainda da realidade estão os nossos segredos e confidências, supostamente guardados em nossos e-mails, mas perigosamente acessados por audaciosos hackers. São muitos os tópicos temáticos, muitos deles, abordados ao longo dos episódios de 40 minutos das duas temporadas de CSI Cyber, produção derivada do universo investigativo de CSI, a famosa narrativa seriada sobre a caçada do FBI contra criminosos nas ruas estadunidenses.

Aqui, com todas as licenças necessárias para uma produção ficcional que preconiza a ação e o suspense, sem precisamente retratar a realidade, encontramos um grupo de agentes em busca de resolução para crimes cibernéticos, todos excessivamente escabrosos. A liderança fica por conta de Avery Riley (Patricia Arquette), uma mulher firme e inteligente, que vive exclusivamente para o trabalho, motivada pelo passado cheio de tragédias: um hacker perigoso invadiu o seu sistema, acessou dados de seus pacientes e ocasionou a morte de um deles, problema que ainda é somado ao luto pela morte de sua filha num terrível acidente, acontecimento que desdobrou na separação do marido e na reclusão da personagem, focada na caçada contra situações situadas na esfera virtual que acometem a vida de cidadãos no cotidiano físico, desde caso de roubos e invasões aos pedófilos, estupradores, dentre outros. A sua figura ficcional foi inspirada no trabalho da cyber psicóloga irlandesa Mary Aiken, uma referência mundial neste campo de ação, ponto de partida da realidade para a formatação desta série exibida entre 2015 e 2016.

Sábia em sua liderança, ela agrupa em sua equipe dois jovens criminosos que cumprem suas penas, mas que podem reduzir as suas sentenças trabalhando na unidade cibernética, num trabalho colaborativo que permitirá nova significação para as suas respectivas cidadanias. São eles Brody Nelson (Shad Moss) e Raven Ramirez (Hayley Kiyoko), obviamente os estereótipos que as produções estadunidenses veneram, isto é, o rapaz negro e a moça latina, levados ao mundo do crime, mas recuperados pelo sistema, em suma, uma via de mão dupla no discurso da série criada por Anthony E. Zuiker, Carol Mendelson e Ann Dohanie. Ainda compõe a equipe Elijah Mundo (James Van Der Beek), o braço direito de Avery, segundo agente no comando, especializado em armamentos e bombas, acometido pelo casamento em ruínas e o câncer que devasta a vida de seu pai, situações que perpassam vagamente o roteiro focado na investigação cibernética, mas que são colocadas em cena para tentativa de humanização dos personagens.

A protagonista viaja por todo o país para resolução das questões criminais, geralmente obtendo resultados favoráveis, com pouquíssimos casos que se desdobram para além de mais de um episódio. Sua equipe também alcança bons resultados com o apoio de Daniel Krummitz (Charley Kaontz), especialista que fornece as suas contribuições na área técnica, uma presença fundamental no trabalho desenvolvido pelo setor cibernético do FBI. A jornada destes personagens é acompanhada pela direção de fotografia de Marshall Adams e seus enquadramentos ousados, emulados da linguagem virtual, concebendo imersão no campo da virtualidade constantemente, trabalho aliado aos efeitos visuais que põem em cena, a dividir o quadro com os personagens, algoritmos, representações das redes sociais, aplicativos, etc. Ademais, o design de produção da dupla formada por Vaughan Edwards e Roland Rosenkranz também estabelece espaços milimetricamente pensados para colocar os espectadores dentro de um clima cibernético, da cenografia aos adereços da direção de arte. Em linhas gerais, é uma produção envolvente em seus primeiros episódios, transformada num produto mais genérico do meio para o final, eficiente como entretenimento ligeiro e capaz, sim, mesmo com os seus excessos e limitações, exercer reflexões sobre a nossa dependência diante da conexão que domina a era da virtualidade e cria a dependência que tem trazido os tantos problemas identificados em pesquisas sobre comportamento humano nos últimos anos.

Apesar dos mencionados excessos, em especial na rapidez da solução de situações que levariam muito mais tempo para se estabelecer (não esqueça, no entanto, que ficção trabalha com elipses), CSI Cyber se adequa aos necessários momentos de conveniência de sua fluência narrativa, mas também traz um panorama de ocorrências tenebrosas que de acordo com a nossa realidade, não estão acopladas apenas nas possibilidades excepcionais do entretenimento: aqui, temos o sequestro de um bebê ocasionado após uma invasão cibernética, a ação de um psicopata que controla o sistema de um parque de diversões e estabelece o horror para os que se divertem numa montanha-russa, o aplicativo de transportes que traz um perigoso assassino na condução do volante, os segredos mais íntimos de personagens importantes da vida política do país, expostos após o acesso aos dados dos cadastros destes indivíduos após hospedagem num renomado hotel, a chamada invasão de hospitalidade, além da morte de determinadas pessoas nas redes sociais, quando de fato estas figuras ainda estão vivas, mas seus registros dizimados por hackers, numa demonstração de um momento em nossas vidas que o famoso vírus cavalo de troia parece apenas uma pequena brincadeira diante da dificuldade e da dimensão rizomática da ação de criminosos na esfera virtual, necessária, mas também perigosa.

CSI: Cyber – A Série Completa (CSI: Cyber – EUA, 2015-2016)
Criação: Ann Donahue, Carol Mendelsohn, Anthony E. Zuiker
Roteiro: Ann Donahue, Carol Mendelsohn, Anthony E. Zuiker, Pam Veasey, Craig S. O’Neill, Matt Whitney, Devon Greggory, Andrew Karlsruher, Scott McKnight, Carly Soteras, Richard Catalani
Direção: Eriq La Salle, Rob Bailey, Howard Deutch, Jeff T. Thomas, Eagle Egilsson, Alec Smight, Allan Arkush, Matt Earl Beesley, Janice Cooke, Anton Cropper, Kate Dennis, Dermott Downs, Paul Holahan, Nathan Hope, Jerry Levine, Richard J. Lewis, Aaron Lipstadt, Louis Shaw Milito, Brad Tanenbaum, Alex Zakrzewski, Shiopp Sudduth, Frederick E.O. Toye, Maja Vrvillo, Vikki Williams
Elenco: Patricia Arquette, James Van Der Beek, Shad Moss, Charley Koontz, Hayley Kiyoko, Ted Danson, Peter MacNicol
Duração: 40 a 44 min (31 episódios, cada)

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