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Crítica | Curtas de Charles Chaplin (1915) – Parte 1

por Luiz Santiago
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O presente bloco de textos traz críticas para sete curtas-metragens de Charles Chaplin realizados entre fevereiro e abril de 1915.

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Seu Novo Emprego

estrelas 4

Seu Novo Emprego é uma marca na carreira do ator e diretor britânico Charles Chaplin. Ele inicia uma fase mais madura em sua filmografia, após uma longa lista de “curtas de aprendizado” dirigidos por ele nos Estúdios Keystone, em 1914.

Além de ser a estreia do diretor na Essanay, Seu Novo Emprego é o único filme que o diretor dirigiria nas dependências desse Estúdio em Chicago, voltando em seguida para a Califórnia.

A base do roteiro é a metalinguagem. Carlitos vai até um escritório de um estúdio de cinema e se dispõe a fazer uma entrevista de emprego. As situações cômicas que aparecem, desde a sua chegada na sala de espera até as enormes e hilárias dificuldades de produção de um filme à época — especialmente tendo alguém como Carlitos no elenco ou equipe técnica — são o verdadeiro primor do curta, que, além de nos divertir, nos dá uma visão interessante sobre produção, star system, posição de um diretor de cinema e eventos de bastidores de um filme nos anos 10. É claro que temos essas questões dentro de um patamar de ficção, mas conhecendo bem o Primeiro Cinema, encontramos em Seu Novo Emprego uma crônica hilária sobre a realização cinematográfica em seu tempo.

Seu Novo Emprego (His New Job) – EUA, 01/02/1915
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin, Louella Parsons
Elenco: Billy Armstrong, Agnes Ayres, Gloria Swanson, Arthur W. Bates, Robert Bolder, Frank J. Coleman, Charles Inslee, Charlotte Mineau, Jess RobbinsCharles J. Stine
Duração: 31 min.

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Carlitos se Diverte

estrelas 3,5

Que fique estabelecido uma coisa: se tem algo que Carlitos não faz nesse curta é se divertir. Ao menos não é essa a versão que eu tenho de uma pessoa se divertindo, o que me faz questionar com algum medo o que pensava a pessoa ou companhia brasileira que colocou o título nacional desse filme.

Se comparado ao curta anterior, Carlitos se Diverte está aquém da qualidade e encanto que poderia ter um filme de Chaplin, mas mesmo assim é um bom filme e uma obra com um marco histórico, porque traz o início da parceria de Chaplin com a atriz Edna Purviance, que estrelaria seus filmes pelos 8 anos seguintes!

Como é um curta problemático, cheio de erros de continuação e caos para todos os lados, o espectador precisa ter um olhar mais terno e menos sério para que possa aproveitá-lo melhor. Se for assim, todas as falhas e a grande quantidade de coisas nonsenses farão sentido dentro de sua proposta e, claro, serão perfeitamente contextualizadas ao conceito de comédia slapstick que Chaplin realizava.

Carlitos se Diverte (A Night Out) – EUA, 15/02/1915
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Charles Allen Dealey, Frank Dolan, W. Coleman Elam, Edna Purviance, Earl Esola, Eddie Fries, Fred Goodwins, Madrona Hicks, Bud Jamison, Daniel P. Kelleher
Duração: 34 min.

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Campeão de Boxe

estrelas 3,5

Com dois fatores de bastante apelo junto ao público (o boxe e o cachorrinho de estimação que salva o dono em um momento de dificuldade), Campeão de Boxe tem uma fama justificada. O filme realmente cativa o espectador, mesmo que o obrigue a algumas repetições cênicas desagradáveis e certos acavalamentos de imagem que Chaplin já tinha começado a superar a essa época. Contudo, é um curta divertido e com cenários diversos, o que de certa forma acaba por diminuir o impacto das repetições em torno da trama central, um problema essencialmente do roteiro, mas cujo impacto no cômputo do filme é determinante.

Campeão de Boxe (The Champion) – EUA, 11/03/1915
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Edna Purviance, Gilbert M. ‘Broncho Billy’ Anderson, Billy Armstrong, Lloyd Bacon, Bill Cato, Frank Dolan, W. Coleman Elam, Eddie Fries, Bud Jamison, Daniel P. Kelleher, Paddy McGuire
Duração: 31 min.

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Carlitos no Parque

estrelas 4

Há uma grande semelhança entre esse filme e Carlitos e o Relógio (1914), ao menos no sentido do espaço cênico e as situações interpretadas pelo personagem de Chaplin. Aqui, ele vagueia pelo parque e encontra alguns casais paquerando. O roteiro vai exatamente pelo mesmo caminho trilhado em 1914, mas o foco principal aqui não é o roubo de um relógio, mas o roubo ou furto de várias coisas e um melhor desenvolvimento em relação ao teor amoroso da comédia.

Há situações absurdas, mas todas são bem engraçadas e com certeza cabíveis dentro dessas comédias-pastelão. Chaplin já apresentava aqui pitadas de crítica social, algo que também já víramos em Campeão de Boxe, mas o roteiro de Carlitos no Parque não dá destaque para esse lado. Ainda era cedo para vermos em tela um Chaplin, além de cômico, humanista e crítico.

Carlitos no Parque (In the Park) – EUA, 18/03/1915
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Edna Purviance, Leona Anderson, Billy Armstrong, Lloyd Bacon, Bud Jamison, Ernest Van Pelt, Leo White
Duração: 14 min.

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Carlitos Quer Casar

estrelas 3

O grande problema desse filme é a montagem, que, de maneira ainda pior que aquela apresentada em Carlitos no Parque, atrapalha o bom desenvolvimento das sequências, corta cenas e não continua suas situações, acavala blocos de eventos e não corrige os erros que o roteiro teve ao acrescentar cenas de isopor no meio da história.

Aqui, Carlitos se faz passar por um Conde para se casar com Edna, seu grande amor. O problema é que o verdadeiro Conde chega à casa do pai da garota ainda quando o “jantar de negócios” terminava, toda a confusão que era de se esperar tem início. O curta-metragem até que começa muito bem, mas aos poucos, se desvia de um caminho econômico e limpo de comédia para mostrar coisas que claramente não fariam falta se tivessem sido retiradas durante a montagem.

Entendemos que se trata de uma obra do Primeiro Cinema e que os curtas tinham edições acavaladas e “cenas demais”, mas já podíamos, em abril de 1915, ver curtas que Chaplin que não possuíam esses problemas, de modo que é lícito apontarmos tais falhas não apenas como “um sinal de seu tempo”, mas como algo que não foi bem realizado por um realizador que já tinha feito coisa melhor. Mesmo assim, Carlitos Quer Casar não é um filme ruim. O espectador ri muito durante a sessão, mas em contraparte, não deixa de sentir um pouco de vergonha alheia em relação a certas escolhas técnicas e cômicas do diretor.

Carlitos Quer Casar (A Jitney Elopement) – EUA, 01/04/1915
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Edna Purviance, Lloyd Bacon, Fred Goodwins, Bud Jamison, Paddy McGuire, Carl Stockdale, Ernest Van Pelt, Leo White
Duração: 26 min.

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O Vagabundo

estrelas 3,5

Por mais que este filme tenha alguns problemas problemas de roteiro — como má administração de duas fases dramáticas, a dos bandidos e a do vagabundo — ele é de extrema importância para a filmografia de Chaplin. Foi aqui que o ator e diretor lançou oficialmente o seu personagem favorito, o Vagabundo, e se distanciou notavelmente da atmosfera slapstick que esteve presente em suas obras anteriores.

Pela primeira vez temos o Carlitos/Vagabundo sofrendo de amores e também um final triste em cena. Esse fotograma que destaquei no início da crítica, a última cena do filme, nos mostra o protagonista partindo da fazenda porque não conseguiu lidar com uma situação que lhe magoava mais do que não ter o que comer e não ter onde morar. Como disse, era a primeira vez que Chaplin entrava de cabeça em um ambiente social e humano. Ele já vinha dando indícios disso em outros curtas (vide Carlitos no Parque) mas foi aqui que estabeleceu um novo parâmetro para suas produções.

É claro que isso não significa que todos os files dali em diante tivessem essa tristeza, mas, aos poucos, os espectadores de Chaplin precisaram se adaptar a roteiros que se aproximavam mais da dura realidade da vida — especialmente para os excluídos da sociedade — do que do entretenimento por si só.

O Vagabundo (The Tramp) – EUA, 11/04/1915
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Edna Purviance, Billy Armstrong, Lloyd Bacon, Bud Jamison, Paddy McGuire, Ernest Van Pelt, Leo White
Duração: 26 min.

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Carlitos à Beira-Mar

estrelas 4,5

Depois de sua fase nos Estúdios Keystone, Charles Chaplin tinha uma “novo começo” em sua nova casa, a Essanay, onde estreou com o curta-metragem Seu Novo Emprego. Trabalhando em novas locações e readaptando sua proposta de comédia levada a cabo no Estúdio anterior, o diretor nos trazia agora um tipo de diversão que marcaria melhor a sua obra futura, adaptando situações cotidianas mais prováveis e com melhor mão na direção.

É isso que percebemos em Carlitos à Beira-Mar, uma comédia leve e hilária, além de muitíssimo bem dirigida, sobre o vagabundo Carlitos em conflito com dois esposos e de paquera com as respectivas esposas. O filme traz coisas simples em cena (chapéus ao vento, sorvetes na cara, trombadas e quedas), ou seja, muito do que Chaplin já estabelecera em filmes anteriores, mas, o grande mérito aqui é que todos esses pontos recebem uma boa montagem, boa coreografia para a comédia física e boa direção, elementos conjuntos que não víamos assim tão frequentemente em seus filmes de 1914.

Carlitos à Beira-Mar (By the Sea) – EUA, 29/04/1915
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Billy Armstrong, Ed Armstrong, Bud Jamison, Paddy McGuire, ‘Snub’ Pollard, Edna Purviance, Margie Reiger
Duração: 14 min.

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