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Crítica | Curtas de Charles Chaplin (1916) – Parte 1

por Ritter Fan
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O presente bloco de críticas traz breves comentários sobre cinco dos dez curtas de Charles Chaplin lançados em 1916, incluindo sua impressionante adaptação de Carmen, seu último trabalho no Essanay Studios e seus três primeiros trabalhos na Mutual Film Corporation:

Os Amores de Carmen

estrelas 5,0

2 chaplin - carmen final

Por mais improvável que seja, Os Amores de Carmen é mesmo uma versão de Charles Chaplin para Carmen, conto de  Prosper Mérimée adaptado famosamente por Bizet em forma de ópera. E o mais interessante é que Cecil B. DeMille havia feito sua versão logo antes, em 1915, e a de Chaplin é uma paródia dessa versão específica, com direito até a figurinos iguais. Apesar de ser tecnicamente um curta de 1915, ele foi remontado em 1916 é essa a versão objeto da presente crítica.

Nela, Don José é Darn Hosiery (Chaplin), oficial espanhol que é seduzido pela cigana Carmen para permitir que seu povo entre em Sevilha com contrabando. É surpreendente a fidelidade – guardadas as devidas proporções, claro! – com a obra original e com o filme de DeMille, além do cuidado com os detalhes da produção, especialmente direção de arte e figurino, além do uso de uma enorme quantidade de extras que povoam a sequência da taverna.

Vale especial destaque para o final, que, por alguns segundos, destoa completamente de tudo da carreira de Charles Chaplin, com boa carga dramática. Mas só por alguns segundos… Sem dúvida, um dos melhores curtas da carreira do ator/diretor/roteirista/produtor.

Os Amores de Carmen (Burlesque on Carmen) – EUA, 1916
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Edna Purviance, Jack Henderson, Leo White, John Rand, May White
Duração: 31 min.

Carlitos Policial

estrelas 4,5

2 chaplin - policial

Chaplin vive um ex-condenado que acaba de sair da prisão e tenta se adaptar à vida “lá fora” somente para ser rapidamente tragado de volta para uma vida de crime, ajudado por um falso pastor que furta todo seu dinheiro. A temática é bastante séria, com críticas sociais fortes mesmo que, claro, a premissa seja apenas uma desculpa para um bom uso de situações cômicas envolvendo a tentativa de furto, em conjunto com seu ex-companheiro de cela, de uma casa de uma mulher rica por quem Chaplin desenvolve sentimentos nobres.

O que é interessante ver, aqui, é a multiplicidade de cenários, com sequências em dois cômodos da casa, no quarteirão ao redor, com um uso discreto de extras, o que permite o foco em Chaplin, Edna Purviance e Wesley Ruggles, que funcionam muito bem em cena. É mais um trabalho estilo pastelão de Chaplin, mas que tem um roteiro bem desenvolvido e um cuidado especial na produção.

Carlitos Policial (Police) – EUA, 1916
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Edna Purviance, Wesley Ruggles, James T. Kelley, Leo White, John Rand
Duração: 26 min.

Carlitos no Armazém

estrelas 3

2 chaplin - floorwalker final

Carlitos no Armazém (que não é um armazém e sim uma loja de departamentos) é o primeiro trabalho de Chaplin na Mutual Film Corporation, depois do término de sua relação com o Essanay Studios. E, dizem, é o primeiro filme a mostrar uma “escada rolante” em funcionamento que, claro, é utilizada para fins de comédia pastelão.

No entanto, é engraçado notar que o “potencial cômico” da escada rolante é pouco desenvolvido e até discreto, não gerando momentos muito inspirados, apesar de ser a peça central do cenário primário do curta. A história é simples, com Chaplin, no papel do “vagabundo”, criando confusão em uma loja de departamentos e envolvendo-se na roubalheira do gerente, vivido com divertido exagero por Eric Campbell.

Mais do que a presença da escada rolante, o curto é notável por introduzir uma sequência que seria infinitamente repetida em dezenas e dezenas de outros filmes: o espelho sem espelho. O personagem de Chaplin se parece muito com outro personagem do curta e os dois, quando dão um de frente para o outro, acham que estão diante de um espelho, com movimentos de um que são repetidos pelo outro. É um momento curto e pouco elaborado, mas memorável pelo ineditismo.

Carlitos no Armazém (The Floorwalker) – EUA, 1916
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Edna Purviance, Eric Campbell, Lloyd Bacon , Albert Austin, Charlotte Mineau
Duração: 24 min.

Carlitos Bombeiro

estrelas 4

2 chaplin - o bombeiro

Segundo trabalho na Mutual Film, Carlitos Bombeiro diverte muito ao abordar as trapalhadas de Chaplin como um bombeiro logo no começo da projeção, com sua inação quando o alarme toca que gera exageros de ação por parte dele quando qualquer outra sineta toca dali em diante. Mas o roteiro, que envolve um homem que combina com o chefe dos bombeiros (novamente o imponente Eric Campbell em papel bem exagerado) um incêndio em sua casa para fraudar o seguro, demora a decolar e há uma espécie de vazio na segunda metade da projeção.

Quando o incêndio falso e outro verdadeiro começam, aí o ritmo melhora, culminando em um fantástico resgate que envolve a escalada da parede externa de um prédio por Chaplin, em uma sequência que claramente inspiraria Harold Lloyd, em 1923, com seu inigualável O Homem Mosca.

Carlitos Bombeiro (The Fireman) – EUA, 1916
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Edna Purviance, Eric Campbell, Lloyd Bacon , Albert Austin, Leo White, John Rand
Duração: 24 min.

O Vagabundo

estrelas 4,5

2 chaplin - o vagabundo 3

Antes de começar a crítica, um aviso: esse O Vagabundo, de 1916, não é o mesmo que o filme homônimo (em português), também de Chaplin, de 1915. O objeto da presente crítica é The Vagabond e não The Tramp, que é literalmente um sinônimo de vagabond.

Desfeita qualquer dúvida, vale também lembrar que, apesar de serem filmes diferentes, ambos podem ser considerados como precursores de obras mais melancólicas de Chaplin encarnando o adorável personagem que criou. No entanto, diferente do “outro” O Vagabundo, esse de 1916 tem um roteiro mais amarrado, com Chaplin primeiro fazendo uso forte de sua veia cômica ao aparecer como um violinista de rua que, sem intenção, pega a esmola que seria dada a uma banda que começa a tocar quase ao lado de seu “ponto”. Indo para o campo, porém, a narrativa foge do pastelão puro e simples e faz com que o personagem de Chaplin salve e, subsequentemente, se envolva com uma cigana (Edna Purviance), por quem, claro, se apaixona.

Mal sabe ele – e ela – que essa cigana, que tem o retrato pintado por um jovem que aparece no campo e que atrai os olhares da moça, é herdeira de uma rica senhora, que a reconhece na pintura com uma marca de nascença. Esqueça a verossimilhança. O importante, aqui, é olhar para o “vagabundo” e suas ternas reações, especialmente o discreto movimento com o qual recusar receber dinheiro da senhora como pagamento por ter achado sua filha perdida. É uma daquelas fitas que, apesar de curta, aquece corações.

O Vagabundo (The Vagabond) – EUA, 1916
Direção: Charles Chaplin
Roteiro: Charles Chaplin
Elenco: Charles Chaplin, Edna Purviance, Eric Campbell, Lloyd Bacon , Leo White, Charlotte Mineau
Duração: 26 min.

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