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Crítica | Curtas do Oscar 2021: Animação

por Kevin Rick
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No seguinte compilado, você encontrará críticas de todos os indicados a categoria de Melhor-Curta Metragem em Animação do Oscar 2021 em ordem alfabética.

 

Genius Loci

O curta francês, dirigido por Adrien Merigeau, é de longe o filme mais pessoal desse compilado, no qual o cineasta parece exteriorizar seus pensamentos e sentimentos mais abstratos na obra completamente surreal e psicodélica que é Genius Loci. A personificação audiovisual de um bad trip.

A narrativa, se é que podemos chamar de narrativa, acompanha a francesa Reine, uma mulher vagando na subjetividade da (ir)realidade nas ruas de Paris. Numa série de simbolismos e arte abstrata, vemos a protagonista ser engolida, modificada e transformada por seus entornos. Exagerando nas formas geométricas, no cubismo e na aquarela, o curta é uma série de sequências imagéticas que emulam pinturas, sempre em constante metamorfose.

Desde uma viagem proporcionada por drogas ou doença mental, é praticamente impossível delinear os significados ou motivos da obra, com Adrien abraçando a confusão como núcleo do filme. Uma bela jornada existencial em um coletivo colorido, abstrato e cheio de simbolismo. Arte em movimento.

Genius Loci (França, 2020)
Direção:
Adrien Merigeau
Roteiro: Adrien Merigeau
Elenco: Nadia Moussa, Georgia Cusack, Jina Djemba
Duração: 15 min.

 

Opera

 

Dirigido por Erick Oh, antigo animador da Pixar, Opera proporciona o tipo de confusão contrária de Genius Loci, pois parte de uma questão racional, histórica e humana, ainda que também seja puramente simbólica. O curta nos apresenta uma gigante pirâmide do Mundo, cheio de “quartos” e andares com diferentes aspectos e momentos da humanidade. Apesar de contar com apenas 8 minutos de duração, é o tipo de filme que a gente pausa, retorna e assiste novamente para poder entender e pegar cada simbologia do diretor.

A pirâmide emula uma multiplicidade de temas sociais, mas em linhas gerais é um filme sobre a História. Vemos a diferença de poder à medida que a câmera desce pela pirâmide, transcorrendo diferentes níveis de classes sociais, onde a mais baixa, o proletariado, o miserável, o escravo, constrói incansavelmente os alicerces daqueles no topo. Além disso, a variação insana de eventos acontecendo ao mesmo tempo é um sensacional exercício visual renascentista para as doenças da sociedade.

Fanatismo, diferenças sociais, guerra, poluição, entre várias enfermidades da humanidade estão em constante loop em uma grande alegoria sobre poder, capitalismo e História. No grande jogo da vida, Opera navega na podridão da evolução humana, e mais importante ainda: na repetição. Um curta épico completamente hipnotizador.

Opera (EUA, 2020)
Direção:
Erick Oh
Roteiro: Erick Oh
Duração: 8 min.

 

Se Algo Acontecer… Te Amo

De longe o mais famoso curta animado indicado ao Oscar 2021, Se Algo Acontecer… Eu Te Amo, dirigido e roteirizado pela dupla Michael Govier e Will McCormack, foi lançado na Netflix com um sucesso global bastante desproporcional para obras dessa classe. Muito disso se dá pela temática universal do luto tratada no filme sem ser emocionalmente apelativa.

Apesar da pequena duração, a obra se desenrola em camadas misteriosas para explicitar o motivo da desconexão e tristeza do casal em foco, a qual descobrimos ser a morte precoce de sua filha. O retrato do pesar e da aflição parental nessas situações é bastante palpável pela maneira que a animação exterioriza o interno dos personagens com sombras, podendo ser emoções, almas ou memórias. Mas independente da denominação, o sucesso está na realidade versus o interno, que passa uma dura dinâmica de como expressamos e como verdadeiramente nos sentimos, especialmente nesse arrebatador caso de perda.

Dispondo de uma animação 2D escura, e com o estilo de sketch, num esboço direto e cru da tragédia, a dolorosa jornada do casal é sentida com mais fervor através da poderosa falta de limite em animações. Formas artísticas que ressoam o trauma, e uso de cores que realçam contrastes emocionais sem a necessidade de diálogo. O final nos apresenta o motivo, e faz uma ponte de crítica política ao uso de armas estadunidense e os eventos trágicos de tiroteios em escolas causadas por essa liberdade armamentista nos EUA. É um jeito interessante de fechar o curta, e busca uma mensagem para além do luto e para trazer reflexão de um problema real, mas, para mim, a força do filme está no eco comum da perda.

If Anything Happens… I Love You (EUA, 2020)
Direção:
Michael Govier e Will McCormack
Roteiro: Michael Govier e Will McCormack
Duração: 12 min.

 

Toca

Aprendendo-se o valor do comunal diante da terra compartilhada. Esse é o objetivo moral do curta 2D, que utiliza sua estética de animação muito mais para contar uma história sobre animais e embelezar a narrativa sobre natureza do que explorar algo mais dramático sobre esse impacto problematizante do individualismo. O grande problema do protagonista coelho não é apenas querer fazer algo sozinho, ou morar isolado dos outros animais escavadores do solo, se baseia muito mais na vergonha de pedir ajuda e instinto de concorrência comparativa. Esse é o efeito fabular, nos quesitos dos escritores de fábula La Fontaine e Esopo, que conflitam o conto da natureza antropomórfica com o contemporâneo.

Dessa forma, o que o curta mais incita em sua simplicidade é a descoberta, uma espécie de aventura trágica que força o efeito “epifânico” do coelho pedir ajuda para construir sua casa. Como de costume em fábulas, a personalidade dos animais, ou a tentativa de alinhar biologicamente teores sentimentais, caracterizam o conflito. Os coelhos anseiam por ambientes calmos e tranquilos, por isso sua dificuldade de aceitar a noção comunal do complexo de tocas de vários animais diferentes, quase uma cidade embaixo da terra. Porém, o maior mais interno é o comparativo de inferioridade, em que a noção de solitude ou manter-se isolado em perspectivas individualistas não causam mal, mas a personalidade do coelho de se envergonhar do seu projeto de casa, além de não querer pedir ajuda por medo de constrangimento, é o que, afinal, causa vexame emocional ao coelho apenas em sua individualidade insegura.

Infelizmente o curta-metragem trabalha, como de praxe, a verossimilhança da Pixar. No entanto, essa construção 2D em torno dessa narrativa de fábula naturalmente se torna associativa à realidade, faltando um proveito da forma animada do quadro a quadro desenhado para maior efeito dramático sem depender da trilha sonora. Se por um lado o 2D acelera os movimentos na sensação de traço por traço, é o bom trabalho da montagem que contribui para que a qualidade narrativa usurfrua desse detalhismo sem soar apenas paisagismo naturalista. Muito do curta se perde por apostar na rapidez como artifício cômico, quando são as cenas escritas, nessa animação sem diálogos, que frutificam um curta moral-social com apelo emocionante de fato.

 Escrito por: Davi Lima

Burrow (EUA, 2020)
Direção: Madeline Sharafian
Roteiro: Madeline Sharafian
Duração: 6 minutos

 

Yes-People

Dentre os indicados a esta categoria do Oscar, o islandês Yes-People, do diretor Gísli Darri Halldórsson, me parece o maior “estranho no ninho” do grupo, tanto do ponto de vista visual, como da mensagem da obra. O filme nos leva por uma jornada cotidiana de um casal de meia-idade, uma mãe solteira com dois filhos e uma dupla divertida de idosos… com todos falando (sim) incessantemente durante os 8 minutos do curta.

Todas as sequências dos três núcleos familiares da trama são baseadas na ordinariedade do dia-a-dia humano. O twist do sim é um artifício para manter o silêncio e simplicidade das experiências comuns dos personagens, deixando o foco para a imagem cômica, e de certa forma trágica, do cotidiano. E a simpática obra assume a rotina como foco da história, possivelmente buscando alguma discussão com a audiência sobre a procura de significado na vida, ou então simplesmente dialogando sobre o nada e os aborrecimentos mundanos que ditam nossa vida diária.

A animação que aparenta ser stop-motion, mas é na verdade CG, também trabalha o ideal do habitual e de situações domésticas como linguagem do curta, no qual Gísli Darri cria uma obra tão humana, que a própria subjetividade da arte é deixada para escanteio, dando vida ao tédio rotineiro. Existe o começo bacana de um estudo social, mas o filme acaba sendo igual ao habitual: chatinho.

Já-Fólkið (Islândia, 2020)
Direção:
Gísli Darri Halldórsson
Roteiro: Gísli Darri Halldórsson
Duração: 8 min.

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