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Crítica | Curtas-metragens de Darren Aronofsky

por Guilherme Coral
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Após terminar seus estudos, Darren Aronofsky caiu de cabeça na direção, realizando quatro curtas-metragens, que funcionaram mais como aprendizado do que efetivamente prova do que ele seria capaz. Infelizmente, por não termos encontrado Supermarket Sweep ou Protozoa, somente pudemos trazer as críticas de duas dessas suas obras iniciais, Fortune CookieNo Time, cujas análises vocês podem ler logo abaixo. Ao terminarem de ler os textos, não se esqueçam de comentar!

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Fortune Cookie

Lançado logo após Aronofsky ter concluído seus estudos, Fortune Cookie distancia-se bastante dos trabalhos posteriores do diretor, tanto na temática, quanto na execução, algo mais que compreensível, considerando que esta é a sua primeira empreitada na direção. A obra nos traz a história de um vendedor, já há mais de três meses sem conseguir vender nada. No desespero, após a ameaça de ser mandado embora, ele acaba acreditando nos dizeres de uma mensagem encontrada dentro de um biscoito da sorte. Ao conseguir suas primeiras vendas em tempos, o vendedor passa a acreditar que a fonte de sua fortuna é justamente o tal biscoito e passa a repetir o ritual dia após dia, não se dando conta de sua crescente obsessão por esse objeto de sorte.

Embora possamos observar traços do foco no psicológico de seus personagens, algo que tomaria conta da filmografia do diretor, Fortune Cookie não segue por uma via dramática e sim arrisca-se na comédia, com humor pastelão, repleto de atuações exageradas que, em momento algum, conseguem, de fato, nos fazer rir. É como se Aronofsky ainda tentasse se encontrar, algo que se torna bastante visível ao passo que os momentos mais engajantes da obra são justamente aqueles que abandonam o humor a fim de construir a fixação do vendedor pelo biscoito (e a mensagem). Chega a ser agoniante como, tanto ele, quanto seus colegas de trabalho, sequer consideram o efeito moral de uma mensagem motivacional, questão que dialoga, naturalmente, com o aumento das vendas do sujeito.

Mesmo nesse ponto, porém, a obra apenas arranha a superfície e o roteiro de Hubert Selby Jr. prefere gastar mais tempo com intermináveis diálogos entre o protagonista e outro vendedor, que constantemente zomba dele, do que efetivamente construir seus personagens. Dito isso, temos um protagonista raso, que somente pode ser caracterizado pela obsessão em relação ao seu ritual que antecede as vendas. Não demora muito, pois, para que o curta nos canse, especialmente considerando o incômodo trabalho de decupagem realizado por Aronofsky, que constantemente utiliza planos em primeira-pessoa – aspecto que busca nos colocar na posição de consumidor perante o vendedor, mas que funciona apenas para quebrar nossa imersão, tornando perceptível cada corte e mudança de ângulo.

Por outro lado, podemos notar claramente uma das marcas das posteriores produções do diretor logo nesse primeiro curta. Refiro-me a alguns trechos com montagem de videoclipe, com planos curtos encadeados de forma dinâmica, resumindo ações de maneira frenética. Esse aspecto, por si só, vale a experiência para aqueles que desejam conhecer a trajetória do realizador, visto que possibilita enxergar os primórdios de sua linguagem cinematográfica. Em essência, contudo, esse nada mais é que um trabalho amador, que deixa a desejar no roteiro e direção, mas que já oferece um vislumbre do que o diretor se tornaria anos mais tarde.

Fortune Cookie — EUA, 1991
Direção:
Darren Aronofsky
Roteiro: Hubert Selby Jr.
Elenco: Nina Bauer, Peter Chen, Dean Cleverdon, Stanley B. Herman,  Rob Monroe,  Richard Morrison
Duração: 32 min.

No Time

Lançado três anos após seu primeiro curta, No Time, ao mesmo tempo que soa como um trabalho mais amador que Fortune Cookie, apresenta mais similaridades com os posteriores filmes de Aronofsky. O que temos aqui são inúmeras esquetes de humor nonsense, durando, cada uma, pouco mais de um ou dois minutos. Essas não apresentam qualquer similaridade temática, além do já citado nonsense que toma conta do roteiro, assinado por Robert Dylan Cohen, Chas Mastin, Billy Portman e Alissa Rosen.

O que nos faz enxergar essa como uma obra de Aronofsky é a presença de elementos surrealistas, os quais se fariam presentes, em peso, no futuro cinematográfico do diretor. A própria premissa, de abandono da lógica linear, assemelha-se à posteriores produções de Aronofsky, ainda que essa seja uma comédia e não um drama. É seguro dizer que o diretor ainda estava em processo de encontrar sua linguagem, mas, ao menos, sua direção evoluiu consideravelmente de seu primeiro curta para esse, que não traz mais o desconforto dos personagens olhando para a tela.

A montagem também apresenta os traços do realizador, especialmente nas transições entre cada esquete. O grande problema está no humor em si, que novamente soa exagerado, com atuações mais que forçadas, não permitindo que sejamos imersos na narrativa em qualquer momento. Trata-se de uma obra para ver com o cérebro desligado, algo que jamais esperaríamos experimentar quando se trata da filmografia de Aronofsky.

No fim, temos uma obra que não acrescenta em absolutamente nada e que sequer bem-humorada consegue ser, mas que, novamente, serve como experiência para quem deseja conhecer toda a carreira de seu diretor.

No Time — EUA, 1994
Direção: 
Darren Aronofsky
Roteiro: Robert Dylan Cohen, Chas Mastin, Billy Portman, Alissa Rosen
Elenco: Robert Dylan Cohen, Chas Mastin, Billy Portman, Alissa Rosen, Andrea Shreeman
Duração: 23 min.

 

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