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Crítica | Curupira: O Demônio da Floresta

Lenda indígena transformada num irregular conto de horror demoníaco.

por Leonardo Campos
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Juro que a sessão de Curupira: O Demônio da Floresta foi esperada com muita ansiedade, tamanha a projeção desta lenda em minha formação, nos trabalhos escolares e na curiosidade em torno de sua magnitude assustadora e, ao mesmo tempo, fabulosa. Sem exibição em todos os eixos brasileiros, o filme teve limitações em sua distribuição, o que aumentou ainda mais as expectativas, haja vista seu lançamento em 2021, mas conferência para esta crítica apenas por agora. Confesso que me esforcei bastante para ir na contramão dos discursos sobre a produção, hegemônicos diante da constatação de sua ineficácia narrativa. Queria provar o contrário, elaborar uma tese, descrever como nossa crítica é sádica e tomada pelo complexo de vira-lata, numa valorização constante ao que é de fora, em detrimento dos esforços em nosso sistema de produção que tem investido cada vez mais em filmes de terror autenticamente brasileiros.

Deu até vontade de escrever uma carta para Erlanes Duarte, tendo em vista justificar meu texto, pois a cada cena da narrativa, a minha constatação era apenas uma: não há possibilidade alguma de defesa para Curupira: O Demônio da Floresta. O elenco não está legal, falta a retirada daquele ranço do desempenho dramático teatral e a incursão numa performance exclusivamente cinematográfica. Não me importo com efeitos visuais e acho até que a criatura em cena funciona, mas o desenvolvimento da trama é muito irregular, os personagens não possuem carisma, a presença da entidade naquele espaço não convence, tampouco o seu desenrolar enfadonho desta produção maranhense que tentou, mas naufragou em sua tentativa de estabelecer um elo interessante entre a perspectiva demoníaca cristã com a enigmática lenda indígena.

Por este motivo, o filme foi acusado de racismo religioso e enfrentou a caudalosa onda do cancelamento por parte de estudiosos e líderes indígenas, incomodados com a abordagem associativa entre demônios e a entidade folclórica que é conhecida por preservar as florestas e assegurar a sobrevivência dos animais, em linhas gerais, um espírito protetor, aqui transformado num monstro slasher que aniquila um a um dos integrantes de um grupo que decide passar um momento diletante na Ilha do Medo, lugar onde habita a criatura aterrorizante. Neste final de semana, Cauã (Ruan do Vale), Beto (André Bakka), Diana (Rosanna Mualem), Carol (Lina Granda), Jessica (Carol Cunha) e Marcos (Al Danuzio) estão reunidos para se divertir. Atravessam de barco e chegam ao local já destratando a natureza. Brincam com um jabuti, tratam o animal de qualquer jeito e com distanciamento, o Curupira observa, pronto para a vingança.

Um casal já havia sumido misteriosamente. Os créditos de abertura revelam este desaparecimento, deixando a entender que a ida dos jovens para a ilha vai dar no mesmo. Lá, a noite cai, o barco deles é desamarrado e uma série de infortúnios começa a acontecer, reforçando que dificilmente eles conseguirão voltar com vida para as suas existências anteriores. O número de mortes cresce e com o grupo diminuto, resta saber quem a entidade da floresta vai poupar nesta jornada de sangue, registrada pela eficiente direção de fotografia, um setor competente e assertivo em seu trabalho, bem como a trilha sonora (ruim apenas quando insere heavy metal deslocado) e a edição que tenta fazer ajustes em Curupira: O Demônio da Floresta, uma busca vã, pois o grande problema da trama não é a sua jornada deturpada do mito, nem o design da criatura, mas a concepção dos personagens e o desenvolvimento dos conflitos. É tudo muito genérico, sem emoção, econômico em criatividade e mais focado em emular fórmulas estrangeiras do gênero a que se filia. Pelo que podemos interpretar, há planos para uma continuação? Se for o caso, que siga o exemplo das sequências que superam seus originais.

Curupira: O Demônio da Floresta — Brasil, 2021
Direção: Erlanes Duarte
Roteiro: Erlanes Duarte
Elenco: André Bakka, Ruan do Vale, Carol Cunha, Al Danuzio, Flávia Barroso
Duração: 80 min.

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