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Crítica | Curvas da Vida

por Ritter Fan
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Curvas da Vida é mais um filme americano sobre esportes, especificamente sobre o beisebol, que, como a grande maioria das obras desse subgênero dramático feita por Hollywood, sabe exatamente em que teclas apertar para emocionar o espectador. No entanto, o primeiro longa em que Clint Eastwood atua sem dirigir desde sua ponta em Gasparzinho  em 1995 (ou, se quisermos falar de papel de verdade, desde 1993, no excelente Na Linha de Fogo) exagera nesse “apertar de teclas”, com o roteiro de Randy Brown (seu primeiro de até agora dois) não sendo muito mais do que uma sucessão maniqueísta de clichês.

Mas o filme não é o horror que o parágrafo inicial pode dar a entender. Seu maior valor é o elenco estelar, especialmente a maravilhosa química entre Eastwood, no papel do veteraníssimo olheiro de beisebol Gus e Amy Adams como Mickey, filha dele e advogada que está em plena disputa para tornar-se sócia do escritório em que trabalha. Orbitando ao redor deles, há, ainda, participações de Justin Timberlake, novamente provando-se eficiente como ator na pele do ex-jogador e olheiro novato Johnny e o sempre agradável John Goodman como Pete Klein, chefe direto e amigo de Gus, que o defende contra Phillip Sanderson, vivido por Matthew Lillard e que pretende substituir Gus por frias análises computadorizadas.

Se a oposição entre o novo e o velho é o tema macro do longa, o destaque mesmo fica na relação entre pai e filha dos protagonistas, que conta com revelações a conta gotas sobre o passado dos dois – que, admito, cansam um pouco – e na maneira como o choque entre gerações é abordado. Eastwood e Adams, juntos, carregam sozinhos o filme e têm os melhores momentos, especialmente a forma como os atores vão deixando ruir as barreiras psicológicas erigidas há décadas por seus personagens. Há verossimilhança nesse relacionamento mesmo que tenhamos que suportar os “mistérios” sobre o passado deles e a atuação da dupla de atores é, na medida em que o filme exige, emocionante, com a jovialidade de Adams confrontando as reservas e a imutabilidade de hábitos de Eastwood que, claro, mais uma vez vive o tipo de personagem que o caracteriza já há algum tempo.

No entanto, como mencionei, a sucessão de eventos é óbvia. Mas não um óbvio bom, pois eu mesmo sou o primeiro a defender que um filme não precisa depender de surpresas, reviravoltas surpreendentes e coisas do gênero, pois isso é um artifício que tem a tendência de se tornar a razão de ser dos filmes. O ponto é que, em Curvas da Vida, tudo é maniqueísta, telegrafado no primeiro segundo. Vejam, por exemplo, o choque entre os métodos frio e estatístico de Sanderson e humano e experiente de Gus, que são tratados como inconciliáveis e auto excludentes, algo que só deixa evidente exatamente cada passo que acontecerá a partir dali, inclusive a “descoberta” de último minuto de Mickey.

A direção de Robert Lorenz, sua primeira – ainda que ele tenha tido experiência como diretor assistente em diversos projetos de Eastwood – é apenas burocrática, mas ele sabe em quem repousar sua câmera, dando espaço para o elenco principal mostrar a que veio. É inegável que o material que ele tinha para trabalhar em termos de roteiro estava longe do ideal, mas seu trabalho de forma alguma tenta ir além do básico, algo que se repete na fotografia Tom Stern, mesmo que o diretor de fotografia já tenha tido oportunidade de apresentar grandes obras, como é o caso de Cartas de Iwo Jima.

O quanto Curvas da Vida é eficiente em sua proposta dependerá do grau de aceitação das diversas conveniências de roteiro que levam a um final todo fechadinho e bonitinho talvez demais, isso depois de uma sucessão de clichês episódicos. Há diversão aqui, não tenham dúvida, especialmente na conexão entre Amy Adams e Clint Eastwood, mas ela é fugaz, desaparecendo logo ao final dos créditos.

Curvas da Vida (Trouble with the Curve – EUA, 2012)
Direção: Robert Lorenz
Roteiro: Randy Brown
Elenco: Clint Eastwood, Amy Adams, Justin Timberlake, Matthew Lillard, Jack Gilpin, John Goodman, Robert Patrick, Scott Eastwood, Ed Lauter, Chelcie Ross, Raymond Anthony Thomas, Matt Bush, George Wyner, Bob Gunton, Tom Dreesen, James Patrick Freetly, Joe Massingill, Jay Galloway, Sammy Blue
Duração: 111 min.

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