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Crítica | Cyborg: O Dragão do Futuro

por Ritter Fan
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Cyborg: O Dragão do Futuro é um filme importante para mim, por mais incrível que isso possa parecer. Foi o longa que assisti no cinema com amigos na véspera da prova mais importante do vestibular mais importante que tínhamos que enfrentar e nosso nervosismo era extremo. Ver a trasheira estrelada por Jean-Claude Van Damme como um mercenário e bom coração que ajuda uma ciborgue a chegar em Atlanta em um mundo pós-apocalíptico nos permitiu explodir em risadas insanas que chegaram próximas de nos levar à expulsão do cinema e a mitigar nossas apreensões ao ponto de nos sentirmos mais estáveis para o fatídico – e, já digo, bem-sucedido – dia seguinte.

Portanto, por mais que eu reconheça a abissal qualidade desse filme – que, acreditem, foi o “plano B” da Cannon Group que estava para produzir Mestres do Universo 2 e o que teria sido o primeiro live-action do Homem-Aranha!!! – ele tem um lugar especial em meu coração e nem como guilty pleasure, mas algo acima disso, algo que me remete a uma época realmente importante em minha vida ainda adolescente. Portanto, perdoem-me por não ser tão destruidor assim na nota final…

Mas vamos ao filme que marca o retorno de Van Damme ao protagonismo depois de O Grande Dragão Branco. Trata-se de um daqueles futuros pós-apocalípticos de baixo orçamento que poderia muito bem ter sido filmado em um lixão qualquer, com figurinos também retirados do mesmo lugar, já que o resultado é tão genérico, tão sem graça que só mesmo com muita boa vontade podemos aceitar o longa como algo mais do que alguém com uma câmera de mão seria capaz de filmar em lugar particularmente feio e decaído. Só que isso faz parte da trasheira geral da coisa toda e é perfeitamente aceitável daquele jeito despretensioso de ser.

O mesmo vale para o elenco. Não sei se consigo dizer que tem algum “ator” ali sem rir copiosamente, mas sem dúvida Van Damme se esforça para ser mais do que um sujeito completamente inexpressivo que luta caratê ou sei lá o que mais. Ele tem até a oportunidade de viver duas versões de seu personagem, uma com um rabo de cavalo em uma série de curtos flashbacks que vêm a conta-gotas para criar uma rima narrativa mínima e dar estofo a Gibson Rickenbacker (esse é o nome completo dele) e outra no presente, de cabelo curto e consideravelmente mais calada. Mas os problemas começam justamente nessa tentativa de entregar ao “ator” algo mais complexo para fazer, já que o preço cobrado por isso é a diminuição radical da única coisa que ele realmente sabe fazer bem: lutar. São poucos momentos assim que não só são espaçados demais, como contam com uma coreografia fraca, cansada, que a direção de Albert Pyun, mestre do filme B, não valoriza em momento algum. A única sequência que poderia, talvez, com muita boa vontade, ser chamada de memorável, é quando Gibson é crucificado e escapa de lá chutando a cruz…

O restante do elenco é apenas hilário. Ninguém se salva. Claro que o grande vilão, Fender Tremolo (Vincent Klyn) é especialmente ruim e, por isso mesmo, especialmente engraçado a ponto de fazer a atuação de Brian Thompson em Stallone Cobra parecer algo digno de Oscar. E a coisa consegue ficar pior ainda quando somos “brindados” com uma tentativa de efeitos especiais práticos para a ciborgue do título, vivida por Dayle Haddon, que resulta em sequências de puro pavor e choque para o espectador tamanha é podridão da coisa.

Mas, de novo, tudo isso faz parte, menos a diminuição das lutas para abri espaço para Van Damme “atuar”, o que esvazia o filme do que poderia ser seu diferencial, como foi o caso de O Grande Dragão Branco. Além disso, por mais especialista que Pyun seja com filmes dessa “categoria”, ele é um diretor muito ruim na pior das hipóteses, com um comando nulo de composição de cena, total incapacidade de montar sequências sem despedaçar o ritmo narrativo e, como já disse, um zero à esquerda ao tentar capturar o pouco de pancadaria marcial que o longa tem. O que ele faz é o mínimo dos mínimos e eu fico imaginando o cineasta, de toga, deitado em um divã romano decadente, comendo uvas pelo cacho, enquanto dá ordens aleatórias aos seus súditos no set de filmagem. Por que é isso: o filme transparece pura preguiça.

Cyborg: O Dragão do Futuro (claro que tinha que ter um subtítulo nacional que faz referência ao título nacional do filme mais famoso de Van Damme, mas que não se conecta com o ciborgue de forma alguma) é o suprassumo da trasheira feita nas coxas com orçamento pífio. Poderia pelo menos ser tão ruim que é bom, mas, a não ser que haja alguma razão para esse filme ser especial para alguém, como é o meu caso, ele é tão ruim que é péssimo mesmo.

Cyborg: O Dragão do Futuro (Cyborg – EUA, 1989)
Direção: Albert Pyun
Roteiro: Albert Pyun (como Kitty Chalmers)
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Deborah Richter, Vincent Klyn, Dayle Haddon, Alex Daniels, Blaise Loong, Ralf Möller, Haley Peterson, Terrie Batson, Jackson ‘Rock’ Pinckney
Duração: 86 min.

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