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Crítica | Daimajin

por Ritter Fan
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Filmado simultaneamente com suas duas continuações que foram lançadas no mesmo ano, Daimajin é o primeiro capítulo de um épico sessentista nipônico de Kimiyoshi Yasuda que mistura filmes de samurai com os de kaiju, muito na moda a época e até hoje em dia. Interessantemente, considerando que os longas de monstro são normalmente de baixo orçamento, com efeitos especiais práticos bastante simples, Daimajin surpreende por não só conter um trabalho técnico de alto gabarito que dá vida à estátua de um deus protetor de um vilarejo na província de Tanba, mas que, melhor ainda, é apenas um detalhe em um drama de época que consegue ter vida mesmo sem o artifício “espetaculoso”.

Neste primeiro filme, enquanto os habitantes do vilarejo fazem um festival liderado pela sacerdotisa Shinobu (Otome Tsukimiya) para acalmar seu deus, o ambicioso guerreiro Ōdate Samanosuke (Ryūtarō Gomi) trai seu lorde Hanabusa Tadakiyo (Ryūzō Shimada) e organiza um bem-sucedido golpe de estado, tomando o poder em seguida. No entanto, o valente samurai Kogenta (Jun Fujimaki) consegue fugir com o casal de filhos de seu lorde, Tadafumi (Yoshihiko Aoyama quando adulto) e Kozasa (Miwa Takada quando adulta) que, com a ajuda da sacerdotisa, passam a viver em uma caverna nas montanhas próxima à gigantesca estátua de Daimajin. Em uma econômica elipse temporal, dez anos se passam e Habusa, próximo de seu aniversário de 18 anos, sabendo que os camponeses do reino de seu pai foram basicamente escravizados pelo vilanesco Samanosuke, começa a organizar seu retorno.

Não é, muito claramente, uma história terrivelmente original, mas o que realmente chama a atenção é a qualidade da produção como um todo. Trata-se de um jidaigeki – drama de época – muito cuidadoso na reconstituição do período feudal japonês, com cenários realistas, seja o vilarejo empobrecido, a mata idílica, o castelo do senhor feudal e figurinos variados, caracterizando muito bem os níveis hierárquicos do local. A lenda do deus encapsulado em uma gigantesca estátua de pedra em uma floresta proibida fica como pano de fundo quase que o tempo todo, mesmo que a atmosfera da narrativa, inclusive a bela fotografia noturna, não deixe o espectador esquecer do potencial kaiju. Mas, curiosamente, o longa não depende da criatura mítica para fazer sua história mais, digamos, terrena funcionar. A linha narrativa de vingança de crianças órfãs contra os assassinos de seus pais permanece intacta mesmo considerando a inevitável aparição do gigante ao final.

E, quando ele aparece, faltando algo como 20 a 25 minutos para o longa acabar, sua presença, por já ter sido longamente trabalhada no filme, não destoa do que foi estabelecido antes e, melhor ainda, os efeitos práticos e de câmera que dão vida ao monstro conseguem ser melhores do que uma grande percentagem dos filmes de kaiju da época, com um excelente uso de miniaturas, uma criatura-estátua que convence significativamente mais do que os lagartos emborrachados, mariposas de pelúcia e alienígenas de macacão de vinil e um raro cuidado com a manutenção das proporções, ainda que com problemas evidentes aqui e ali.

Apesar de ser a primeira parte de uma trilogia filmada simultaneamente, o longa não é, de forma alguma, dependente de uma continuação, já que o roteiro de Tetsurô Yoshida entrega uma história completa, com começo, meio e fim que é autossuficiente inclusive na construção da mitologia da criatura que dá nome ao filme. Considerando que os preparativos já haviam sido feitos para lançar as sequências nos meses seguintes do mesmo ano, esta é, sem dúvida alguma, outra boa surpresa que Daimajin oferece aos espectadores.

Daimajin ( 大魔神/Daimajin – Japão, 1966)
Direção: Kimiyoshi Yasuda
Roteiro: Tetsurô Yoshida
Elenco: Miwa Takada, Masako Morishita, Yoshihiko Aoyama, Hideki Ninomiya, Jun Fujimaki, Otome Tsukimiya, Ryūtarō Gomi, Ryūzō Shimada, Tatsuo Endō, Saburō Date, Shosaku Sugiyama, Hideo Kuroki, Shizuhiro Izoguchi, Gen Kimura, Keiko Kayama, Eigorō Onoe, Chikara Hashimoto
Duração: 84 min.

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